Moraes diz esperar que Trump reverta sanções e critica influência de aliados de Bolsonaro
Ministro afirmou que confia na diplomacia e em divisões internas no governo dos EUA para suspender punições impostas por Washington

Reuters
O ministro do Supremo Tribunal Federal (STF) Alexandre de Moraes afirmou à Reuters que espera uma mudança de postura do presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, para reverter as sanções impostas a ele. Segundo Moraes, há falta de consenso dentro de órgãos do governo norte-americano sobre as medidas.
As declarações ocorrem em meio à escalada da tensão bilateral. Trump exigiu o fim do julgamento do ex-presidente Jair Bolsonaro, acusado de tentar um golpe de Estado em 2022, classificando o processo como "caça às bruxas". O republicano elevou tarifas sobre produtos brasileiros em 50% e determinou sanções financeiras contra Moraes, medidas que têm preocupado bancos no Brasil.
+Itamaraty pede visto para Padilha participar de eventos nos Estados Unidos
Apesar do cenário, Moraes disse estar confiante de que as sanções serão revertidas pela via diplomática ou, se necessário, em tribunais nos EUA. “É plenamente possível uma impugnação judicial, mas eu aguardo a questão diplomática entre Brasil e Estados Unidos”, declarou, em entrevista na noite de terça-feira (20), em seu gabinete em Brasília.
O ministro afirmou que o bloqueio de suas finanças pessoais pouco afetou sua rotina, que inclui treinos de boxe, artes marciais e a leitura do livro Liderança, de Henry Kissinger.
Moraes também atribuiu parte do desgaste internacional a uma campanha de aliados de Bolsonaro, incluindo o deputado Eduardo Bolsonaro (PL-SP), investigado por buscar a interferência de Trump no processo contra o pai.
+ "Adultização é tema que saiu das telas e ganhou as ruas", diz Motta
Segundo Moraes, divisões internas no governo norte-americano retardaram a decisão sobre as sanções. “Houve relutância na Secretaria de Estado e no Tesouro. Acredito que, com informações corretas, ambos vão levar ao presidente essa finalidade”, disse, sem detalhar a origem das informações.
Um funcionário do Departamento de Estado, em condição de anonimato, confirmou à Reuters que as sanções enfrentaram resistência de servidores de carreira. “O que fizeram com Moraes é legalmente inapropriado. O OFAC (Escritório de Controle de Ativos Estrangeiros), inicialmente, disse que não era adequado de forma alguma”, afirmou.
Já o Tesouro rebateu, em nota, que “a administração Trump está em total concordância de que Alexandre de Moraes cometeu graves abusos contra os direitos humanos”. O porta-voz acrescentou que o ministro brasileiro deveria “parar de realizar detenções arbitrárias e processos judiciais com motivação política”.
Procurado pela Reuters, o Departamento de Estado não se manifestou.