Lula critica riqueza de bilionários e programas espaciais privados: 'não precisamos ir para Marte'
Na Suíça, presidente diz ainda que "mão invisível" do mercado agrava desigualdades sociais no mundo
O presidente Luiz Inácio Lula da Silva voltou a defender a taxação de bilionários ao criticar a concentração de riqueza desses empresários, nesta quinta-feira (13). Ele participou da 112ª Conferência Internacional do Trabalho (CIT - OIT), um fórum sobre justiça social realizado em Genebra, na Suíça.
Segundo Lula, as 3 mil pessoas mais ricas do mundo concentraram fortuna de US$ 15 trilhões, o que representa a soma do Produto Interno Bruto de Japão, da Alemanha, da Índia e do Reino Unido. Essa quantia, de acordo com o brasileiro, é mais do que o necessário para os países em desenvolvimento lidarem com as mudanças climáticas.
“A concentração e renda é tão absurda que alguns indivíduos possuem seus próprios programas espaciais. Certamente tentando encontrar um planeta melhor que a Terra, para não ficar no meio dos trabalhadores que são responsáveis pela riqueza deles. Não precisamos buscar saída em Marte, é a Terra que precisa do nosso cuidado, ela é a nossa casa”, disse.
Durante o discurso, Lula ainda voltou a criticar o setor financeiro mundial e disse que a “mão invisível do mercado” é responsável por gerar desigualdades sociais.
“É preciso recuperar o papel do estado como planejador do desenvolvimento é uma tarefa urgente. A mão invisível do mercado só agrava a desigualdade, e o crescimento da produtividade não tem sido acompanhado da melhoria dos salários, gerando insatisfação e polarização”, disse Lula, que foi ovacionado na entrada do evento e em diversos trechos do discurso.
“Não se pode discutir economia e finanças sem discutir emprego e renda. Precisamos de uma nova globalização, de face humana. A justiça social e a luta contra as desigualdades são uma das prioridades da presidência do Brasil no G20 (no Rio de Janeiro, em novembro). Fiz questão de convidar a OIT (Organização Internacional do Trabalho) para contribuir com as discussões do grupo”, afirmou.
A fala de Lula sobre a arquitetura financeira mundial é semelhante a outra declaração feita por ele, nesta quarta-feira (12), em outro fórum internacional, realizado no Rio de Janeiro. O mercado não reagiu bem, o que levou a uma alta do dólar.
Ocupar o espaço da extrema-direita
Lula também falou que os setores progressistas e populares – ligados às esquerdas – e democráticos de modo geral devem recuperar o discurso “anti-hegemônico”, hoje dominado, segundo ele, pela extrema-direita.
“A contestação à ordem vigente não pode ser privilégio da extrema-direita a bandeira anti-hegemônica precisa ser recuperada pelos setores populares, progressistas e democráticos”, disse.
O presidente já havia discursado de forma semelhante, nesta quarta-feira (12), mas as declarações foram mal recebidas pelo mercado, impactando na alta do dólar. No entanto, Lula voltou a falar sobre o assunto durante reunião na OIT.
Lula também mencionou o governo do ex-presidente Jair Bolsonaro como contrário à democracia e lembrou que a gestão anterior foi investigada pela Organização Internacional do Trabalho (OIT) por violar regras da entidade. Segundo o presidente da República, os setores radicais que atacam as instituições democráticas implicaram, historicamente, “perdas de direitos”.
“Não é mera coincidência que meu país foi investigado por violar normas desta organização no governo anterior. O extremismo político ataca e silencia minorias, negligencia os mais vulneráveis e vende muita ilusão. A negação da política deixa vácuo a ser preenchido por aventureiros que espalham mentiras e ódio”, concluiu.
Amazônia
O presidente da República também voltou a defender que países ricos precisam pagar a conta para manter as florestas de pé e que a COP30, que será realizada em Belém em 2025, marcará a oportunidade de a Amazônia falar ao mundo o que ela deseja.
"Embaixo de cada copa de árvore existem indígenas, pescadores, seringueiros e uma pessoa precisando de salário. Por isso os países ricos precisam pagar a conta para que os pobres possam cudiar da Amazônia. As florestas tropicais não são um santuário para o deleite da elite global. Tampouco pode ser tratada de depósito de riquezas a ser exportada. Debaixo de cada árvore alguma pessoa precisa de salário, renda e saúde. É isso que, nós, governantes, precisamos pensar quando a gente quer preservar a Amazônia".