Fraudes no INSS: governo pretende assumir controle de CPMI para rebater oposição
PT avalia apoiar Comissão Parlamentar Mista de Inquérito e tomar postos chaves

Rafael Porfírio
Na estrada da política, o governo do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) viu que o bloqueio seria inviável. A oposição colocou no caminho uma Comissão Parlamentar Mista de Inquérito (CPMI) para investigar as fraudes no Instituto Nacional do Seguro Social (INSS), com mais de 250 assinaturas e apoio suficiente para furar qualquer pneu governista. A solução? Ao invés de bater de frente ou tentar dar ré, a base aliada fez o retorno e agora tenta assumir o controle da comissão.
Até semana passada, o plano do governo era o de pressionar parlamentares para retirarem assinaturas e impedir a criação da CPMI. Mas com o presidente do Senado e Congresso Nacional, Davi Alcolumbre (União Brasil-AP) indicando que o caminho estava livre demais para ser bloqueado, os aliados do Planalto recalcularam a rota. O novo destino? Garantir a presidência e, principalmente, a relatoria da CPMI. O nome que aparece no GPS do governo é o da deputada Tabata Amaral (PSB-SP).
+ Investigados pela CPI da Covid voltam a aparecer em esquema de fraude no INSS
O senador Rogério Carvalho (SE), líder do PT no Senado, reforçou essa guinada de rota com discurso afinado.
"Na condição de líder do PT, nós vamos defender que o partido participe dessa CPI. Mas não uma CPI para avaliar e fazer disputa e palanque eleitoral, mas para investigar e apontar os responsáveis e botar na cadeia aqueles que roubaram aposentados e pensionistas do INSS", declarou durante audiência da Comissão de Transparência, que, nessa quinta-feira (15), recebeu o ministro da Previdência Social, Wolney Queiroz.
Na prática, o governo tenta transformar um possível acidente político numa chance de dirigir a narrativa e quem sabe estacionar a crise em um terreno mais favorável.
+ Até o fim do século, envelhecimento da população pode pressionar INSS a déficit de 11% do PIB
Do outro lado da estrada, o senador Eduardo Girão (Novo-CE), um dos condutores do pedido de CPMI, disse que o Planalto tenta repetir uma velha prática: tomar conta da CPI para esvaziá-la politicamente ou ao menos desviar a atenção para um retrovisor que aponta para o ex-presidente Jair Bolsonaro (PL).
"Só espero que não sabotem, não boicotem como fizeram na CPMI do dia 8 de janeiro, quando tomaram a presidência, tomaram a relatoria, para não deixar aprovar o requerimento de quebra de sigilo e de uma série de situações", destacou o senador.
O ministro da Previdência, Wolney Queiroz, até ligou o pisca-alerta. Disse não ser contra a criação da Comissão, mas teme que ela possa interferir no trabalho do Executivo.
"Temo que a investigação parlamentar possa atrapalhar as apurações em andamento ou até mesmo atrasar o ressarcimento das vítimas", afirmou.
O regimento comum do Congresso Nacional é claro: com a assinatura de pelo menos um terço dos deputados e um terço dos senadores, a Comissão Parlamentar Mista de Inquérito está automaticamente instituída.
A instalação da CPMI deve ocorrer apenas em junho, após a leitura do requerimento em sessão marcada para 27 de maio. Mas Alcolumbre, em uma tática mais sutil, pode adiar a sessão conjunta do Congresso.
Enquanto isso, a oposição tenta colar o escândalo no governo. Já os aliados de Lula aceleram para ocupar os espaços e garantir que, se a estrada está esburacada, ao menos esteja do lado do motorista e, não, no banco de trás.