Cúpula do PT cobra mudança na Abin, mas Lula resiste
Atual chefe da Agência Brasileira de Inteligência, Luiz Fernando Corrêa, ficou próximo do presidente na primeira campanha do petista

Nathalia Fruet
A cúpula do Partido dos Trabalhadores (PT) e integrantes do governo Luiz Inácio Lula da Silva passaram a defender a demissão do atual chefe da Agência Brasileira de Inteligência (Abin), Luiz Fernando Corrêa, e do número 2 da agência, Alexandre Moretti.
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A avaliação entre os petistas é que a permanência de Corrêa na agência ficou insustentável depois que veio a público detalhes de uma reunião em março do ano passado quando os dois principais dirigentes da Abin tiveram encontro com servidores investigados no esquema de grampo ilegal, que é apurado pela PF.
Durante a reunião, segundo relatório da PF, o número 2 da Abin teria tranquilizado os investigados e sugerido que a apuração era apenas para acalmar o ministro do STF Alexandre de Moraes e que eles não seriam punidos.
Petistas já haviam reclamado da postura de Corrêa no ano passado, porque foi ele quem defendeu que Alexandre Moretti tivesse o segundo cargo mais importante na agência. Moretti também é delegado da Polícia Federal e aliado do ex-ministro da Justiça, Anderson Torres.
Petistas sustentam que a principal preocupação de Luiz Fernando Corrêa seria proteger policiais federais sem avaliar o risco de fazer gestos a quem serviu ao ex-presidente Jair Bolsonaro (PL). Emissários da cúpula do partido estão sondando potenciais candidatos ao cargo.
Apesar dos apelos de integrantes do PT e até mesmo de parte da equipe do governo, o presidente Lula resiste, porque a relação dele com Luiz Fernando Corrêa é antiga, vem desde 2002 quando o policial federal fez parte da equipe de segurança da campanha de 2002.
Desde então, até mesmo nos momentos de maior crise com a PF, Luiz Fernando Corrêa acabava sendo um conselheiro do presidente da República. O atual chefe da Abin foi secretário nacional de Segurança Pública entre 2003 e 2007. No segundo governo Lula ele foi diretor-geral da Polícia Federal entre 2007 e 2011. Já na gestão Dilma Rousseff (PT) , atuou entre 2011 e 2016, na equipe de segurança dos Jogos Olímpicos do Rio de Janeiro.
Petistas relembraram que quando Corrêa dirigiu a PF ele não despachava com o então ministro da Justiça, Tarso Genro, mas direto com o presidente Lula.
O SBT News procurou o atual chefe da Abin, que não respondeu aos questionamentos.
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Em nota enviada na noite de quinta-feira, a Abin informou que, há 10 meses a atual gestão "vem colaborando com inquéritos da Polícia Federal e do Supremo Tribunal Federal sobre eventuais irregularidades cometidas no período de uso de ferramenta de geolocalização, de 2019 a 2021". O documento ressalta que a agência "é a maior interessada na apuração rigorosa dos fatos e continuará colaborando com as investigações".