Bolsonaro: "É loucura falar em golpe com um general da reserva e cinco oficiais militares"
Ex-presidente faz ilações sobre atuação do TSE na eleição de 22. Ele e outros 36 foram indiciados por golpe de Estado e abolição violenta do Estado Democrático
Yumi Kuwano
Paola Cuenca
O ex-presidente Jair Bolsonaro (PL), indiciado na última quinta-feira (21) pela Polícia Federal, disse que a palavra "golpe" nunca esteve em seu dicionário e que "é uma loucura falar em golpe com um general da reserva e cinco oficiais militares". A declaração foi dada na noite desta segunda (25), em entrevista a jornalistas no aeroporto, durante a sua chegada a Brasília para se encontrar com os advogados que cuidarão da sua estratégia de defesa.
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Foi sua primeira entrevista coletiva após ser indiciado pelos crimes de abolição violenta do Estado Democrático de Direito, golpe de Estado e organização criminosa. O caso ainda será analisado pela Procuradoria Geral da República e, em caso de denúncia, pelo Supremo Tribunal Federal.
Ele negou ter conhecimento sobre qualquer plano de golpe, classificou a situação como extremamente grave e afirmou que as "acusações são terríveis".
"Vou dar agora uma opinião: Essas historinha de assassinato de autoridades, no meu entender, foi jogado pra dar uma demonstração de que 'olha, jogamos fora das quatro linhas'. Eles jogaram. Mas foi pra evitar um mal maior. (...) nada foi iniciado. Não podemos querer punir agora crime de pensamento, crime de opinião", declarou o ex-presidente.
Quando questionado se se sentia perseguido, o ex-presidente disse que sim. "Eu sou perseguido o tempo todo. Eu posso ser preso ao sair daqui. E você também", completou. Ao lado dele estavam aliados do seu partido, como os deputados Eduardo Pazuello, Lenildo Sertão — conhecido como Delegado Caveira —, Júlia Zanatta, Luciano Zucco, Rodolfo Nogueira e Altineu Côrtes, além dos senadores Flávio Bolsonaro e Rogério Marinho.
Bolsonaro voltou a fazer ilações de que o Tribunal Superior Eleitoral (TSE), na época presidido pelo ministro Alexandre de Moraes, teria influenciado na eleição de 2022, quando foi derrotado por Luiz Inácio Lula da Silva (PT). Sem apresentar provas, como de costume, ele sugeriu que a campanha que a corte fez para incentivar o voto de jovens pesou favoravelmente ao petista.
O ex-presidente também questionou o fato de que seus advogados ainda não tiveram acesso ao inquérito. Um de seus defensores, Paulo Cunha Bueno, disse que espera que a Procuradoria Geral da República tenha toda cautela ao analisar a investigação.
O ex-presidente já havia se pronunciado sobre o assunto em uma live, no sábado (23), onde chamou as investigações de "chifre em cabeça de cavalo". Ele disse também que as recentes prisões de militares de alta patente próximos a ele foram injustas.
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Bolsonaro estava há uma semana de férias com a esposa Michelle Bolsonaro em São Miguel dos Milagres, em Alagoas, na casa do ex-ministro do Turismo, Gilson Machado.
Plano investigado pela PF
Ao todo 37 pessoas, incluindo Bolsonaro, foram indiciadas pelos crimes de golpe de Estado, abolição violenta do Estado Democrático de Direito e organização criminosa, todos por envolvimento no golpe contra o governo de Luiz Inácio Lula da Silva (PT), além do plano de matar o presidente Lula, o vice, Geraldo Alckmin, e o ministro do STF Alexandre de Moraes.
Na lista da PF, além do ex-presidente, estão nomes de ex-integrantes do governo e de militares do alto escalão do Exército. Foram indiciadas oito pessoas que tiveram cargos durante o governo de Jair Bolsonaro, entre 2018 e 2022. Quatro militares e um policial federal foram presos na Operação Contragolpe da PF no último dia 19.
O julgamento do caso pode ocorrer em 2025, a depender da tramitação do processo. O próximo passo é o envio do inquérito da PF para a Procuradoria-Geral da República (PGR), que terá 15 dias para decidir se o ex-presidente será denunciado ao Supremo Tribunal Federal (STF) pelas acusações. Nesse período, a defesa deve se manifestar.