"Acontecimentos extremamente danosos", diz Sarney sobre denúncia de golpe de Estado
Ex-presidente comentou julgamento que ocorrerá no STF e situação política atual no país em evento que marca 40 anos da redemocratização

Catielen de Oliveira
Felipe Moraes
O ex-presidente José Sarney (MDB) classificou como "acontecimentos extremamente danosos" fatos investigados na denúncia de uma tentativa de golpe de Estado no Brasil após as eleições de 2022. Declarações do ex-chefe do Executivo foram dadas neste sábado (15), em evento na Praça dos Três Poderes (Brasília) que marca 40 anos do início da redemocratização no país.
"Acho que esses acontecimentos foram extremamente danosos e, ao mesmo tempo, repugnados pelo povo brasileiro, por todas as classes", falou Sarney, de 94 anos, a jornalistas.
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"Mas tivemos a certeza de que as instituições que foram criadas por nós durante a transição, elas foram tão fortes [...] Já atravessaram dois impeachments, uma tentativa de mudança no Estado de direito, no dia 8 de janeiro. E agora, livremente, nosso Supremo Tribunal está julgando o que ele apuram o que sejam culpados", continuou.
A referência de Sarney é ao primeiro julgamento do STF sobre a denúncia de golpe, marcada para 25 de março.
Na ocasião, a Primeira Turma da Corte deve analisar investigação sobre o chamado "núcleo crucial" da suposta tentativa de golpe, formado pelo ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) e outros sete acusados, incluindo ex-ministros, militares e ex-comandantes das Forças Armadas.
Sarney não vê instabilidade democrática no Brasil atual
Perguntado pela reportagem do SBT se ele avalia que o Brasil passa por um período de possível instabilidade democrática, Sarney comentou que "não temos crise nenhuma". "Estamos em plena democracia funcionando. Nos Estados Unidos, tiveram quase a mesma situação, e não abalaram a democracia americana", completou o também ex-senador e ex-governador do Maranhão.
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"Aqui, não, nós estamos com instituições muito fortes, Forças Armadas, poder civil, Congresso, tribunais, sociedade funcionando livremente. Clima de absoluta liberdade que conquistamos, o povo brasileiro, através da transição democrática. Agora, o que devemos ter presente, e fui membro da UDN [União Democrática Nacional], nós temos como bandeira: o preço da liberdade é a eterna vigilância", reforçou.
Posse de Sarney faz 40 anos em 2025
O 15 de março de 2025 marca quatro décadas exatas da posse do ex-presidente José Sarney, em cerimônia no Congresso Nacional.
A data marcou também o fim da ditadura militar, que durou 21 anos (1964-1985), e início da redemocratização brasileira, que resultou, três anos depois, na promulgação de uma nova Constituição.

Sarney disse hoje que essa lembrança "faz parte da história brasileira". "É o maior período do país usufruindo de regime democrático, sem nenhum hiato, sem nenhuma interrupção. Funcionou a transição democrática. Tivemos oportunidade de convocar [Assembleia] Constituinte, fazer Constituição e construir, com ela, o processo da transição", relembrou o ex-presidente.
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Naquele 15/3/1985, o então vice-presidente Sarney assumiu a Presidência da República de forma interina, já que Tancredo Neves, eleito pelo colégio eleitoral, foi internado na véspera e, depois, teve de passar por cirurgia.
Neves acabou morrendo em 21 de abril, aos 75 anos, sem tomar posse. Por isso, Sarney foi confirmado como presidente de forma definitiva, exercendo a chefia do Poder Executivo até 1990. Foi o primeiro civil a comandar o Brasil desde João Goulart, deposto pelo golpe militar de 1964.