Polícia investiga ação do crime organizado após série de ataques a ônibus em São Paulo
Quase 700 ônibus já foram alvo de vandalismo; suspeita é de represália de facção criminosa após operações da polícia
Flavia Travassos
Robinson Cerantula
Thiago Dell'Orti
Mais oito ônibus foram vandalizados até o fim da noite de terça (8), em São Paulo. Com isso, o número total de ocorrências chega a quase 700 casos. A polícia suspeita que o crime organizado esteja por trás da onda de ataques.
Desde o início dos atos de vandalismo, no dia 12 de junho, uma empresa na zona leste da capital já teve cinco ônibus depredados. Em um dos casos, o alvo poderia ter sido um idoso ou uma pessoa com deficiência. Rafael Lopes, motorista há 15 anos, foi vítima de um desses ataques na última segunda-feira.
“Estava com bastante gente no ônibus, escutei um barulho muito forte, parecia que tinha acertado a lataria. Os passageiros ficaram assustados, levantaram e falaram: ‘motorista, quebrou o vidro aqui, quase atingiu uma senhora’”, contou Rafael. “A gente tem muito medo por causa da integridade física dos passageiros.”
Só nesta semana, foram 67 ataques registrados apenas na cidade de São Paulo. De acordo com Mauro Artur Herszkowicz, presidente da Federação das Empresas de Transporte de Passageiros do Estado de São Paulo (FETPESP), cada vidro quebrado custa, em média, cinco mil reais. “As empresas não têm estoque suficiente para repor na hora”, explicou.
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Presos
Até agora, três homens foram presos. Um deles é filho de um ex-motorista de ônibus. Um menor de idade também foi apreendido, mas liberado em seguida. A polícia praticamente descartou que os ataques sejam organizados pela internet. Uma das linhas de investigação aponta para o envolvimento da maior facção criminosa do país. Empresas de ônibus ligadas ao grupo foram alvos de operações no ano passado. A suspeita é que os ataques sejam uma retaliação.
A polícia analisa os celulares apreendidos com os suspeitos. O objetivo é confirmar a possível ligação com o crime organizado. Enquanto isso, passageiros, motoristas e cobradores também enfrentam outro tipo de violência.
Roubos e furtos
De janeiro a maio deste ano, foram registrados 1.080 roubos e furtos dentro de ônibus no estado de São Paulo — um aumento de 35% em relação ao mesmo período do ano passado.
Segundo o especialista em segurança Roberto Alves, há quem se aproveite do caos para tirar vantagem. “Esses vandalismos não trazem efeito positivo algum para o criminoso, mas são explorados nas redes sociais”, afirmou.
Um motorista, que preferiu não se identificar, relatou ter sido vítima de um assalto recentemente. “Estava no horário de janta, dentro do ônibus, quando dois indivíduos anunciaram o assalto. Disseram que não queriam nossos pertences, apenas peças do carro.”
Entre os alvos preferenciais dos criminosos está o módulo eletrônico que controla portas, motor e outras funções do veículo. O equipamento pode custar entre R$ 15 mil e R$ 25 mil e tem alto valor no mercado ilegal.
Apesar da campanha de conscientização, com frases como “Respeito: ponto de partida para toda viagem”, o clima de medo predomina entre os profissionais do transporte.
“Quando estamos parados, ficamos tensos. Qualquer movimento estranho já deixa a gente assustado. O jeito é entregar nas mãos de Deus”, desabafou um motorista.
Em resposta, a Secretaria da Segurança Pública de São Paulo informou que a Polícia Militar intensificou o patrulhamento nos principais corredores de transporte, especialmente com a Operação Impacto de Proteção a Coletivos. A Polícia Civil também atua para identificar e prender os responsáveis pelos ataques.
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