Polícia do RS mira quadrilha que usava deepfake de Gisele Bündchen para aplicar golpes
Operação cumpre mandados em 5 estados; além da modelo, criminosos também fizeram vídeos falsos de Angélica, Juliette, Maísa e Sabrina Sato
Emanuelle Menezes
A Polícia Civil do Rio Grande do Sul realiza, na manhã desta quarta-feira (1º), uma operação contra uma quadrilha de crimes cibernéticos. O grupo usava 'deepfakes' da modelo Gisele Bündchen e de outras celebridades para aplicar golpes em todo o país, movimentando mais de R$ 20 milhões. Até a última atualização desta reportagem, quatro pessoas haviam sido presas.
🔎 A deepfake é uma técnica de síntese de imagens e sons humanos feitos com base em inteligência artificial. Geralmente, é usada para combinar uma fala falsa a um vídeo já existente.
Ao todo, são cumpridas 26 ordens judiciais pela Operação "Modo Selva", incluindo sete prisões preventivas e nove mandados de busca e apreensão em cinco estados: Rio Grande do Sul, Santa Catarina, Pernambuco, São Paulo e Bahia. Também foram bloqueados bens e contas que podem chegar a R$ 210 milhões.
Como funcionava o golpe
O esquema usava vídeos falsos criados com inteligência artificial para simular falas e imagens de celebridades. Além da ubermodel brasileira, as imagens de Angélica Huck, Juliette, Maísa e Sabrina Sato também foram usadas em golpes.
Essas campanhas falsas promoviam produtos inexistentes, como um "kit antirrugas grátis". As vítimas eram atraídas pelos anúncios em redes sociais, principalmente no Facebook e Instagram, e direcionadas a sites fraudulentos. Lá, forneciam dados pessoais e faziam pagamentos de uma "taxa de frete" via PIX.
O dinheiro passava por empresas de fachada e contas de laranjas, inclusive de idosas que tiveram identidades usadas sem saber.
"Escola do crime digital"
A polícia identificou Levi Andrade da Silva Luz como líder da organização. Ele comandava um perfil nas redes sociais em que ensinava seguidores a aplicar golpes, em uma espécie de "escola do crime digital".
"O perfil dele no Instagram tinha o slogan 'Te ensino a pensar como predador digital', e oferecia mentoria para ensinar técnicas de golpes. Era literalmente uma escola do crime operando às vistas de todos", afirmou a polícia.
A influenciadora Lais Rodrigues Moreira, conhecida como "Japa", impulsionava os golpes e promovia jogos de azar ilegais em seu perfil, que contava com mais de 110 mil seguidores.
Segundo a polícia, ela era uma "multiplicadora" do alcance criminoso. "Quando os golpistas criavam conteúdo fraudulento, simplesmente a marcavam nas publicações para que aparecessem em seu perfil, atingindo dezenas de milhares de pessoas", explica.
Outros envolvidos eram responsáveis por movimentar o dinheiro, controlar gateways de pagamento e ampliar o alcance das fraudes com perfis influentes nas redes sociais. O grupo ostentava veículos de luxo, helicópteros e viagens internacionais com o dinheiro das vítimas. Em postagens, debochavam de pessoas enganadas, exibindo depósitos e ironizando prejuízos.
Alerta à população
A Polícia Civil alerta que, apesar dos valores cobrados em muitos casos serem baixos – entre R$ 20 e R$ 100 –, a soma dos golpes gera enormes prejuízos. A orientação é denunciar sempre, mesmo em fraudes de pequeno valor.
Entre os crimes investigados estão estelionato eletrônico, organização criminosa, lavagem de dinheiro e exploração de jogos de azar.