Operação mira esquema bilionário de facção criminosa com postos, apostas e motéis em SP
Principal alvo é um empresário suspeito de lavar dinheiro por meio de uma rede de postos de combustíveis; 25 mandados foram cumpridos
SBT News
Agência SBT
O Ministério Público de São Paulo (MP-SP) e a Receita Federal realizaram, na manhã desta quinta-feira (25), uma nova operação contra o esquema do PCC nos setores de combustíveis e jogos de azar.
A ação, batizada de Operação Spare, tem como objetivo desarticular um sofisticado esquema de exploração de jogos de azar, adulteração de combustíveis e lavagem de dinheiro por meio de empresas de fachada. A operação é um desdobramento da Operação Carbono Oculto.
No total, foram cumpridos 25 mandados de busca e apreensão em São Paulo (19), Santo André (2), Barueri, Bertioga, Campos do Jordão e Osasco. Participaram da ação 64 servidores da Receita Federal, 28 membros do MP-SP e cerca de 100 policiais militares.
As investigações começaram após a apreensão de máquinas de cartão em casas de jogos clandestinos em Santos, vinculadas a postos de combustíveis.
A análise financeira revelou que os valores eram transferidos para uma fintech usada para ocultar a origem ilícita dos recursos.
O chefe do esquema, segundo o MP, seria o empresário Flávio Silvério Siqueira, conhecido como Flavinho, suspeito há anos de lavar dinheiro do crime organizado por meio de postos de combustíveis e empresas associadas a ele.
O jornalismo do SBT News não conseguiu contato com a defesa do investigado.
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Rede criminosa e movimentações bilionárias
Segundo a Receita, o principal alvo está ligado a uma rede de postos de combustíveis usada para lavagem de dinheiro e sonegação fiscal. Entre 2020 e 2024, 267 postos ainda ativos movimentaram R$ 4,5 bilhões, mas recolheram apenas R$ 4,5 milhões em tributos federais — o equivalente a 0,1% do total movimentado, percentual muito abaixo da média do setor.
Além do ramo de combustíveis, o grupo utilizava franquias, motéis e empreendimentos imobiliários para dar aparência de legalidade aos recursos. Foram identificados 21 CNPJs ligados a 98 estabelecimentos de uma mesma franquia, que movimentaram cerca de R$ 1 bilhão em quatro anos, emitindo apenas R$ 550 milhões em notas fiscais.
No ramo hoteleiro, mais de 60 motéis foram identificados, a maioria em nome de “laranjas”. Juntos, movimentaram R$ 450 milhões e distribuíram R$ 45 milhões em lucros e dividendos.
Um dos motéis chegou a distribuir 64% da receita bruta declarada. Restaurantes localizados dentro dos motéis, com CNPJs próprios, também integravam o esquema.
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Compra de bens e imóveis
Com os recursos obtidos no esquema, os investigados adquiriram imóveis e bens de luxo, como:
- iate de 23 metros, inicialmente comprado por um dos motéis e depois transferido a uma empresa de fachada, que também adquiriu um helicóptero;
- outro helicóptero (modelo Augusta A109E) foi comprado em nome de um dos investigados;
- um Lamborghini Urus adquirido por empresa patrimonial;
- terrenos, onde estão localizados diversos motéis, avaliados em mais de R$ 20 milhões.
As investigações também apontam o uso de fintechs e maquininhas de pagamento para inserir dinheiro em espécie no sistema financeiro, além da utilização de Sociedades em Conta de Participação (SCPs) para empreendimentos imobiliários.
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Rede de motéis
A Receita e o MP-SP identificaram uma rede de cerca de 60 motéis em nomes de laranjas usada pelo PCC para lavar dinheiro. Esses estabelecimentos movimentaram mais de R$ 450 milhões entre 2020 e 2024, distribuindo R$ 45 milhões em lucros e dividendos.
Um dos motéis chegou a distribuir 64% da receita bruta declarada. Restaurantes com CNPJs próprios dentro desses estabelecimentos também integravam o esquema. Um deles, por exemplo, registrou receita de R$ 6,8 milhões entre 2022 e 2023 e distribuiu R$ 1,7 milhão em lucros.
As operações imobiliárias também chamaram atenção: um dos CNPJs adquiriu um imóvel de R$ 1,8 milhão em 2021; outro comprou uma propriedade de R$ 5 milhões em 2023.
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Conexão com outras operações
As investigações revelaram conexões entre os alvos da Operação Spare e investigados em outras grandes ações contra o crime organizado, como a Carbono Oculto e a Rei do Crime. Foram identificadas transações comerciais e imobiliárias, uso compartilhado de helicópteros e até reservas conjuntas para viagens internacionais.
Esses novos alvos são suspeitos de lavagem de dinheiro e ocultação patrimonial por meio de postos de combustíveis, empreendimentos imobiliários, motéis e franquias.
A Receita também destacou irregularidades em declarações de Imposto de Renda, com retificações fraudulentas que aumentaram artificialmente o patrimônio da família do principal investigado em cerca de R$ 120 milhões.
O nome “Spare” foi inspirado no boliche: ocorre quando o jogador derruba todos os pinos após dois arremessos. No contexto da investigação, a Operação Carbono Oculto representaria o primeiro lance, enquanto a Spare seria o segundo, concluindo o objetivo de desarticular o esquema criminoso.
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