Morte de Ryan: testemunha contesta versão de troca de tiros dada pela polícia
Além da criança de 4 anos, outros dois adolescentes de 15 e 17 anos foram baleados na cidade de Santos; um deles morreu
VTV SBT
Uma testemunha da morte de Ryan da Silva Andrade, de 4 anos, durante um suposto confronto entre policiais militares e criminosos no Morro São Bento, em Santos, contesta a versão da Polícia Militar (PM).
O caso correu na terça-feira (5), quando um adolescente morreu e outro, que está internado, também foram baleados.
+ Explosão faz prédio desabar em Maceió e deixa três mortos De acordo com a PM, os disparos foram dados em legítima defesa após os policiais serem alvos de supostos criminosos em um conhecido ponto de tráfico de drogas. O coronel Émerson Massera, chefe da comunicação social da Polícia Militar, reconheceu na quarta-feira (06), que o disparo que matou Ryan provavelmente partiu de uma arma da corporação, que investiga o caso.
A mãe de um amigo da vítima, diz ter testemunhado toda a cena do crime.
“Eu pedia pra eles pararem de atirar… Pelo amor de Deus, que tem criança aqui. Esse negócio de confronto não existe, não teve. Porque os primeiros dois tiros que eles deram, derrubaram os dois meninos [adolescentes de 15 e 17 anos]. Então não teve confronto. Eles atiraram em direção à minha casa. Na minha casa, na parte que eu moro, não existe boca de tráfico. Não existe biqueira, não tem isso, gente”.
Ela também relatou quando Ryan foi baleado. A morte dele foi confirmada na Santa Casa de Santos.
“Quando olhei pro lado, porque eu não tinha visto que o Ryan estava atrás de mim. E quando eu virei assim, ele já estava com a mãozinha na barriga e a gente perguntando o que tinha acontecido. Ele não falava nada”.
A advogada da família, Letícia Giribello, reforça a versão.
“Eles viram dois meninos de moto, são dois adolescentes, um de 15 e um de 17 anos, que estavam trafegando sem capacete no morro. E a versão que chegou para nós foi exatamente essa, que começou uma perseguição por conta dos meninos estarem trafegando sem o capacete. Os meninos entraram na viela onde estavam as crianças brincando e aí começaram os tiros. Todas as pessoas que presenciaram afirmam que não houve troca de tiros, que o tiro partiu por parte da polícia. Não foram encontrados nem entorpecentes, nem armas com esses adolescentes“.
A polícia confirmou que os adolescentes de 15 e 17 anos também foram baleados. O mais velho foi encaminhado à UPA (Unidade de Pronto Atendimento) da Zona Noroeste, mas não resistiu e morreu. O outro permanece internado na Santa Casa de Santos sob escolta policial.
Pai de Ryan
O pai de Ryan, Leonel Andrade Santos, de 36 anos, morreu durante um suposto confronto com a Polícia Militar na "Operação Verão". A vítima, que utilizava muletas devido a uma lesão no joelho, foi baleada junto com Jefferson Ramos Miranda, de 37 anos.
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A versão da polícia aponta para um confronto, com os agentes alegando terem sido atacados a tiros pela dupla. No entanto, a família de Leonel contesta essa narrativa. Uma foto, tirada por uma moradora horas antes do ocorrido, mostra Leonel com as muletas, o que, segundo a esposa, torna impossível a participação em uma troca de tiros.
A esposa de Leonel, e mãe de Ryan da Silva, afirma que o marido recebia o Benefício de Prestação Continuada (BPC) e estava na fila de espera para uma cirurgia.
A advogada Letícia Giribello afirma que a família está completamente desestruturada após perder dois entes queridos em um intervalo de apenas nove meses devido à violência policial.
“Esperamos fazer justiça. Ryan e Leonel não vão voltar, mas esperamos que os culpados sejam efetivamente punidos”.