Golpistas usam falsos anúncios de carros para enganar vendedores e compradores
Criminosos fingem ser intermediários de vendas e fazem vítimas em diferentes estados do país
Flavia Travassos
Ricardo Taíra
Se você está pensando em vender um carro, tenha cuidado. O "golpe do intermediário" está se espalhando pelo país e vem deixando as vítimas sem o veículo e sem o dinheiro.
Os criminosos chegam a usar lojas de automóveis reais para dar mais credibilidade às negociações. O golpe costuma atingir proprietários que vendem em sistema de consignação.
Nos anúncios, os golpistas utilizam imagens das revendedoras, fazem a intermediação e, assim que o carro é vendido, ficam com o dinheiro e desaparecem.
O golpe em ação
O anúncio parecia comum: ano do carro, 2014, preço: R$ 38.500. Era para atrair interessados em comprar o veículo, mas acabou chamando a atenção de um golpista.
Alexandre Santos, ferramenteiro, publicou o carro em um marketplace. “Anunciei meu carro e, em menos de 10 minutos, uma pessoa entrou em contato comigo se passando por um vendedor de carros especializado”, contou.
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Segundo ele, o suposto profissional afirmou que tinha um cliente interessado, que pagaria uma parte do valor e financiaria o restante.
Na troca de mensagens, o estelionatário confirmou que compraria o carro à vista para repassar ao cliente. Alexandre aceitou e pediu uma transferência eletrônica, mas a operação não foi feita porque era fim de semana.
Eles combinaram de concluir o pagamento na segunda-feira. O golpista ainda escreveu: “Como meu falecido pai sempre dizia, de pequenos negócios surgem grandes amizades.”
A “amizade” quase se concretizou quando vendedor e comprador se encontraram pessoalmente. Alexandre foi entregar o carro e descobriu que o comprador havia feito uma transferência de R$ 20 mil, mas o dinheiro foi enviado para a conta do intermediário, o golpista.
“Perguntei pra ele: esse dinheiro é uma entrada e você vai financiar o resto? Ele respondeu que não, que era o valor total da venda. Foi aí que eu disse: não, o carro custa R$ 40 mil”, relembra Alexandre.
“O comprador ficou branco, desesperado, disse que não podia voltar pra casa sem o carro e sem o dinheiro. Eu falei que não podia fazer nada e sugeri irmos à delegacia.”
Casos como esse têm acontecido com frequência. Em alguns, os estelionatários copiam fotos de veículos verdadeiros e criam novos anúncios, oferecendo o mesmo carro por um preço bem abaixo do valor real.
Há relatos de que o golpe vem sendo aplicado em São Paulo, Rio de Janeiro, Goiás e Bahia. O advogado Fernando Viggiano representa quatro clientes vítimas dessa fraude.
“Muitas vezes o carro é entregue porque a pessoa acredita que a transferência será feita logo depois. O vendedor não recebe, o comprador não tem o carro, e os golpistas terceirizam o problema”, explica.
“Em alguns casos, até lojas sérias acabam sendo enganadas”, afirma o advogado Fernando Viggiano. “Elas também sofrem o golpe.”
Rosana Lopes, empresária do setor automotivo há 30 anos, afirma já ter presenciado vários casos semelhantes e destaca a importância de verificar cuidadosamente a identidade de quem negocia o veículo.
Alexandre, que por pouco não caiu no golpe, decidiu transformar a experiência em alerta. “O golpe está cada vez mais sofisticado. Eu quase fui uma vítima, mas tenho certeza de que outras pessoas estão sendo enganadas agora”, afirma.