Exclusivo: Câmeras corporais desmentem PMs sobre homem arremessado de ponte em SP
Minutos antes, outro jovem havia sido baleado durante operação policial na mesma rua
Derick Toda
Imagens obtidas com exclusividade pelo SBT revelam mais do que o momento, gravado por celular, em que um manobrista é arremessado de uma ponte na zona sul de São Paulo, em dezembro do ano passado.
O SBT analisou mais de 60 horas de gravações feitas pelas câmeras corporais dos policiais militares, que desmentem a versão dada por eles sobre a ação. Uma dessas gravações mostra o instante exato em que os soldados Luan Alves Pereira e Andrey Barizão arrastam Marcelo Barbosa Amaral até a ponte. Antes desse momento, o grupo de 13 PMs já havia realizado abordagens violentas na região.
Menos de uma hora antes de Marcelo Amaral, de 25 anos, ser arremessado, um suspeito sem capacete foi perseguido e se rendeu ao chegar na casa da mãe. Mesmo sem reagir, ele foi agredido com chutes e, em seguida, detido.
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Em outra abordagem, um homem também rendido, com as mãos para cima, recebeu um chute no rosto do soldado Luan - o mesmo que jogou Marcelo da ponte.
Em um corredor próximo ao local, dois rapazes foram abordados por policiais. Um deles apontou a arma para o rosto de um dos suspeitos. Em seguida, outro militar colocou a mão na frente da câmera e começou a agredir os jovens, mas as agressões ainda foram visíveis.
Minutos antes de Marcelo ser arremessado da ponte, uma câmera registrou a perseguição a dois suspeitos, também sem capacete, em uma moto. Ao chegarem à ponte, os PMs Luan e Caio Teixeira Martins desistiram da abordagem, mas decidiram esperar reforço. No meio da rua, Luan quase acertou um golpe de cassetete em um motociclista que passava pelo local.
Trinta segundos depois, Marcelo se assustou com a presença da polícia e caiu da moto. Luan correu junto com o PM Matheus Silva de Campos, que deu golpes de cassetete na vítima.
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No depoimento à Corregedoria, os policiais militares envolvidos negaram ter visto Marcelo sendo arremessado da ponte. No entanto, as imagens mostram um PM se abaixando e olhando para o córrego logo após o rapaz cair.
A câmera corporal do soldado Luan, que arremessou Marcelo, parou de gravar às 19h26, cerca de 3h30 antes do crime.
Disparo
O inquérito policial militar que investiga o caso revelou outro episódio de violência até então desconhecido. Durante a operação, um jovem de 19 anos, que estava em um baile funk com a namorada, foi baleado pelas costas enquanto tentava fugir dos PMs. Ele corria em direção a um corredor, ao lado da ponte, quando foi atingido.
Marcos Henrique Bento foi socorrido e levado ao hospital. Em depoimento, ele contou que acreditava ter sido atingido por uma bala de borracha, mas ao levantar a camisa percebeu que era um tiro de arma de fogo. O disparo entrou pelo lado direito das costas e saiu pela barriga.
A namorada relatou que, durante o tumulto, viu Marcos coberto de sangue. Uma equipe da PM acompanhou os dois até o pronto-socorro, mas não registrou a ocorrência porque, segundo uma policial, "não haveria necessidade".
O soldado Luan foi indiciado por tentativa de homicídio. Outros quatro PMs respondem por prevaricação, um por lesão corporal e outro por peculato. Nenhum deles está preso.
Ao SBT, o Ouvidor da Polícia Militar Mauro Caseri afirmou que vai solicitar à Corregedoria que apure todos os abusos cometidos.
"Os policiais envolvidos naquela ocorrência em que o Luan promoveu o arremesso estavam todos com comportamento truculento e agressivo em relação as pessoas. Uma postura que, no meu ponto de vista, é inadequada para um policial militar", disse Caseri.
Outro lado
O SBT pediu um posicionamento para a defesa do soldado do Luan, que afirmou que não vai se posicionar.
Os advogados do militar Caio Teixeira e de Andrey Barizão não se manifestaram.
A reportagem também contatou a Secretaria de Segurança Pública de São Paulo e aguarda retorno. O espaço está aberto para manifestações.