Eduardo Paes denuncia ameaças de criminosos a empreiteira responsável por obra no Rio
Traficantes estariam cobrando R$ 500 mil para liberar a construção de um parque no bairro de Piedade
Liane Borges
A empreiteira responsável pela construção de um parque municipal, no bairro de Piedade, na zona norte do Rio de Janeiro, estaria recebendo ameaças de extorsão pelo crime organizado. A denúncia foi feita pelo prefeito Eduardo Paes, em uma rede social.
Na publicação, Paes menciona os perfis da Polícia Federal e do secretário-executivo do Ministério da Justiça e Segurança Pública, Ricardo Cappelli, e escreve: "Recebi agora informações de que o crime organizado está pedindo dinheiro para a empreiteira responsável pelas obras do Parque Piedade, onde funcionava a antiga Faculdade Gama Filho. Ameaçam paralisar as obras, caso o pagamento não aconteça. Obviamente, não vamos aceitar".
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O terreno, onde funcionavam a universidade e um colégio particular e que irá abrigar o novo parque, é cercado por pelo menos duas comunidades dominadas por traficantes de drogas. Segundo Eduardo Paes, os criminosos estariam exigindo R$ 500 mil da empreiteira para que os trabalhos não fossem paralisados.
As obras do Parque Piedade começaram em novembro do ano passado. A previsão é de que sejam concluídas até 2025. De acordo com o prefeito do Rio, o orçamento da construção é de R$ 65 milhões.
Durante um evento, na manhã desta 4ª feira, Paes voltou a comentar o assunto. "Não se sabe se traficantes, milicianos. A gente não vai aceitar isso. Aí é o papel da polícia, justamente, investigar. A Prefeitura não dispõe - eu, como prefeito da cidade, não disponho - de instrumentos, mecanismos, trabalho de inteligência, força policial, para fazer essa investigação. Esse é um trabalho que compete à polícia judiciária, que é a Polícia Civil e a Polícia Federal", declarou Eduardo Paes.
A responsabilidade pela Segurança Pública é do Estado do Rio, mas o prefeito não comentou porque não direcionou a denúncia à gestão estadual. Em nota, o Governo do Estado do Rio de Janeiro informou que a Polícia Civil investiga a denúncia.
Em entrevista ao SBT, o secretário do Ministério da Justiça e Segurança Pública, Ricardo Cappelli, confirmou que a Polícia Federal está colaborando com as autoridades estaduais, e que já a suspeita de outros casos semelhantes no estado do Rio.
"A Polícia Federal, hoje, fez contato com a Prefeitura do Rio, está colhendo informações. Veja, pode ser, são organizações. É difícil dizer, nesse momento, qual a natureza da organização. Eu ouvi uma situação semelhante de um prefeito da Baixada Fluminense também, e ouvi também reclamações semelhantes do pessoal do Sindicato da Indústria da Construção Civil do Rio de Janeiro", relatou Cappelli.
No mês passado, a PF já havia prendido cinco pessoas ligadas à maior milícia do estado, liderada por Luiz Antônio da Silva Braga, o Zinho. O grupo é investigado por cobrar taxas a grandes construtoras e até de obras da Prefeitura.
Para a especialista em Segurança da Universidade Federal Fluminense (UFF), Carolina Grillo, é preciso investigar a relação de grupos criminosos com agentes do Estado.
"Muitas das vezes em que encontramos práticas de extorsão por parte de grupos armados, parte desse valor extorquido acaba indo parar nas mãos de policiais corruptos. Então, é preciso que essas corporações investiguem seus próprios agentes para que eles possam, de fato, exercer um combate efetivo ao crime organizado", explica Carolina Grillo.