Amiga que envenenou bolo de pote dormiu na casa da vítima no dia do crime
Jovem que confessou ter colocado arsênio no doce abraçou pai da adolescente morta. "Não suspeitava nunca", disse Silvio
Emanuelle Menezes
O pai de Ana Luiza de Oliveira Neves, de 17 anos, que morreu no domingo (1º) após consumir um bolo de pote em Itapecerica da Serra, na Região Metropolitana de São Paulo, afirmou na noite desta terça-feira (3) que a jovem que confessou ter envenenado o doce dormiu na casa deles no dia do crime.
"Essa menina foi dormir lá em casa, acompanhou todo o caso. Viu minha menina passar mal, viu a hora que fui levar no hospital. No outro dia, ela viu minha menina caindo no banheiro e não demonstrou nenhuma reação", disse o motorista de caminhão Silvio Ferreira das Neves.
+ Qual a diferença de uma intoxicação alimentar e um envenenamento?
Silvio, que afirmou que não suspeitava da adolescente, contou ainda que ela o abraçou depois que a morte de Ana Luiza foi constatada. "Depois da minha filha estando morta, ela me cumprimentou e abraçou ainda, falou que ia ficar tudo bem", relatou.
A jovem, que foi apreendida pela Polícia Civil na terça-feira, confessou que colocou arsênio no bolo de pote por ciúmes. Ela disse ao delegado que ficou "chocada" com a morte e que queria que a amiga tivesse apenas "sintomas ruins".
O bolo havia sido entregue por um motoboy na casa de Ana Luiza, no domingo, como um "presente". Junto à embalagem, um bilhete que dizia: "um mimo para a garota mais linda que eu já vi".

Poucos minutos depois de comer o doce, a jovem começou a passar mal e foi levada pelo pai ao hospital. No local, ela foi diagnosticada com um quadro de intoxicação alimentar, sendo submetida à medicação e soro. Ana Luiza recebeu alta hospitalar, mas no dia seguinte voltou a passar mal. Ela foi levada a um pronto-socorro, onde já chegou morta.
A Polícia Civil descobriu que, no último dia 15, uma outra adolescente, amiga de Ana Luiza, também passou mal ao comer um bolo de pote que foi entregue por um motoboy. Ela foi levada ao hospital e está bem.
A partir dessa informação, os investigadores passaram a analisar imagens de câmeras de segurança e conseguiram identificar o motoboy que fez uma das entregas. Ele indicou aos agentes o endereço onde havia retirado a encomenda e, lá, os policiais encontraram a suspeita que, na companhia da mãe, foi levada para a delegacia de Itapecerica da Serra.
Ao delegado, a adolescente confessou ser a responsável pela tentativa de envenenamento da primeira vítima e pelo envenenamento de Ana Luiza. Ela relatou que comprou os bolos de pote em uma doceria, fez um brigadeiro – que usou como cobertura dos bolos – e colocou óxido de arsênio por cima.
A jovem disse que escreveu os bilhetes que foram entregues junto com os bolos e que, nos dois casos, queria apenas dar um susto nas vítimas por causa de ciúmes. Ela afirmou que comprou o produto químico, altamente tóxico, por R$ 80 na internet.
A adolescente foi apreendida por ato infracional análogo à tentativa de homicídio e homicídio qualificado pelo emprego de veneno e levada para uma unidade da Fundação Casa.