Além do Corinthians, polícia investiga ligação de facção criminosa com três times paulistas
São Paulo Futebol Clube é citado em relatório das investigações sobre desvios do contrato entre Corinthians e Vai de Bet, que aponta ligações com o PCC

Fabio Diamante
Robinson Cerantula
Majô Gondim
O relatório final das investigações sobre o desvio de dinheiro do contrato milionário entre o Corinthians e a Vai de Bet, entregue ao Ministério Público, aponta que o PCC também fez negócios com dirigentes de outros três clubes paulistas, incluindo do São Paulo Futebol Clube.
O documento faz parte da conclusão das investigações sobre o desvio de R$ 1,4 milhão do contrato de patrocínio entre o Corinthians e a empresa de apostas esportivas. Ao rastrear o caminho do dinheiro, os policiais encontraram provas da participação de integrantes de facções criminosas também em outros clubes, como o São Paulo Futebol Clube.
O presidente afastado do Corinthians, Augusto Melo, e outras quatro pessoas foram indiciadas e devem ser denunciadas à Justiça por promotores do Gaeco por crimes de furto, lavagem de dinheiro e associação criminosa.
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Durante o interrogatório, o então presidente tratou o contrato como uma negociação normal e “acima de qualquer suspeita”.
“Foi aí que o Marcelo Mariano, através do Sérgio, chegou pra mim, lá dentro do clube, não tinha sala ainda, tava andando, falando pra mim: ‘Presidente, apareceu aqui, tem um intermediário que trouxe a Vai de Bet’. Eu falei: ‘Nunca ouvi falar, Vai de Bet, e eles querem uma conversa com o senhor’. ’Tá bom, Marcelinho, toca aí’”, disse Augusto Melo.
A Unidade de Inteligência da Polícia Civil montou um diagrama de conexões que mostra os rastros que ligam criminosos ao clube.
No lado da facção criminosa Primeiro Comando da Capital (PCC), estão Danilo Lima de Oliveira, o Tripa, Christiano Lino de Menezes, e três pessoas assassinadas na guerra por poder no crime organizado - os traficantes Anselmo Santa Fausta, o Cara Preta, Rafael Maeda Pires, o Japa do PCC, e o delator Antonio Vinícius Gritzbach.
Tripa é apontado como operador financeiro da facção e verdadeiro controlador da UJ Football. O dinheiro desviado do contrato com o Corinthians foi parar na conta da UJ. Segundo o relatório, Tripa usava a estrutura da UJ e da empresa Lion Soccer Sports para movimentar recursos de origem ilícita e coagir empresários a ceder atletas e percentuais comerciais.
Christiano, já condenado por tráfico e roubo a banco, é apontado como braço financeiro do PCC e, de acordo com o relatório, auxilia nas operações da UJ.
O sócio formal da UJ é Ulisses de Souza Jorge, citado em delações como articulador da entrada do PCC no mercado do futebol europeu.
O relatório também liga dirigentes do Corinthians aos criminosos. Haroldo José Dantas da Silva, presidente do Conselho Fiscal após a eleição de Augusto Melo, é citado. O documento afirma que “a ascensão do dirigente coincide com uma série de comportamentos e decisões questionáveis”, incluindo a negociação do jovem jogador Wenrry com a UJ Football.
As ligações suspeitas de Augusto Melo começaram antes da eleição para a presidência do Corinthians. Conforme o relatório, quando era dirigente do União Barbarense, Melo intermediou percentuais de atletas com empresários ligados à UJ Football. Ele também teria sido identificado como beneficiário indireto de recursos de patrocínios ao time do Água Santa, que teriam sido usados para quitar dívidas da campanha à presidência do Corinthians.
“2012 eu vim pra ser conselheiro, convidado, né? Aí, fui conselheiro, depois diretor de base e aí, em 2017, que eu fui convidado pelo Sr. Roque Citadini pra ser vice-presidente. Depois, em 2020, eu saí como candidato e, em 2023, eu venci a eleição”, afirmou Augusto Melo.
Ligações de outros clubes com o crime
O Água Santa, de Diadema, na Grande São Paulo, já havia sido citado por envolvimento de dirigentes com integrantes do PCC.
A investigação que começou por causa do desvio de dinheiro no contrato de patrocínio do Corinthians foi além do esperado, mas o rastreamento do dinheiro levou policiais ao São Paulo Futebol Clube. O organograma de conexões criminosas mostra vínculos também com o União Barbarense, de Santa Bárbara d’Oeste.
O elo com o São Paulo está relacionado a negociações de jogadores com as empresas UJ e Lion. O União Barbarense também aparece em na contratação de atletas com essas mesmas empresas suspeitas.
A suposta ligação com criminosos inclui ainda a torcida Gaviões da Fiel. O relatório aponta a existência de uma estrutura paralela com a contratação de dois integrantes da torcida organizada: Marcelo “Ninja” Sales, como chefe de gabinete da presidência do Corinthians, e Rodrigo Daher, o “Capetinha”, como diretor de tecnologia do clube.
Segundo a Polícia, Ninja responde por múltiplos processos criminais, inclusive tentativa de feminicídio e brigas de torcida com uso de arma de fogo. Já Capetinha responde a acusações graves como homicídio.
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A investigação sobre o escândalo envolvendo o Corinthians foi concluída, mas pelo menos outros dez inquéritos serão instaurados. Os policiais acreditam que uma análise mais profunda dos negócios das empresas suspeitas pode revelar um cenário ainda maior de criminalidade no futebol brasileiro.
A investigação sobre o desvio de dinheiro no Corinthians chega ao fim com quatro indiciados por crimes de furto, associação criminosa e lavagem de dinheiro: o presidente afastado Augusto Melo; o ex-diretor administrativo Marcelo Mariano; o ex-superintendente de marketing Sérgio Moura; Yun Ki Lee, que era chefe do departamento jurídico entre janeiro e maio de 2024, e Alex Cassundé.