Rede de tráfico de bebês é investigada pela PF, com prisão de português em SP
Intermediária, advogados e mães são alvos, explica delegada; estrangeiro levou recém-nascido de 19 dias para a Europa
O português Márcio Mendes Rocha, preso pela Polícia Federal nesta 2ª feira (4.dez) suspeito de tráfico internacional de bebês para a Europa, agia com uma intermediadora e ajuda de escritórios de advocacia. A rede, alvo das investigações da Operação Deverre, permitiu o direcionamento das mães para o hospital , em Valinhos, interior de São Paulo, as falsificações e os registros dos recém-nascidos em seu nome, como pai, para leva-los do Brasil.
+ Leia as últimas notícias no portal SBT News
O Grupo de Repressão a Crimes contra Direitos Humanos da PF, em Campinas (SP), corre contra o relógio para investigar a rede que dava sustentação aos supostos crimes do português. Alvo da Deverra, Rocha levou um bebê de 19 dias de vida para Portugal, no final de outubro, e estaria pronto para levar o segundo.
As apurações da Deverra começaram na 5ª feira (30.nov). Um alerta do Ministério Público Estadual de Valinhos, na noite anterior, havia informado o registro de do segundo bebê, em menos de um mês por Rocha, de mães diferentes. Uma delas era a recém-nascida levada no dia 24 de outubro, para Portugal, onde ela ainda se encontra. O segundo bebê ainda está na maternidade da Santa Casa de Valinhos. Ambos abandonados pelas mães.
Ao analisar o histórico de viagens do alvo para o Brasil, a PF constatou pelo menos quatro idas e vindas entre Brasil e Portugal, nos anos de 2015, 2021 e 2023. Ele havia retornado recentemente ao país, sem a bebê que embarcou em outubro.
"A ideia foi agir imediatamente, visando proteger a criança que estava no hospital e tentar buscar essa criança que se encontra, possivelmente, em Portugal, na cidade do Porto", explicou a delegada Estela Beraquet Costa, coordenadora do grupo especializado da PF. Segundo ela, os elementos apontam para tráfico internacional de crianças.
Ouvido pelos policiais, ao ser preso, ele negou. "Não descarto essa possibilidade (de que seja tráfico de crianças). Num primeiro momento, qualquer um iria alegar que gostaria de ficar com as crianças, ele não vai falar que ia entregar, que não sabe para quem ou que é um intermediário", afirmou.
Intermediadora
O português conseguiu embarcar com a criança de 19 dias para Portugal, em outubro, porque ela estava registrada em seu nome, com guarda unilateral, que garantia que ele viajasse sozinho com ela. Tudo falso, segundo a PF.
Rocha usou nos dois casos, a unidade hospitalar de Valinhos, possivelmente com ajuda de uma "intermediadora". Estamos apurando a relação da possivel intermediadora (com o hospital) para trazer o português e essas crianças para um hospital na cidade de Valinhos", explicou a delegada. A Santa Casa colaborou com as investigações e não se manifestou.
"A Polícia Federal constatou que esses registros de paternidade se deram por uso de documentos falsos perante a Justiça Estadual, em juízos diferentes, acompanhados de pedidos de guarda unilateral dos bebês, o que lhe permitiria sair do país sem anuência da mãe", informou a PF, em nota.
O escritório que forneceu os documentos para a adoção fraudada, em Itatiba (SP), também foi alvo de buscas da Deverra. No local, além de documentos, foram apreendidos 11 mil dólares e 7 mil euros, em espécie.
Foram cumpridos seis mandados judiciais, decretados pela juíza Valdirene Ribeiro de Souza Falcão, titular da 9ª Vara da Justiça Federal de Campinas. O de prisão preventiva de Rocha e buscas em escritório de advocacia e na Santa Casa de Valinhos.
"Ele diz que queria adotar em Portugal e lá foi negado a ele esse direito. Então, busca outro caminho, criminoso, para adotar as crianças aqui no Brasil. Mas para mim, não é uma adoção, isso é um tráfico internacional de crianças."
Nesta 2ª feira, nas buscas em Valinhos e Itatiba, foram apreendidos documentos e materiais. "Não dá para saber se as palavras deles são verdadeiras ou não até a gente colher as provas, que a gente colheu hoje."
As mães também são investigadas, segundo a delegada da PF. Elas ainda não foram localizadas. As apurações mostraram que as mães dos dois bebês, que nasceram na Santa Casa de Valinhos, neste ano, não são da cidade. Uma é do Pará e a outra de São Paulo.
"As mães ainda não foram localizadas, elas deixaram os bebês, assim que tiveram e voltaram, possivelmente, para as origens delas. Já foi verificado que elas são do Pará e de São Paulo."
Para a PF, Rocha negou os crimes. "Ele foi ouvido informalmente e alega que efetivamente queria essas crianças para ele. Mas me questiono, como um pai, que diz que quer ser pai, vai visitar uma criança no hospital, fica de 10 a 15 minutos visitando essa criança e vai embora. Ele pega uma criança de 19 dias, coloca em um avião, de nove horas, deixa em uma outra cidade", explicou a delegada.
O SBT News não conseguiu localizar a defesa do preso.
Leia também:
+ PF prende português por tráfico internacional de bebês para a Europa