Família contesta conclusão de inquérito que isenta PMs por morte de jovem em surto no RS
Herick Vargas foi morto em casa durante surto psicótico; familiares dizem que souberam da conclusão pela imprensa e pedem acesso ao inquérito
Aline Schneider
No Rio Grande do Sul, a Corregedoria da Polícia Militar concluiu que dois policiais militares agiram em legítima defesa ao matar Herick Vargas, de 29 anos, durante um surto psicótico. A decisão é contestada pela família, que afirma não ter sido notificada oficialmente sobre o resultado do inquérito.
Segundo os pais de Herick, a informação chegou primeiro pela imprensa, o que gerou ainda mais revolta no período de luto.
“Não nos notificaram, não nos avisaram, a família e nem os advogados. A gente ficou sabendo através da mídia. Isso é muito revoltante. A gente já está sofrendo. A gente sofreu várias coisas. Assassinaram o meu filho aqui dentro”, afirma Evolmara Vargas, mãe do jovem.
+ Quem foi Paulo Frateschi, ex-deputado do PT morto pelo filho em São Paulo
+ Mulher que dizia ser Madeleine McCann é condenada no Reino Unido por assediar pais da menina
Em nota, a Brigada Militar informou que a conclusão do inquérito foi baseada em um conjunto de provas, como imagens das câmeras corporais usadas pelos policiais, laudos periciais e depoimentos de pessoas envolvidas no caso.
A instituição afirmou ainda que seguiu os protocolos estabelecidos, com tentativa de diálogo e uso de arma de choque, e que os disparos ocorreram após agressões e risco à vida dos agentes. Ainda assim, a família questiona a versão oficial e, segundo o advogado, não teve acesso ao conteúdo do inquérito.
“Mais de mil processos e nunca tivemos problema de acesso a um inquérito policial ou militar. É a primeira vez que isso acontece. Está soando de forma estranha”, disse Nemias Rocha Sanches, advogado da família.
O atestado de óbito aponta morte violenta. Para a defesa, a quantidade de disparos é um ponto que precisa ser esclarecido.
“O jovem estava desarmado. E aí que vem a questão, muitos disparos. Nós queremos saber se a cada disparo a Polícia Militar, o policial avaliou se existia a necessidade do próximo disparo. Porque o disparo de arma de fogo de uma pistola semiautomática depende de uma ação humana. Ou seja, ele como policial treinado tem que saber se deve atirar, avaliar se é necessário o segundo disparo. Uma defesa necessita de moderação. É isso que nós queremos saber.”
Herick Vargas foi morto no dia 15 de setembro, dentro da própria casa, após a mãe acionar a polícia por causa de um surto.
“Foi muito triste. Meu filho tinha 29 anos, um potencial imenso. Teve o fato isolado da crise nesse dia. Ele já estava em sofrimento psiquiátrico. A gente pediu ajuda para manejar, levar ele para atendimento. E trouxeram mais dor, mais sofrimento e o fim da vida dele. E junto, parte da minha também, né? E o que eu tenho que fazer agora é buscar justiça”, desabafou Evolmara.
Herick, que era motorista de aplicativo e estava em tratamento para esquizofrenia, teria entrado em luta corporal com os policiais. Eles usaram arma de choque, mas, segundo o inquérito, sem sucesso. Em seguida, efetuaram os disparos. O Samu foi acionado, mas Herick morreu no local. Segundo o pai, ele vinha apresentando melhora e estava sendo acompanhado por uma equipe multidisciplinar.









