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Réu admite culpa no julgamento de abuso de Gisèle Pelicot: "Sou parte deste pesadelo"

Francesa foi estuprada por mais de 70 homens a mando do marido durante uma década

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Gisèle Pélicot | Flickr
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Lionel R, de 44 anos, admitiu, na quinta-feira (19), ter estuprado a francesa Gisèle Pelicot em 2 de dezembro de 2018. Ele compõe a lista dos 50 réus, entre 26 e 74 anos, acusados de abusar da vítima – que foi dopada por uma década pelo próprio marido, Dominique Pelicot, para que outros homens pudessem estuprá-la.

"Como nunca obtive o consentimento da Sra. Pelicot, não tenho escolha a não ser aceitar os fatos”, disse Lionel. “Sinto muito, só posso imaginar o pesadelo que você viveu. E eu sou parte desse pesadelo. Eu sei que minhas desculpas não vão mudar o que aconteceu, mas eu queria te dizer isso”, acrescentou, direcionando-se à Gisèle.

Apesar de admitir o crime, o réu, pai de três filhos, tentou transferir a culpa para Dominique, dizendo que fez apenas o que o aposentado havia lhe dito para fazer. Ele contou que as explicações de Dominique “não eram muito claras”, inclusive com o manuseamento do medicamento – usado para dopar Gisèle até o estado de “coma profundo”.

"Não me fiz muitas perguntas. Nunca imaginei que ela não fizesse parte deste jogo. Esse foi meu primeiro grande erro”, disse Lionel, acrescentando que deveria ter deixado o local quando viu que Gisèle estava inconsciente. “Sou culpado de estupro”, frisou.

Relembre o caso

O caso que chocou a França foi descoberto por acaso. Em 2020, Dominique Pelicot foi denunciado por tentar filmar a parte íntima de três mulheres em um supermercado. Ao ser investigado, os policiais encontraram milhares de fotos e vídeos da esposa do aposentado, visivelmente inconsciente, sendo abusada por estranhos na casa da família.

Ao continuar revistando o computador de Dominique, os investigadores descobriram que o aposentado oferecia sexo com a esposa por meio de um site. Várias conversas entre ele e homens que aceitaram o convite foram identificadas. Eles tinham entre 21 e 68 anos e, segundo o idoso, tinham conhecimento de que a mulher estaria inconsciente.

No total, foram registrados 92 estupros cometidos por 72 homens contra Gisèle, num período de 10 anos (2011 - 2020). Até o momento, no entanto, apenas 50 homens foram localizados e processados, podendo pegar penas de até 20 anos de prisão. Segundo a Justiça francesa, estima-se que o julgamento termine em dezembro deste ano.

Renúncia ao anonimato

Apesar do caso perturbador, Gisèle renunciou ao anonimato e pediu que o julgamento fosse aberto ao público. A decisão causou admiração, já que milhares dos vídeos em que a francesa aparece sendo abusada foram reproduzidos nas audiências. O cenário também abriu espaço para julgamentos, com pessoas acusando-a de ser cúmplice do marido.

“Desde que cheguei a este tribunal, sinto-me humilhada por me chamarem de alcoólatra e dizerem que sou cúmplice do senhor Pelicot. Fiquei em coma e os vídeos podem atestar isso. Até os especialistas, todos homens, ficaram chocados com esses vídeos. Tenho a impressão de que sou a culpada e que os 50 são vítimas”, disse Gisèle.

"O estupro é uma questão de tempo? Três minutos, uma hora? Estou chocada! Se fosse a mãe ou a irmã deles, teriam a mesma defesa? Vieram me estuprar, não importa quanto tempo tenha passado”, continuou a francesa, em depoimento ao tribunal.

+ Francesa estuprada por mais de 50 homens a mando do marido depõe na França: “Fui sacrificada no altar do vício”

A coragem de Gisèle foi reconhecida ao redor do mundo e desencadeou um amplo debate sobre estupro e submissão química (agressão induzida por drogas). Nesta semana, a francesa foi aplaudida e recebeu flores ao sair do tribunal.

Ex-marido confessa

Durante audiência nesta semana, Dominique, agora ex-marido de Gisèle, reconheceu os crimes, afirmando ser um “estuprador”. "Ela não merecia isso, eu reconheço", disse ele, implorando a Gisèle e aos três filhos por perdão.

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