O eleitor indeciso foi quem sofreu a maior derrota após o debate entre Biden e Trump
Biden teve vantagem, hesitou nas respostas e não entregou o bom desempenho esperado. Trump pareceu comedido e faltou com a verdade em muitos momentos

Patrícia Vasconcellos
Washington DC -- As lideranças das duas campanhas dos partidos democrata e republicano entraram para o primeiro debate destas eleições presidenciais preocupadas.
O entorno de Joe Biden desejava reverter, ao vivo, as críticas que o presidente recebeu nas últimas semanas em relação à sua disposição física.
Os republicanos tinham receio de que Donald Trump seguisse o comportamento demonstrado quatro anos atrás e partisse para o ataque direto e pessoal a Biden, o que poderia prejudicar sua imagem em meio a tantos processos criminais e sua recente condenação em Nova York.
Ao fim, a sensação entre os republicanos foi de alívio e entre os democratas de preocupação.
Foram seis dias de preparação para Joe Biden. A agenda do presidente americano esteve sem compromissos públicos de segunda a quarta-feira e, desde o último fim de semana, o democrata esteve concentrado com os estrategistas em Camp David, a casa de campo dos presidentes dos Estados Unidos.
Esperava-se um desempenho parecido ao do discurso do Estado da União, no dia sete de março. Naquela data, Joe Biden entrou vibrante no Capitólio e entregou um discurso potente.
Segundo pessoas próximas ao presidente, nesta noite de quinta-feira, Biden estava um pouco gripado.
A voz rouca nem foi o principal foco da preocupação depois do evento, mas como o atual presidente deixou de aproveitar várias oportunidades para tirar vantagem da condição atual de Trump, que é o primeiro ex-presidente americano condenado criminalmente na história do país.
- Biden hesitou. Cada candidato tinha um tempo fixo de dois minutos para responder às perguntas iniciais. O presidente que tenta a reeleição estava calmo, mas parecia, ao mesmo tempo, um pouco tenso no início, assim como seu rival, e teve dificuldades em concluir os raciocínios com o tempo, ao fim, se esgotando.
- Donald Trump também entrou com aparente tensão e evitou contato visual com o oponente em boa parte do debate que durou uma hora e meia. Trump foi orientado pela campanha a não partir para o ataque pessoal como fez em 2020.
Há quatro anos, Trump insultou Biden repetidas vezes, o chamando de "dorminhoco", fez acusações pesadas sobre os filhos do então candidato a presidente, inclusive citando o que já faleceu, e o nível foi bem mais baixo apesar de os dois, na última noite, terem trocado farpas.
Sim, Biden chamou Trump de otário e perdedor quando o republicano usou esses termos para se referir a Hunter Biden, e Trump disse que não entendia o que Biden disse no fim de uma frase.
"Acho que nem ele entende", falou Trump.
Mas foi um bate-boca bem menos grave do que vimos há quatro anos.
- Ao fim, o ex-presidente que tenta voltar à Casa Branca entregou a imagem esperada por sua campanha, se esquivou totalmente das respostas mais difíceis e não foi pressionado o suficiente pelos moderadores.
Logo ao fim do evento, minha análise foi de empate técnico pelo fato de ambos não terem entregado ao eleitor a mensagem que todo o americano espera de um presidente: confiança no desempenho e credibilidade. O republicano xingou menos que o previsto, mas faltou com a verdade e fugiu das respostas dos temas mais sensíveis.
Simplesmente respondeu "B" quando lhe perguntavam "A". Não respondeu a perguntas como 'o que fará para combater as mudanças climáticas' - tema essencial atualmente, quando o mundo sofre com catástrofes naturais.
Trump, enquanto presidente, disse repetidas vezes que o aquecimento global é uma invenção de ativistas. Ele retirou os Estados Unidos do Acordo de Paris e, na última noite, não falou ao eleitor como conduzirá o tema.
Disse apenas: "quero água e ar limpos". Evitou ao máximo responder se respeitará o resultado das eleições. Disse apenas ao fim que "se for um resultado correto e justo, vai".
Biden tinha a oportunidade de demonstrar liderança, poder, de pressionar o oponente e evidenciar seus tantos problemas impressos em páginas de processos judiciais. Pelo cansaço, gripe ou apenas tensão, não partiu para o ataque.
Sob essa perspectiva, não houve um vencedor do debate. Um evitou falar o que realmente pensa sobre temas-chave e outro hesitou no desempenho. A maior derrota, ao fim, foi para o eleitor indeciso que já disse em pesquisas não estar satisfeito nem com um, nem com outro.
Comentaristas na última noite questionam se a campanha democrata vai pressionar Biden a renunciar à candidatura.
Essa é a única possibilidade de outro nome ser validado na convenção do partido em agosto, em Chicago.
Não é o que parece que vai acontecer. Nomes fortes do partido democrata saíram do local do debate declarando apoio total a Biden e o presidente americano demonstra foco e vontade em seguir na campanha pela reeleição.
Apenas pesquisas qualitativas nos próximos dias poderão avaliar o impacto do debate na intenção de voto do eleitor, especialmente o indeciso.
Análises e opiniões pipocam em várias partes do mundo, mas a realidade é que o futuro na política americana ainda depende de como Biden e Trump vão levar a campanha até novembro.
A segunda oportunidade para redenção de Biden será no segundo debate, no dia 10 de setembro.








