Norte de Gaza vive “momento mais sombrio da guerra”, segundo a ONU
Alto-Comissário para Direitos Humanos da ONU alerta Israel sobre ações que poderiam equivaler a “crimes de atrocidade”
Crianças e pessoas com deficiência enfrentam condições cada vez mais extremas na Faixa de Gaza devastada pela guerra, e algumas têm morrido enquanto aguardam evacuação médica, alertaram nesta sexta-feira (25) autoridades da ONU e especialistas em direitos humanos. O chefe de Direitos Humanos da ONU, Volker Türk, afirmou que o momento mais crítico do conflito ocorre no norte de Gaza, onde o exército israelense submete a população a bombardeios intensos, cercos e risco de fome, forçando os palestinos a escolher entre o deslocamento em massa ou permanecer em uma zona de conflito ativo.
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“O bombardeio no norte de Gaza não para”, declarou Türk. “O exército israelense ordenou que centenas de milhares se mudassem, sem garantias de retorno. Mas não há uma maneira segura de sair. As bombas continuam a cair, o exército israelense está separando famílias e detendo muitas pessoas, e pessoas que estavam fugindo foram supostamente alvejadas.”
Possíveis crimes de atrocidade
O chefe de direitos humanos destacou que, conforme as Convenções de Genebra, os Estados têm a obrigação de assegurar o cumprimento do direito humanitário internacional. “A cada dia, a situação se agrava”, disse Türk, acrescentando que as ações do governo israelense no norte de Gaza podem resultar em crimes de atrocidade, como crimes contra a humanidade.
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Atrasos críticos na evacuação
Enquanto isso, crianças estão sendo evacuadas a uma média de menos de uma por dia, em condições graves, como amputações, queimaduras, câncer e desnutrição, afirmou James Elder, porta-voz do UNICEF. “Não é uma questão de logística, mas de prioridade humanitária. Temos capacidade para evacuar as crianças com segurança, mas isso está sendo ignorado”, destacou Elder, explicando que ao ritmo atual, levaria mais de sete anos para evacuar todas as 2.500 crianças em necessidade urgente de cuidados. Elder ainda apontou que a COGAT, autoridade israelense responsável por assuntos humanitários em Gaza, “não fornece justificativas para as recusas” das evacuações. Desde maio, quando o cruzamento de Rafah foi fechado, a média de evacuações caiu de 296 para 22 crianças por mês.
Impacto nas pessoas com deficiência
A situação é especialmente crítica para pessoas com deficiência que enfrentam grandes riscos devido aos ataques indiscriminados, disseram especialistas da ONU. Na Cisjordânia e em Jerusalém, as restrições de movimento impedem o acesso a serviços essenciais, exacerbando as dificuldades enfrentadas por palestinos com deficiência nessas áreas ocupadas. Os especialistas pedem que Israel cumpra as obrigações internacionais e as medidas preventivas recomendadas pelo Tribunal Internacional de Justiça para evitar ações que possam configurar genocídio, em resposta ao aumento da violência e destruição de lares.