Negociações de trégua em Gaza vacilam; tiros matam 17 perto ponto de ajuda humanitária
Conversações promovidas pelos EUA com representantes israelenses e palestinos estão paralisadas, em meio a novas mortes de civis

Reuters
As conversações com o objetivo de garantir um cessar-fogo em Gaza estão paralisadas em meio a discussões sobre a retirada das forças israelenses do enclave palestino, disseram neste sábado (12) fontes palestinas e israelenses familiarizadas com as negociações em Doha.
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As conversas indiretas sobre uma proposta dos EUA para um cessar-fogo de 60 dias devem, no entanto, continuar, disseram as fontes.
Em Gaza, os médicos disseram que 17 pessoas que tentavam obter ajuda alimentar foram mortas no sábado, quando as tropas israelenses abriram fogo.
Esse foi o mais recente tiroteio em massa em torno de um sistema de distribuição de ajuda apoiado pelos EUA que, segundo a ONU, resultou em cerca de 800 pessoas mortas em seis semanas.
Testemunhas que falaram com a Reuters descreveram pessoas sendo baleadas na cabeça e no tronco. A Reuters viu vários corpos de vítimas envoltos em mortalhas brancas enquanto familiares choravam no Hospital Nasser.
Os militares israelenses disseram que suas tropas haviam disparado tiros de advertência, mas que a análise do incidente não encontrou evidências de que alguém tenha sido ferido pelos disparos dos soldados.
Delegações de Israel e do Hamas estão no Catar há uma semana, em uma nova tentativa de chegar a um acordo que prevê a libertação gradual dos reféns, a retirada das tropas israelenses e discussões sobre o fim da guerra.
O presidente dos EUA, Donald Trump, que recebeu o primeiro-ministro israelense, Benjamin Netanyahu, na semana passada, disse que esperava um acordo em breve. Mas fontes israelenses e palestinas descreveram questões de longa data que continuam sem solução.
Uma fonte palestina disse que o Hamas havia rejeitado os mapas de retirada propostos por Israel, que deixariam cerca de 40% de Gaza sob controle israelense, incluindo toda a área sul de Rafah e outros territórios no norte e leste de Gaza.
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Duas fontes israelenses disseram que o Hamas queria que Israel recuasse para as linhas que manteve em um cessar-fogo anterior, antes de renovar sua ofensiva em março.
A fonte palestina disse que as questões relacionadas à ajuda e às garantias sobre o fim da guerra também estavam representando um desafio. A crise poderia ser resolvida com mais intervenção dos EUA, disse a fonte.
O Hamas há muito tempo exige um acordo para o fim da guerra antes de libertar os reféns restantes; Israel insiste que só encerrará a luta quando todos os reféns forem libertados e o Hamas for desmantelado como força de combate e administração em Gaza.
Tiroteio
O tiroteio em massa relatado no sábado, próximo a um ponto de distribuição de ajuda em Rafah, foi o mais recente de uma série de incidentes desse tipo que, segundo o escritório de direitos humanos das Nações Unidas, na sexta-feira, matou pelo menos 798 pessoas que tentavam obter alimentos em seis semanas.
"Estávamos sentados ali e, de repente, começaram a atirar em nossa direção. Durante cinco minutos, ficamos presos sob fogo. O tiroteio foi direcionado. Não foi aleatório. Algumas pessoas foram alvejadas na cabeça, outras no tronco, um homem ao meu lado foi alvejado diretamente no coração", disse à Reuters a testemunha ocular Mahmoud Makram.
"Não há misericórdia lá, nenhuma misericórdia. As pessoas vão porque estão com fome, mas morrem e voltam em sacos de cadáveres."
Depois de suspender parcialmente o bloqueio total de todos os produtos em Gaza no final de maio, Israel lançou um novo sistema de distribuição de ajuda, contando com um grupo apoiado pelos Estados Unidos para distribuir alimentos sob a proteção das tropas israelenses.
As Nações Unidas rejeitaram o sistema por considerá-lo inerentemente perigoso e uma violação dos princípios de neutralidade humanitária. Israel afirma que ele é necessário para impedir que os militantes desviem a ajuda.
A guerra começou em 7 de outubro de 2023, quando militantes liderados pelo Hamas invadiram Israel, matando cerca de 1.200 pessoas e levando 251 reféns para Gaza. Acredita-se que pelo menos 20 dos 50 reféns restantes ainda estejam vivos.
A campanha de Israel contra o Hamas matou mais de 57.000 palestinos, de acordo com as autoridades de saúde de Gaza, deslocou quase toda a população de mais de 2 milhões de pessoas, provocou uma crise humanitária e deixou grande parte do território em ruínas.