Justiça da Espanha condena quatro torcedores do Atlético de Madrid por crime de ódio contra Vini Jr.
Réus enforcaram um boneco com a camisa do jogador em ponte de Madri; penas incluem prisão, multa, restrições e curso sobre igualdade
Vicklin Moraes
A Justiça espanhola condenou quatro torcedores do Atlético de Madrid por crimes de ódio e ameaças contra o jogador Vinicius Junior, do Real Madrid. A sentença se refere ao caso em que os réus enforcaram um manequim vestido com a camisa de Vini Jr. em uma ponte próxima ao centro de treinamentos de Valdebebas, ao lado de uma faixa com a frase "Madrid odeia o Real". A informação foi divulgada nesta segunda-feira (16) pela LaLiga, organizadora da primeira divisão do futebol espanhol.
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A decisão proferida pelo Tribunal Provincial de Madri prevê penas de prisão, multas, inabilitação para funções esportivas e proibição de contato com o jogador. Eles, contudo, não ficarão presos porque aceitaram ações alternativas de reparação.
Um dos réus recebeu pena de 15 meses de prisão por crime de ódio, além de outros 7 meses por ameaças — ele também foi responsabilizado por divulgar imagens do ato na internet. Os outros três torcedores foram condenados a 14 meses de prisão, sendo 7 por crime de ódio e 7 por ameaças.
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Apesar de terem sido condenados à prisão, essa pena foi suspensa porque todos assinaram uma carta de desculpas dirigida a Vinicius Junior, ao Real Madrid, à LaLiga e à Real Federação Espanhola de Futebol (RFEF). Eles também deverão participar de um curso sobre igualdade de tratamento e não discriminação.
O réu que publicou o vídeo também foi multado em 1.084 euros (cerca de R$ 6.917 reais) e proibido de atuar em ambientes educacionais, esportivos ou recreativos voltados ao público jovem por 4 anos e 3 meses. Os outros três foram multados em 720 euros cada e proibidos de exercer qualquer função relacionada ao esporte por 3 anos e 7 meses.
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Os condenados também não podem se aproximar a menos de um quilômetro da residência de Vinicius Junior ou do centro de treinamento do Real Madrid.
Em comunicado, a LaLiga afirmou que mantém seu compromisso inabalável com a erradicação de qualquer forma de racismo, violência ou intolerância, dentro e fora dos estádios de futebol.
A luta de Vini Jr. contra o racismo
Vinicius Junior, atacante do Real Madrid e da Seleção Brasileira, tornou-se um dos principais símbolos globais na luta contra o racismo no futebol. Alvo constante de ataques racistas em estádios da Espanha desde que chegou ao clube espanhol, o jogador transformou sua dor e revolta em mobilização pública e institucional.
Desde sua chegada ao clube europeu, Vini Jr. já foi alvo de insultos racistas em partidas contra times como Valencia, Mallorca e Valladolid. O caso mais grave ocorreu em Valência, em maio de 2023, quando o jogador apontou torcedores que o chamavam de "macaco" e acabou expulso após se envolver em uma confusão dentro de campo. A cena gerou repercussão mundial, com declarações de apoio de clubes, atletas e da FIFA, além de críticas à postura das autoridades esportivas espanholas, acusadas de omissão.
A resposta inicial das instituições, como a LaLiga e a Federação Espanhola, foi lenta e alvo de críticas. Em mais de um episódio, Vinicius afirmou estar desamparado.
O jogador chegou a afirmar publicamente que a Espanha deveria deixar de sediar a Copa do Mundo de 2030 caso não avance no combate ao racismo:
“Até 2030, temos muito espaço para evoluir. Espero que a Espanha possa evoluir e entender o quão sério é insultar alguém pela cor da pele. Se até 2030 as coisas não melhorarem, acho que temos que mudar de local. Se um jogador não se sente confortável e seguro jogando em um país onde pode sofrer racismo, é um pouco difícil", declarou Vini Jr. em entrevista à CNN Brasil.
Como voz ativa na luta antirracista, Vini Jr. passou a liderar o comitê de combate ao racismo da FIFA, com foco em propor punições mais severas para casos de discriminação racial no futebol.