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Guerra na Ucrânia completa 3 anos com tensões entre EUA e Europa após interferência de Trump

Republicano vem conduzindo negociações de paz com a Rússia sem consultar potências europeias ou Kiev

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Presidente dos Estados Unidos, Donald Trump | Flickr
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A guerra na Ucrânia ganhou um novo capítulo com a interferência do presidente dos Estados Unidos, Donald Trump. Desde que assumiu o governo, em janeiro deste ano, o republicano vem pressionando por um acordo de cessar-fogo, mas em conversas que envolvem apenas a Rússia. O cenário preocupa tanto Kiev como potências europeias, que temem um acordo que ponha a segurança do continente em risco.

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Em meio à ameaça, Alemanha, França, Polônia, Itália, Espanha e Reino Unido promoveram duas cúpulas de emergência para debater o assunto. As nações voltaram a pedir inclusão nas negociações de paz, que, atualmente, estão em andamento na Arábia Saudita. Participam do encontro apenas delegações russas e norte-americanas.

A chance de Trump abrir espaço no diálogo, contudo, é quase nula. Isso porque o interesse do republicano de acabar com a guerra é puramente econômico, visando suspender o financiamento à Ucrânia – fornecido pela antiga gestão desde o início do conflito, em 2022. Isso significa que o acordo não precisa, necessariamente, levar em consideração as garantias impostas por Kiev, como uma “paz justa e duradoura”.

“Trump já comentou sobre o quanto de dinheiro dos Estados Unidos foi revertido para a Ucrânia sem nenhuma contrapartida. Com a suspensão dessa ajuda, ele consegue voltar para base dele e explicar que não vai mais ser uma política dos Estados Unidos de financiar, de verter fundos do país para oprimidos por guerras internacionais”, explica a pesquisadora do Núcleo Direito e Democracia do Cebrap e bolsista da Fundação Rosa Luxemburgo em Berlim, Marina Slhessarenko Barreto.

O mesmo é dito pela professora de Relações Internacionais da Universidade Federal de Sergipe, Bárbara Motta. Para ela, além da economia, Trump tem interesse em ser o protagonista do acordo. Em declarações anteriores, o republicano afirmou que a guerra não teria acontecido sob sua administração e chegou a acusar os países, incluindo a Ucrânia, de não avançarem nas negociações de paz nos últimos anos.

“A posição que deveria ser o senso comum é que as duas partes estejam para fechar o raciocínio, e que esse acordo possa ser negociado de forma multilateral com a participação da Europa e dos Estados Unidos. Só que eu acho que isso vai ser inviabilizado por Trump, porque ele quer o grande protagonismo na negociação e ele não vai dividir o protagonismo dele com qualquer outro país ou liderança política”, diz Bárbara.

As especialistas avaliam que é a falta de compromisso de Trump com a segurança europeia que preocupa os países, já que a guerra, se não encerrada com garantias, pode recomeçar e ultrapassar as fronteiras. “Sabemos que o plano da Rússia está muito além de ocupação de território. É de fato uma subjugação pelo não reconhecimento da independência da Ucrânia e de uma identidade do povo ucraniano”, pontua Marina.

Com Trump se colocando a favor da Rússia, os países europeus estão, paralelamente, intensificando os laços com a Ucrânia. Enquanto o chanceler da Alemanha, Olaf Scholz, disse que está “pavimentando” o caminho para a entrada de Kiev na União Europeia, o primeiro-ministro do Reino Unido, Keir Starmer, sinalizou que o país deve ser parte da Organização do Tratado do Atlântico Norte (Otan).

Apesar dos esforços, Bárbara sinaliza que a posição de Trump – que afasta os Estados Unidos da Europa – não ameaça somente a segurança do continente, mas a própria ideia que construiu o bloco europeu após as duas principais guerras.

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“Já estamos presenciando uma remilitarização dos países europeus, em que cresce as falas sobre a necessidade de se voltar para as respostas mais individuais, para respostas mais nacionalizadas, que cresce o euroceticismo na Europa. E na história contemporânea, com as duas principais guerras, a Primeira Guerra Mundial e a Segunda Guerra Mundial, o projeto de uma União Europeia se construiu pela percepção de que o principal inimigo da Europa era esse passado marcado pelo nacionalismo”, explica a professora.

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