Giorgio Armani: o "rei" da moda italiana
Estilista morreu nesta quinta-feira (4), aos 91 anos, e deixa legado que transformou a moda mundial

Reuters
Tudo começou com a jaqueta. Giorgio Armani torceu e amassou a peça, arrancando o enchimento, ajustando as proporções, movendo os botões, até ficar com algo flexível como um cardigã, leve como uma camisa.
"Removendo toda a rigidez da roupa e descobrindo uma naturalidade inesperada", como ele disse anos depois. "Esse foi o ponto de partida para tudo o que veio depois."
Sua reimaginação da jaqueta nos anos 1970 seria sua declaração de propósito como fabricante de moda.
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Elegância, segundo ele, significa simplicidade. Esse princípio, aplicado com grande aclamação ao longo de uma carreira de cinco décadas, produziria ternos minimalistas campeões de vendas e transformaria sua marca homônima em um vasto conglomerado que produz alta costura, prêt-à-porter, perfumes e decoração.
Conhecido pelos admiradores do setor como "Re Giorgio" (Rei Giorgio, em português), Armani tornou-se sinônimo de estilo italiano, ajudando a vestir uma geração de mulheres bem-sucedidas, bem como homens que queriam trajes menos recatados.
Ele combinou o talento do estilista com a atenção aos detalhes do executivo, administrando um negócio que gerava bilhões de dólares em receita a cada ano e ajudando a transformar a moda italiana contemporânea em um fenômeno global.
Apesar de ser um dos maiores estilistas do mundo, ele guardava cuidadosamente sua privacidade e mantinha um controle rígido sobre a empresa que criou, mantendo sua independência e trabalhando com um grupo pequeno e confiável de membros da família e associados de longa data.

Armani, um homem bonito, com olhos azuis penetrantes e cabelos prateados, costumava dizer que o objetivo da moda era fazer com que as pessoas se sentissem bem consigo mesmas — e ele se opunha às linhas rígidas e exigentes que tradicionalmente definiam a alta alfaiataria.
"Essa é uma fraqueza minha que afeta tanto minha vida quanto meu trabalho", disse ele em 1990 ao documentário "Made in Milan", de Martin Scorsese, sobre ele. "Estou sempre pensando em acrescentar algo ou tirar algo. Na maioria das vezes, tirando algo."
"Não suporto exibicionismo", completou.
Armani morreu, aos 91 anos, informou a empresa Armani sobre seu fundador e presidente-executivo na quinta-feira (4), sem dar a causa da morte. "Ele trabalhou até seus últimos dias, dedicando-se à empresa, às coleções e aos muitos projetos em andamento e futuros", disse a empresa. O funeral será realizado em particular, acrescentou.
Made in Milan
Giorgio Armani nasceu em 1934 em Piacenza, uma cidade no coração industrial do norte da Itália, perto de Milão, um dos três filhos de Ugo Armani e Maria Raimondi.
Seu pai trabalhou na sede do partido fascista local antes de se tornar contador de uma empresa de transportes. Sua mãe era dona de casa.
Apesar de seus recursos limitados, seus pais possuíam uma elegância interior, disse Armani ao "Made in Milan", e o senso de estilo de Maria brilhava nas roupas que ela fazia para seus três filhos. "Éramos a inveja de todos os nossos colegas de classe", declarou ele. "Parecíamos ricos, embora fôssemos pobres."
Quando menino, ele passou pelas dificuldades da Segunda Guerra Mundial. Em sua autobiografia, "Per Amore", ele conta como mergulhou em uma vala e cobriu sua irmã mais nova, Rosanna, com sua jaqueta quando um avião começou a disparar.
A família se mudou para Milão após a guerra. No início, a cidade lhe pareceu muito fria e grande, mas logo ele passou a apreciar sua beleza discreta, contou ele a Scorsese.
Seria o início de uma associação para toda a vida. Em Milão, ele desenvolveu um amor pelo cinema que mais tarde influenciou sua carreira. Por fim, ele lideraria seu grupo de moda de lá, ajudando a transformar a cidade industrial e sem glamour na capital da moda da Itália.
Armani estudou para se tornar médico, mas desistiu depois de dois anos na universidade e, em seguida, prestou serviço militar.
Ele deu seus primeiros passos na moda — que nunca estudou formalmente — quando lhe ofereceram um emprego na renomada loja de departamentos La Rinascente para ajudar a decorar as vitrines.
Sua primeira grande oportunidade veio com um convite para trabalhar para o fabricante italiano Nino Cerruti em meados da década de 1960. Lá, ele começou a fazer experiências com a desconstrução da jaqueta.
"Comecei nesse ofício quase por acaso e, aos poucos, ele foi me atraindo, roubando completamente minha vida", disse ele à publicação Business of Fashion em 2015.

Armani estreou sua primeira coleção de roupas masculinas em 1975 e logo se tornou popular na Europa. Cinco anos mais tarde, ele conquistou o coração da elite dos Estados Unidos quando vestiu Richard Gere para o filme "Gigolô Americano", de 1980, dando início a uma longa associação com Hollywood.
"Nunca usei drogas, mas para mim a adrenalina que recebo do meu trabalho é melhor do que qualquer alucinação ou efeito artificial. É uma espécie de orgasmo (se é que posso usar essa expressão)", escreveu ele em "Per Amore".
Em outubro de 2024, ele disse ao jornal Corriere della Sera, da Itália, que planejava se aposentar nos próximos dois ou três anos, pois acabara de completar 90 anos.
O tratamento hospitalar para uma doença não revelada o obrigou a perder desfiles de moda pela primeira vez em sua carreira em junho e no início de julho deste ano.