Filha de Nobel de Literatura acusa mãe de acobertar abuso sexual do padrasto
Mulher afirma que Alice Munro, que morreu em maio, escolheu continuar com o abusador mesmo após saber dos crimes cometidos por ele
A filha da escritora vencedora do Prêmio Nobel de Literatura Alice Munro acusou sua mãe de acobertar os abusos sexuais praticados por seu padrasto, Gerald Fremlin. Andrea Robin Skinner, de 58 anos, alegou, em ensaio escrito em primeira pessoa no jornal canadense The Toronto Star que a mãe escolheu continuar com seu então marido abusador, mesmo sabendo dos crimes cometidos pelo homem.
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Munro morreu em maio deste ano, aos 92 anos, e Fremlin em 2013. De acordo com o relato de Andrea, o homem teria iniciado os abusos em 1976, quando ele tinha 50 e ela estava com 9 anos. Neste ano, sua mãe e ele haviam se casado. Na época, a vítima não morava com a mãe e apenas a visitava, já que vivia com o pai, James Munro, e a madrasta. Ambos também sabiam do caso, mas não falaram com o abusador a respeito.
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Segundo Andrea, o primeiro abuso sexual aconteceu após Fremlim deitar-se em sua cama. Os abusos seguintes foram feitos com ele mostrando suas partes íntimas e dizendo que "gostava de diversas meninas da vizinhança". Skinner afirma que, após os abusos, que só acabaram quando ela já era adolescente, passou a ter enxaquecas constantes, além de desenvolver bulimia e insônia.
Em 1992, quando tinha 25 anos, ela comunicou o abuso por meio de uma carta enviada à sua mãe. A mãe chegou a pedir divórcio do marido, mas reatou tempos depois. O homem admitiu os abusos, mas acusou a menina de ter "buscado uma aventura sexual", além de ameaçar expor as fotos tiradas durante alguns dos abusos, caso ela fosse a público denunciar o caso.
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Quando falou o que aconteceu para Munro, ela disse que teve medo da reação de sua mãe.
"Querida mamãe, por favor, encontre um lugar sozinha antes de ler isto... Tenho guardado um segredo terrível há 16 anos: Gerry abusou sexualmente de mim quando eu tinha nove anos de idade. Durante toda a minha vida, tive medo de que a senhora me culpasse pelo que aconteceu", disse, em um trecho da carta enviada a Munro
Munro teria culpado "cultura misógina" e o amor que sentia pelo marido
Sobre o fato de a mãe ter "acobertado" os abusos, Skinner afirmou que a vencedora do Nobel disse ter sido '"informada tarde demais", que amava Fremlin demais e "que nossa cultura misógina era a culpada".
Quando já estava afastada da mãe, em 2004, ela relata ter lido uma entrevista de Munro elogiando o marido abusador.
"Eu também queria que essa história, minha história, se tornasse parte das histórias que as pessoas contam sobre minha mãe", escreveu Skinner