Discurso de Trump pós-atentado não será "raiz" e de ataque, mas de união nacional, diz especialista
Cientista político também analisa escolha de J.D. Vance como vice na chapa do ex-presidente, de olho no futuro do partido Republicano
O discurso que o ex-presidente Donald Trump fará nesta quinta-feira (18), no encerramento da convenção do partido Republicano, não deve ser aquele "raiz", de ataques ao adversário Joe Biden, mas de união nacional, sobretudo após atentado a tiros sofrido no último sábado (13). Quem faz essa análise é o cientista político Pedro Costa Júnior, especialista em relações internacionais, no programa Brasil Agora de hoje. Assista no canal do SBT News no YouTube.
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"Não será discurso de Trump raiz, original, agressivo. Ele joga no ataque, na ofensiva, atacando adversário. Mas deu sinais de que se consolida hoje com discurso de união nacional, de estadista. Discurso que Biden tenta fazer como presidente. Vai ser 'precisamos unir a América'. E mais, 'unir o mundo e estou pronto para isso'", opinou o analista.
O especialista também explica que o próprio andamento das campanhas dá fôlego para Trump se reposicionar com tranquilidade na disputa. "Nos últimos oito, nove meses, tivemos Trump liderando pesquisas nos chamados swing states, estados pendulares, que decidem as eleições. Toda energia e todo dinheiro são colocados nesses estados, como a Pensilvânia, onde Trump sofreu atentado", lembrou.
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As pesquisas já mostravam Trump à frente. No fim de junho, Biden teve desempenho "catastrófico", segundo Costa Júnior, no primeiro debate eleitoral com Trump, na CNN. Nesta semana, Biden anunciou diagnóstico de covid-19 e terá de se afastar da campanha. Enquanto isso, só cresce o coro de aliados do partido Democrata, financiadores e eleitores pela desistência do presidente.
"Democratas rachados entre ir com ou sem Biden. A maioria quer substituir. Vem atentado. A partir disso, o favoritismo de Trump se torna mais evidente", apontou o cientista político. A sucessora natural de Biden seria Kamala Harris, vice de Biden.
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J.D. Vance: futuro do partido Republicano
Costa Júnior também analisou a escolha de James David Vance para vice na chapa de Trump. O especialista avaliou que existiam opções "mais clássicas" no partido Republicano. Mas, ao preferir Vance, a legenda "olha para o futuro".
"Trump começou a romper com a velha guarda [do partido] lá atrás, em 2016, quando era improvável ele ganhar. Depois, tomou o partido de assalto, vamos dizer assim. Constrói o partido sob o trumpismo, o que ele chama de 'make America great again' ['torne a América grande novamente', em português]. Não só slogan, mas um movimento. Da alt-right, da direita alternativa americana", contextualizou.
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Em um segundo mandato, Trump pretende fundar um "novíssimo" partido Republicano, apontou Costa. "Cuja figura central está representada em Vance. Uma candidatura antissistema e antielite. Quase um anti-Clinton. É de uma região empobrecida, Ohio, das chamas vítimas do desemprego com a globalização, quando houve mudança estrutural e deslocamento do emprego e da economia para o sudeste asiático, sobretudo a China", explicou.
"Vance e a família dele são espelho desses 'perdedores', losers da globalização. Ele sai dessa região e consegue dar a volta por cima. Estuda em Yale, vai para o Vale do Silício. Vira amigo de Elon Musk, foi comentarista da CNN. O plano dos republicanos e do trumpismo, do Maga e da alt-right é para os próximos dezesseis anos. Quatro de Trump e oito de Vance", projetou o analista.