"Democracia se tornou alvo fácil da extrema-direita", diz Lula na ONU
Brasileiro e presidente da Espanha, Pedro Sánchez, dividem o comando do debate "Defesa da Democracia, Combatendo os Extremismos"
O presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) afirmou, nesta terça-feira (24), que a democracia liberal se tornou alvo fácil de "falsas narrativas" da extrema-direita. O chefe de Estado do Brasil divide o comando do encontro batizado de "Defesa da Democracia, Combatendo os Extremismos" com o primeiro-ministro da Espanha, Pedro Sánchez.
Em uma sala de reunião com dezenas de autoridades, Lula disse que problemas sociais como fome e má condições de trabalho se tornam a "antessala" da adoção de medidas autoritárias. Entre as autoridades presentes estavam: o presidente da França, Emmanuel Macron, o primeiro-ministro do Canadá, Justin Trudeau, Gabriel Boric, presidente do Chile, e Charles Michel, presidente do Conselho Europeu.
"Temos que compreender que a democracia se tornou alvo fácil para extrema-direita e suas falsas narrativas. É um desafio compartilhado que temos de enfrentar. O extremismo é sintoma de crise mais profunda em múltiplas causas. A democracia liberal demonstrou-se insuficiente e frustou a expectativa de milhões de pessoas. Se tornou apenas rótulo que repetimos a cada 4 ou 5 anos", disse o presidente Lula.
"Um modelo que trabalha para o grande capital e que abandona trabalhadores à própria sorte não é democrático. Um regime que privilegia homens brancos e falha com mulheres negras é imoral. A fartura para poucos e fome para muitos em pleno século XXI é a antessala para o totalitarismo", acrescentou.
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Ainda segundo o presidente da República, a extrema-direita se tornou "viável eleitoralmente" por conseguir organizar os descontentes com o atual modelo de democracia com discursos "identitários às avessas".
"Fazem isso tensionando os limites das instituições democráticas. Ceder diante dessas narrativas é cair em armadilha. Recuar não vai apaziguar o âmbito violento de quem ataca a democracia para silenciar e retirar direitos", disse.
Lula ainda comentou sobre as tentativas de golpe sofridas pelos Estados Unidos, em 6 de janeiro de 2020, e pelo Brasil, em 8 de janeiro de 2023. Segundo o presidente, esses são apenas dois exemplos do avanço do totalitarismo no mundo.
"No Brasil e nos Estados Unidos, forças totalitárias promoveram ações violentas para desafiar o resultado das urnas. Na América Latina as notícias falsa corroem a confiança e afetam os processos eleitorais. Na Europa, uma mistura explosiva de racismo, xenofobia e campanha de desinformação coloca em risco a diversidade e o pluralismo. Na África, golpes de estado demonstram que o uso da força para derrubar governo mantém resquícios de coronelismo", disse.
Pedro Sánchez foi o segundo a discursar, logo após o presidente Lula. Na avaliação do presidente espanhol, o avanço dos movimentos extremistas atacam direitos humanos e promovem um amplo volume de desinformação e negacionismo em diversas áreas de conhecimento.
"São movimentos que negam as mudanças climáticas e manipulam conceitos como a liberdade e que promovem discursos de ódio, racismo, xenofobia e questionam a participação da mulher na política e em assuntos socioeconômicos na democracia", disse o espanhol.
Regulação das redes
Lula também afirmou que um fator para impedir o impacto de notícias falsas e a desinformação é a regulamentação de mídias sociais. A medida foi apoiada por outros chefes de Estado, como o presidente do Chile, Gabriel Boric, e o primeiro-ministro do Canadá, Justin Trudeau.
Segundo o canadense, as empresas de mídias sociais se recusam a agir para barrar conteúdos violentos, discriminatórios e de desinformação.
"Precisamos combater esse conteúdo violento extremista que termina por comprometer a segurança dos nossos cidadãos [...] e infelizmente esse conteúdo tem ganhado tração em várias plataformas e muitas empresas de mídia social se recusam a agir e, por isso, temos que nos unir e demandar que essas empresas trabalhem para que elas, de fato, apliquem seus termos de serviço e adotem regulamentações mais rígidas sobre esse tipo de conteúdo", disse Trudeau.
"Essas empresas de mídia social, e não os governos, controlam cada vez mais as conversas que os cidadãos têm entre si mundo afora. Eles não podem continuar a fingir que eles não têm nenhuma responsabilidade perante as comunidades que pagam pelos seus lucros enormes, temos que ser mais fortes contra essas empresas", concluiu a autoridade canadense.