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Condenação de Trump pode afastar indecisos, mas alimenta narrativa de perseguição

Avaliação é do mestre em Relações Internacionais Uriã Fancelli; decisão não tira ex-presidente da disputa pela Casa Branca

Condenação de Trump pode afastar indecisos, mas alimenta narrativa de perseguição
"Foi um julgamento roubado por um juiz corrupto", disse Donald Trump após ser condenado por fraude | Reprodução
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Após condenação no estado de Nova Iorque por fraude em registros comerciais, o ex-presidente dos Estados Unidos Donald Trump pode, na realidade, se complicar com outras investigações, essas federais. Como explicado por Uriã Fancelli, mestre em Relações Internacionais, ao Brasil Agora do SBT News, não há uma lei da ficha limpa norte-americana.

“Não acredito que esta condenação seja responsável por tirá-lo da disputa”, afirmou o internacionalista. Segundo ele, a acusação da última quinta-feira (30) é de “categoria E”, ou seja, mais leve na comparação com outras possíveis condenações que o republicano pode ter no futuro. Essas ainda estão em investigação e devem ser julgadas somente no próximo ano — após as eleições.

Uriã ponderou que este caso pode ser utilizado como narrativa. Da parte da oposição, o veredito unânime (de 12 jurados) deve afastar eleitores indecisos; por parte do time de Trump, servir como reforço da ideia de outsider e de que o ex-presidente é perseguido.

Outsider: termo político para definir pessoas que adentram no meio sem ter tido uma carreira política anteriormente.

Trump já vem discursando no tom. Afirmou que a decisão do júri popular foi “feita pelo governo Biden, para tirar um oponente político” das próximas eleições americanas. “Isso foi uma desgraça. Foi um julgamento roubado por um juiz corrupto. O povo sabe o que aconteceu aqui”, afirmou após a condenação.

Na análise de Fancelli, “não há nenhum elemento novo” nestas ações, que, apesar do “absurdos em último nível” das falas, Donald Trump segue reforçando a mesma posição que o levou à Casa Branca em 2019. Entretanto, mesmo neste cenário, o capital político do ex-líder norte-americano não deve ser subestimado. Para ele, trata-se do “resultado de um fanatismo”.

“O simples fato dele conseguir a indicação do partido Republicano [....] mesmo ele com todos esses processos nas costas, esse em NY, outros federais também, muito mais graves, ele continua sendo o indicado à presidência do país. E a gente não tá falando de qualquer país não, a maior superpotência do mundo”, disse em resposta a jornalista Iasmin Costa.

Condenação

O júri popular de Nova York — formado por sete homens e cinco mulheres — decidiu pela condenação de Donald Trump na quinta (30). Esta é a primeira vez na história dos Estados Unidos que um ex-presidente do país é julgado e considerado culpado criminalmente.

No entendimento dos jurados, Trump falsificou registros financeiros empresariais ao comprar o silêncio da ex-atriz pornô Stormy Daniels. Segundo Daniels, os dois tiveram um caso no passado e, para evitar o vazamento da traição durante a campanha presidencial de 2016, ele pagou US$ 130 mil a ela.

Acusações

O pagamento pelo silêncio da atriz pornô não é um crime, mas o Ministério Público afirma que Trump registrou o pagamento como se fossem honorários do advogado Michael Cohen.

De acordo com as investigações, o pagamento para Stormy Daniels foi feito por meio de Cohen, que reembolsou o dinheiro quando Donald Trump foi eleito, em 2017.

As 34 acusações foram divididas em diferentes instâncias:

  • 11 acusações sobre as faturas falsas para honorários advocatícios de Cohen;
  • 11 acusações em torno dos cheques emitidos por Trump ou usando seus fundos para reembolsar o Cohen;

Processos contra Trump

Ao todo, eram quatro processos criminais que tramitavam contra Donald Trump. Agora restam três:

  • Suborno em Nova York — foi condenado. Trata-se da condenação estadual comentada acima. Deve ser multado e escapar da prisão (caso seja preso, veja abaixo as implicações);
  • Motim no Capitólio — se Trump conspirou ilegalmente para tentar reverter sua derrota para Joe Biden nas eleições de 2020, sendo um dos responsáveis pela invasão ao centro legislativo do Estado americano em 6 de janeiro de 2021. O julgamento foi adiado indefinidamente enquanto um recurso apresentado por Trump é analisado. Este caso é mais complexo, pode levá-lo à prisão por até 20 anos, mas não há jurisprudência;
  • Eleições de 2020 na Geórgia — o ex-presidente republicano junta-se a outros 18 réus acusados de conspirar criminalmente para reverter sua derrota no estado em 2020. Trump foi acusado de 10 crimes. Entre as acusações, estão uma suposta violação da lei conhecida pela sigla Rico ("Lei Federal de Organizações Influenciadas e Corruptas", em tradução livre). Pode pegar 20 anos de prisão;
  • Documentos confidenciais — investiga se Donald Trump manipulou documentos confidenciais, levando-os da Casa Branca para sua residência em Mar-a-Lago, na Flórida, depois de deixar o cargo. Além de supostamente atrapalhar a justiça de rever os papéis. Estas acusações podem, em teoria, levar a uma pena de prisão significativa se Trump for condenado, uma vez que as ações se enquadram na Lei de Espionagem. Pena máxima pode chegar até 20 anos.
  • Derrotada nas primárias, Nikki Haley anuncia voto em Trump nas eleições dos EUA

Se Donald Trump for preso?

Analistas internacionais avaliam que Trump não deve ser preso sob as condenações do caso novaiorquino, sendo apresentado pelo Tribunal uma saída por multa. Ainda não há previsão de quando a sentença sairá. Mas vale ressaltar que cada uma das 34 acusações acarreta uma pena máxima de 4 anos.

Entretanto, se enclausurado ainda poderá concorrer. Nos EUA, mesmo que condenado criminalmente, uma pessoa pode concorrer à presidência. Uma vez que a norma só questiona três pontos: ter nascido no país, ter ao menos 35 anos e ter residido alí por, no mínimo, 14 anos.

Segundo a agência AP News, se preso, pode ser impedido de votar. Isso ocorre porque a Flórida (residência “oficial” de Trump) segue as regras de privação de direitos de outros estados para residentes condenados por crimes fora do estado. No caso, a lei de Nova Iorque apenas retira o direito de voto a pessoas condenadas por crimes quando estão encarceradas.

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