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Coca-Cola, isqueiros e beijos em público: as curiosas proibições durante a ditadura em Portugal

Regime salazarista foi derrubado há exatos 50 anos pela Revolução dos Cravos

Coca-Cola, isqueiros e beijos em público: as curiosas proibições durante a ditadura em Portugal
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Há exatos 50 anos, no dia 25 de abril de 1974, a Revolução dos Cravos dava fim ao regime salazarista em Portugal. Foi assim que ficou conhecida a forma de governo implantada pelo ditador António de Oliveira Salazar, que vigorou por 42 anos. Além de acabar com o caráter fascista do Estado, a queda da ditadura derrubou uma série de proibições curiosas.

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Entre elas está a restrição à Coca-Cola. Durante o chamado Estado Novo, o consumo da bebida era proibido devido à associação com o estilo de vida norte-americano e à concorrência que fazia com os refrigerantes nacionais. A restrição, contudo, não impedia alguns portugueses de viajar até a fronteira da Espanha para consumir a bebida.

A marca voltou a ser legalizada no país apenas em 1977, três anos depois da Revolução dos Cravos. A primeira venda foi feita no dia 4 de julho, em Lisboa, assim como o primeiro anúncio da bebida, que foi emitido com o slogan “Coca-Cola, a Tal”.

Confira outras proibições curiosas durante a ditadura:

Uso de isqueiro

O uso de isqueiro fora de casa era proibido na época. Para usar o objeto era preciso uma licença individual, semelhante ao porte de arma ou de caça. A regra tinha como objetivo proteger a indústria nacional de fósforos, que era beneficiada pelo regime ditatorial.

Beijos em público

Expressões de afeto em público, como beijos, eram puníveis por lei por representar um “excesso sexual”. Até 1973, a polícia era autorizada a prender qualquer casal que se beijasse em público, com direito a multa conforme a gravidade do delito. As penalidades eram divididas da seguinte forma:

  • Mão na mão (dois escudos e meio – moeda da época);
  • Mão naquilo (15 escudos);
  • Aquilo na mão (30 escudos);
  • Aquilo naquilo (50 escudos);
  • Aquilo atrás daquilo (100 escudos);
  • Com a língua naquilo (150 escudos de multa, preso e fotografado).

No caso de um casal homossexual, o caso atingia uma gravidade ainda maior, uma vez que a homossexualidade era proibida no Estado Novo. Assim, os “crimes” costumavam resultar em um processo penal com pena de prisão.

Andar de bicicleta sem licença

Além dos isqueiros, o governo também exigia licença para andar de bicicleta. Na época, todos os condutores eram obrigados a circular com o documento, que era emitido pelas autoridades por meio do pagamento de uma taxa.

Sacudir o pó

A limpeza também era monitorada por policiais. Durante o regime salazarista, sacudir o pó de um pano ou uma toalha na janela era proibido. O descumprimento também resultava em multa. Neste caso, não havia uma explicação para a norma.

Casar com uma professora

Como via o ensino como uma missão, o Estado Novo queria que as professoras ficassem solteiras, mantendo um matrimônio “simbólico e exclusivo” com o magistério.

Ainda assim, era possível se casar com uma professora desde que o noivo apresentasse um atestado de bom comportamento e um documento comprovando ter renda para sustentar a futura esposa. Posteriormente, era preciso uma autorização do governo, com despacho publicado no Diário Oficial.

As duas mortes de Salazar

António de Oliveira Salazar | Foto: Flickr/ Biblioteca de Arte / Art Library Fundação Calouste Gulbenkian
António de Oliveira Salazar | Foto: Flickr/ Biblioteca de Arte / Art Library Fundação Calouste Gulbenkian

Rosto da ditadura mais longa da Europa, António Oliveira Salazar, contudo, não foi o presidente deposto durante a Revolução dos Cravos. O motivo é curioso.

Em agosto de 1968, Salazar, então com 79 anos, sofreu um acidente vascular-cerebral ao cair de uma cadeira e precisou passar por uma cirurgia delicada. Ele passou semanas internado na Casa de Saúde da Cruz Vermelha, em Lisboa, o que leva o regime a substituí-lo, em 27 de setembro de 1968, pelo advogado Marcello Caetano, que fica no comando do país até 25 de abril de 1974.

Durante esse período em que não estava mais no comando do Estado Novo, Salazar acreditou e foi induzido a acreditar que permanecia no poder. Na época, circulavam rumores sobre sua situação, mas a história só foi confirmada pelo chefe de redação do diário francês L’Aurore, que foi ao país em 1969 para entrevistar o novo Presidente do Conselho, e acabou entrevistando dois: Marcello Caetano e Salazar.

Na matéria manchetada como “Salazar julga que ainda governa Portugal”, Roland Faure conta a farsa montada por ministros, funcionários, familiares e amigos para que o ditador não descobrisse a verdade. Segundo o jornalista, os médicos temiam que, depois de ter vencido a doença, Salazar não sobrevivesse à revelação da verdade.

O ditador continuou morando no palácio de São Bento, presidindo reuniões fictícias com ministros, sem acesso à televisão, aos jornais e rádios. A farsa chegou a tal ponto que uma versão do jornal Diário de Notícias era confeccionada especialmente para Salazar, com notícias de um Portugal no qual ele ainda era governante.

Em um trecho da entrevista, Faure falou de sua conversa com a governanta do palácio, Dona Maria, antes de entrevistar Salazar

"Foi muito simpática e amável. Já a tinha visto várias vezes e falava bem francês. Explicou-me que o dr. Salazar não conseguia caminhar sozinho, mesmo com a ajuda de uma bengala. E que, por ordens médicas, não lia os jornais, não via televisão, nem ouvia a rádio. Mas que estava informado de tudo, graças às visitas dos amigos."

Ao levá-lo ao encontro do ditador, a governanta voltou a lembrá-lo da única condição da entrevista: “a de não lhe revelar que já não era o dono de Portugal". O que se deu nas horas seguintes foi uma conversa com um presidente que estava a par do que acontecia do mundo, mas não dá sua própria situação. E assim continuou até a sua morte em 1970, aos 81 anos.

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