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Brasil segue sem embaixador em Israel após quatro meses e com ataques no Líbano

Falta de representação fragiliza relação entre países em meio a possível "guerra total" e análise de repatriação

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Bombardeio na Faixa de Gaza | Reprodução
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O Brasil está há quatro meses sem um embaixador em Israel. O posto ficou vago desde a saída de Frederico Meyer, confirmada oficialmente em 28 de maio. Um gesto político que demonstrou atrito na relação entre os dois países e segue indefinido frente a avanços israelenses no Oriente Médio. Bombardeios contra o Líbano marcaram os últimos dias em ações que deixaram mais de 600 mortos, entre eles, dois jovens brasileiros, de 15 e 16 anos.

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A falta de um embaixador em Israel pode impactar negociações e até o eventual processo de repatriação de brasileiros no Líbano, conforme avaliam especialistas ao SBT News. Dados do Itamaraty apontam que 21 mil estão no país e há, no momento, uma consulta entre os que demonstram interesse em regressar ao Brasil.

O impacto nas negociações estaria atrelado à figura da representação brasileira no exterior, conforme analisa o cientista político Maurício Santoro. "Em um caso desse de repatriação, como é uma questão política muito forte, provavelmente é uma negociação de ministro para ministro. Mas claro que ter um embaixador no local ajuda bastante, é ruim o Brasil estar sem embaixador em Israel", declara.

Em outra frente, o especialista também destaca que o processo depende mais da intenção de Israel. "Até que mais importante que ter um embaixador é ter essa boa vontade do governo israelense e o Brasil acabou perdendo, pelas tensões diplomáticas", avalia Santoro, que também é colaborador do Centro de Estudos Político-Estratégicos da Marinha do Brasil.

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Antonio Ramalho, professor de Relações Internacionais da UnB, por sua vez, destaca que a "má vontade" diplomática do governo israelense atinge também outros países, "especialmente com governos que, como o brasileiro, levantam questões humanitárias com firmeza”.

A mudança na relação diplomática entre Brasil e Israel é destacada também pelo professor em relações internacionais Rodrigo Amaral, da PUC-SP. Com a ponderação de que há um impacto diferente na relação para retirada de brasileiros frente às operações na Faixa de Gaza, que repatriaram mais de 1.500 brasileiros no último ano.

"Quando a gente fala de Gaza, é um território que não é reconhecido como um estado autônomo, portanto quem faz diplomaticamente, politicamente, é Israel. No caso do Líbano, não, é o Líbano que faz, o próprio governo libanês. Só que o último problema do Líbano hoje é a realocação de pessoas de outras pátrias, o principal problema é o se proteger", diz.

No campo da diplomacia, o pesquisador em Oriente Médio também destaca que apesar dos impactos, outras relações entre Brasil e Israel não sofreram interferências. "A gente tem uma distinção desse momento agora para o de Gaza, desde o ano passado porque o Brasil ainda tinha boas relações diplomáticas com Israel. E quando eu falo de boas relações diplomáticas, é só diplomacia mesmo, porque a gente não pode esquecer que Israel e o Brasil continuam com a comercialização. Inclusive, o Brasil é o quarto maior exportador de petróleo para Israel".

A saída de Frederico Meyer

Meyer foi retirado do posto em resposta à posição israelense contra o governo brasileiro. Uma retaliação às críticas do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) contra ações de Israel em Gaza. Enquanto esteve na Etiópia em fevereiro, Lula afirmou que as mortes de civis eram um genocídio e fez uma comparação às ações de Adolf Hitler contra judeus no Holocausto durante a Segunda Guerra Mundial.

As colocações levaram ele a ser declarado "persona non grata" pelo ministro Israel Katz, das Relações Exteriores de Israel. À época, Kartz também levou o então embaixador Meyer ao Museu do Holocausto, como forma de exposição do caso. Após a situação, o diplomata foi convocado ao Brasil para consultas junto ao ministro das Relações Exteriores, Mauro Viera, e a confirmação de mudança foi oficializada em maio.

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Meyer foi transferido para o cargo de representante do Brasil na Conferência do Desarmamento, em Genebra. O órgão faz parte da Organização das Nações Unidas (ONU). Uma pessoa substituta ainda não foi anunciada. A reportagem entrou em contato com o Itamaraty para informações a respeito de uma nova indicação e do possível impacto da falta de um representante para a vinda de brasileiros do Líbano, mas não obteve retorno até a publicação desta reportagem. O espaço segue aberto em caso de resposta.

Cabe destacar que atividades burocráticas da embaixada não são diretamente afetadas com a ausência do diplomata, conforme pontua Antonio Ramalho. "Por definição, o encarregado de negócios [que substitui] tem hierarquia inferior ao embaixador e interlocução, na prática, menos privilegiada do que seria a do titular do posto. Essas coisas dependem, contudo, da habilidade dos diplomatas no posto e de suas redes de relacionamento".

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