Brasil e EUA dão passo importante para liderar transição energética global
Para diplomata americana a transição de governos em Washington DC não deve impactar os avanços brasileiros na aliança para promoção de energia verde
Washington DC - A primeira parada de Joe Biden na visita ao Brasil foi a floresta Amazônica. O democrata foi o primeiro presidente americano em exercício a visitar o local. Apesar do valor destinado para o reflorestamento e para a proteção das reservas estar aquém do necessário, segundo líderes locais, a presença do presidente dos EUA foi um marco importante.
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Logo em seguida, Joe Biden seguiu para o Rio de Janeiro onde Lula recebeu, na segunda-feira (18), líderes globais que estiveram presentes no G20.
Nesta terça-feira (19), Brasil e Estados Unidos assinaram uma aliança para promover a transição para a energia verde. “Essa aliança abre caminhos para mais produção de energia verde, aproveitando os recursos que os estados e o Brasil têm. Seja de energia solar, energia eólica, hidrelétrica. Abre caminhos para o setor privado, os negócios e os governos aproveitar, gerar empregos, melhorar as economias e também trazer benefícios importantes para o meio ambiente”, disse ao SBT, Amanda Roberson, porta-voz do Departamento de Estado.
A diplomata também comentou a visão americana sobre a aliança global contra a fome, uma iniciativa brasileira, e falou sobre o engajamento americano no G20 em relação aos conflitos no Oriente Médio.
Confira:
PV - Amanda Robertson é porta-voz do Departamento de Estado, conversa conosco em português, está no Rio de Janeiro, na sede do G20, onde nesta terça-feira acontece o segundo e último dia desta cúpula sediada neste ano pelo Brasil. Amanda, obrigada mais uma vez por estar aqui conosco e conversar com o SBT.
AR - Obrigada. Muito obrigada a você, Patrícia, pelo convite.
PV - Nós vemos já a declaração assinada pelos líderes que estão aí no Brasil, a declaração assinada em conjunto. São muitos itens. Da parte dos Estados Unidos, do presidente Biden, que esteve primeiro na Amazônia, depois aí no Rio de Janeiro, qual foi a prioridade por parte do governo americano, o que o governo americano quis levar para a mesa de reunião e conversar com os líderes do G20 nesta cúpula que teve a presidência do Brasil agora?
AR - Os Estados Unidos estão aqui no Brasil, na cúpula G20, no espírito de diplomacia e inclusão, aproveitando este espaço excelente para falar com os líderes, com os parceiros importantes, como o Brasil e com os outros países, para abordar os problemas maiores de hoje, como as mudanças climáticas que você mencionou, Patrícia. O presidente Biden começou a sua visita aqui, ao Brasil, na Amazônia, onde ele foi o primeiro presidente americano a visitar a Amazônia, para falar com líderes indígenas. Então, isso é um bom sinal da importância que os Estados Unidos têm para proteger essa região, para proteger o meio ambiente. Outras prioridades que eles falaram aqui na cúpula do G20 foram o combate a fome e a pobreza e como ajudar os países em desenvolvimento a ter mais recursos para chegar até suas metas de desenvolvimento.
PV - O Brasil e os Estados Unidos se comprometeram no auxílio para não só o combate ao desmatamento, mas também ao reflorestamento na região amazônica. Aqui, na Casa Branca, nós vamos testemunhar uma mudança de gestão no dia 20 de janeiro. Sei que você pode responder apenas por essa gestão, mas como fica o comprometimento ou o cumprimento do que foi acertado aí no G20 em relação a essas metas que ambos os países se comprometeram, que vão além de janeiro do ano que vem?
AR - As mudanças climáticas e a transição para energia verde não depende de uma administração ou outra em um país ou outro. São problemas amplos que requerem de soluções também amplas. Já o setor privado, nos dois países, está muito envolvido para oferecer soluções na transição à energia verde. As comunidades locais também formam parte. Estamos entendendo aqui no G20 que ajudar o meio ambiente e fomentar a economia não tem que ser duas coisas separadas. Melhorar a economia é parte da solução para a transição à energia verde porque oferece muitas oportunidades. Eu queria destacar uma aliança nova que os Estados Unidos e o Brasil lançaram aqui no G20 para essa transição à energia verde. E essa aliança abre caminhos para mais produção de energia verde, aproveitando os recursos que os estados e o Brasil têm, seja de energia solar, energia eólica, hidrelétrica. Então abre caminhos para o setor privado, os negócios e os governos aproveitarem, gerar empregos, melhorar as economias e também trazer benefícios importantes para o meio ambiente.
PV - Brasil e Estados Unidos também são signatários da aliança global (contra a fome e a pobreza), uma iniciativa do presidente Lula. A Argentina até um determinado momento seria o único país que não assinaria esse compromisso, mas o presidente Milei mudou de ideia. Qual a importância da participação norte-americana nesta aliança global em relação ao combate à fome?
AR - Os direitos do trabalho e o combate à fome são essenciais para o desenvolvimento dos países membros do G20 e do mundo global. Especialmente algo que o presidente Biden falou aqui no G20, a importância de proteger os direitos dos trabalhadores vendo as novas ameaças das mudanças climáticas. O calor extremo, as temperaturas altas, baixas. Então, é importante implementar leis que possam proteger os trabalhadores nos diferentes países. O combate `a fome, um tema que o Brasil liderou aqui no G20, que o presidente Lula destacou desde o primeiro dia, que o presidente Biden e os Estados Unidos acreditam também ser muito importante e é por isso que como parte dessa aliança contra o fome que você mencionou, os Estados Unidos estão trabalhando com os países para liberar novos fundos para países em desenvolvimento, novos recursos para combater a fome e a pobreza extrema. Estão liberando mais de 300 bilhões de dólares nos próximos 10 anos. Estes fundos vão estar disponíveis através dos bancos multilaterais nas diferentes regiões. Então, é um compromisso que veio aqui no G20 tanto para os Estados Unidos como para o Brasil e os outros membros do G20 também.
PV - A declaração final assinada por todos os líderes que estão aí no Rio de Janeiro toca na questão de Gaza e Israel. Os Estados Unidos mantém a posição, imagino, de defesa a Israel. O presidente Lula sempre teve uma visão de que é preciso respeitar os civis, as vidas dos civis de Gaza, inclusive falou bastante sobre isso já desde que tomou posse. O texto da declaração está de acordo com o que o governo americano esperava que o assunto fosse tratado?
AR - A declaração e o trabalho do presidente Biden fez aqui para ajudar a falar sobre essa guerra tocou nas nossas prioridades. Estamos trabalhando dia e noite para chegar até o fim deste conflito. Entendemos que Israel tem o direito de defender o seu território, mas também é muito importante que os direitos humanos do povo de Gaza sejam respeitados. Então vamos continuar trabalhando dia e noite. A declaração que você mencionou toca as duas partes, a independência de Israel, mas também a importância de defender os direitos humanos do povo de Gaza, que está sofrendo muito, e a importância de abrir novos caminhos para assistência humanitária.
PV - Sobre a Ucrânia, não é o tema principal da cúpula do G20, até porque não estão no grupo, mas é um assunto que esteve presente no discurso do presidente Biden na abertura quando ele chegou aí na segunda-feira e é citado também na declaração. Durante a visita do presidente Biden à Amazônia foi anunciada a autorização por parte do governo americano do uso dos mísseis de longo alcance. A Casa Branca, onde eu estou aqui agora, ainda não se pronunciou sobre o assunto. De forma geral, o que pode ser dito em relação à posição americana para a defesa da Ucrânia e sobre o uso desses mísseis de longo alcance na guerra contra a Ucrânia?
AR - Para os Estados Unidos, apoiar o povo ucraniano é prioridade. Então, vamos continuar trabalhando nisso até o fim dessa guerra. Não teve uma mudança com a nossa política. Os Estados Unidos aproveitaram esse espaço aqui no G20 para falar sobre esse tema nas mesas de discussão com os líderes no mundo. Porque entendemos que, no final, foi a Rússia que começou essa guerra e é a Rússia que pode acabar com essa guerra hoje, se respeitar o território da Ucrânia e retirar as suas tropas do território ucraniano. Então, a solução está nas mãos da Rússia. Vamos ver, queremos ver, um resultado, uma paz e uma solução para o povo ucraniano.
PV - Desses dois dias de G20, de todas as metas e intenções que a comitiva americana foi aí para o Brasil, vocês saem aí do Brasil com que sentimento em relação ao cumprimento das metas? Deu para tocar em todos os assuntos que a comitiva americana desejava tocar e abordar junto aos líderes e também aos pares?
AR - Exatamente, na declaração final tem uma ampla gama de prioridades, de problemas e possíveis soluções. Então, eu acho que isso é evidência do poder de foros, espaços internacionais como o G20, como as outras cúpulas, porque é só reunindo-se, falando no espaço de diplomacia, de inclusão, é só assim que os líderes dos nossos países vão poder solucionar os maiores problemas de hoje.