Biden apostou em guerras que podem lhe custar a reeleição
Com a popularidade no nível mais baixo desde que assumiu a presidência dos Estados Unidos, Joe Biden enfrenta desaprovação maior entre Democratas jovens
Washington DC - A poucos dias do fim de 2023, o presidente americano fez o que desejava e não precisou do Congresso, já em recesso de fim de ano. Joe Biden anunciou, na última semana de Dezembro, um pacote extra de U$ 250 milhões para assistência militar à Ucrânia. Deputados e senadores Democratas e Republicanos já avisaram que o poço tem fundo e que é chegada a hora de investir em problemas internos, que não são poucos. Segundo pesquisa recente da Reuters/Ipsos, 19% dos adultos entrevistados estão preocupados com a economia, 11% com a imigracão ilegal, 10% com os crimes e 7% com o meio ambiente e a desigualdade social. As guerras aparecem em seguida, com 6%, lado a lado com a preocupação pela saúde, que nos Estados Unidos não é fornecida de forma pública mas apenas privada.
Citar guerras em uma pesquisa que trata das preocupações do dia a dia virou rotina ao menos por aqui. No último discurso que fez em cadeia nacional, o presidente americano não falou sobre empregos, controle da inflação ou temas domésticos. Biden focou na ajuda que a Casa Branca tem dado a Kiev e Tel Aviv e justificou dizendo que o envio de milhões de dólares aos dois países é um tema de segurança nacional. Pesquisas recentes demonstram que a maioria dos americanos concorda com o apoio americano à Ucrânia que desde fevereiro de 2022 luta contra a invasão russa. Mas o apoio, dizem os eleitores, não pode ser às custas do aumento dos problemas caseiros vistos como jogados para escanteio.
O número de moradores de rua nos Estados Unidos aumentou 12% no último ano, segundo estimativa do Departamento de Habitação e Desenvolvimento. A inflação que assustou os americanos em 2022 com índices nunca vistos nos últimos quarenta anos retrocedeu, mas o impacto no aumento dos produtos e serviços afetou a vida de milhares de famílias. Dois mil e vinte e três foi também o ano em que imigrantes sem documentação legal foram levados aos milhares para cidades populosas como Nova York. A prefeitura de lá fez contratos milionários com hotéis de luxo para abrigar as famílias, mas agora no fim do ano o benefício venceu e muitos terão que se manter por conta própria.
Em meio a estes desafios, o envio de milhões de dólares para defesa de outros países parece ponto fora da curva. Biden insiste que seu apoio `a Kiev e a Tel Aviv e' incondicional mas esse discurso nao tem aprovacao da maioria dos eleitores. Especialmente os jovens democratas - partido do presidente. Uma pesquisa recente feita pelo New York Times/Siena College apontou que 57% dos entrevistados discordam da forma que Biden conduz o tema da guerra entre Israel e Hamas. O mesmo levantamento concluiu que 46% dos entrevistados disseram que o ex-presidente Donald Trump conduziria melhor o assunto do que Biden. Quando a pergunta foi em quem a pessoa votaria em 2024, 44% responderam Biden e 46% disseram que dariam o voto para Trump. O Republicano é réu em seis processos criminais, sua elegibilidade tem sido discutida nas cortes estaduais mas ainda é o nome mais forte contra Joe Biden que, ao se mostrar intransigente ao apoio a Netanyahu, perde votos.
O balanço de 2023 e os desafios na política americana para 2024
Dois mil e vinte e três foi o ano em que Biden e Lula se encontraram na Casa Branca e depois em Nova York. Foi o ano em que Brasil e Estados Unidos se reaproximaram após um período de isolamento internacional brasileiro na administração passada. Washington e Brasília fecharam acordos nas áreas do meio ambiente, do trabalho e da tecnologia. O Brasil também esteve em destaque no Conselho de Segurança da ONU, onde ocupou a presidência no mês de Outubro justamente quando a guerra entre Israel e Hamas teve início. A diplomacia brasileira se engajou de forma positiva para tentar aprovar uma resolução que pedia pausa nos bombardeios mas encontrou, junto a outros países, resistência americana que fez uso do veto. Os apelos do presidente Lula para o fim dos bombardeios repercutiu em Washington que demonstrou respeito à posição brasileira.
Para dois mil e vinte e quatro, o desafio maior será a continuidade dos projetos conjuntos já costurados entre os dois países e a resolução de questões internas que cabem a cada nação.
Daqui, um dos maiores destaques será a eleição do dia 5 de Novembro do ano que vem. Neste dia, os americanos vão eleger não só o/a presidente e o/a vice, mas também 435 deputados e 34 senadores. Mostrar resultados que impactam a vida do eleitor é o que os candidatos mais desejam e para isso terão que mudar o rumo do foco da política na capital do país.