Abortos feito por pílulas e telemedicina nos EUA são seguros e eficazes, diz estudo
Levantamento publicado na revista Nature foi feito após a Food and Drug Administration (FDA) permitir envio de pílulas abortivas pelo correio no país
Um estudo divulgado pela Revista Nature, nesta quinta-feira (15), revelou que o aborto medicamentoso feito por telemedicina foi eficaz em 98% e seguro em 99% dos casos analisados entre abril de 2021 e janeiro de 2022, nos Estados Unidos (EUA).
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O levantamento, liderado por pesquisadores Universidade da Califórnia, foi feito com cerca de 6 mil pacientes, após a Food and Drug Administration (FDA), órgão equivalente a Anvisa (Agência Nacional de Vigilância Sanitária) nos EUA, liberar o envio de pílulas abortivas pelo correio.
Do total de pacientes, 4.351 deles conseguiram completar o aborto com o regime padrão adotado pelos serviços: mifepristona, que interrompe o desenvolvimento da gravidez, seguido um ou dois dias depois pelo misoprostol, que causa contrações para expelir o tecido embrionário.
Como foi feita a análise?
O estudo analisou três organizações de aborto por telemedicina – Hey Jane, Abortion on Demand ou Choix – que atendem 20 estados norte-americanos e Washington DC.
A pesquisa foi feita com pacientes que apresentavam gestação de até 10 semanas. Em 92% dos casos, os serviços conseguiram determinar a elegibilidade para a realização do procedimento a partir de informações escritas ou verbais dos pacientes sobre a sua gravidez e suas condições de saúde.
Apenas 8% dos pacientes que receberam a pílula precisaram fazer exames de ecografia e ultrassonografia. Duas pacientes perguntaram sobre a “reversão da pílula abortiva” e foram encaminhadas para atendimento presencial urgente, de acordo com o estudo.
Os pesquisadores também não encontraram nenhuma diferença na segurança ou eficácia entre as pacientes que receberam consultas por vídeo ou por meio de mensagens de texto, que foi utilizada pela maioria.
Derrubada da proteção ao aborto incentivou procura pelos serviços
Cinco meses depois de a pesquisa ser publicada, a Suprema Corte decidiu, em 24 de junho de 2022, derrubar a proteção ao aborto no país e pelo menos 14 estados decidiram proibir a prática.
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Desde a proibição, mais serviços de telemedicina foram abertos e são utilizados por muitos pacientes que consideram o método mais conveniente, privado e acessível do que visitar clínicas ou médicos, especialmente se tiverem que viajar para outro estado, de acordo com o jornal The New York Times.
No momento da aprovação, a FDA disse que há mais de 100 estudos mostrando a eficácia do método. Apesar disso, ele está sendo contestado em uma ação movida por oponentes ao aborto que buscam reduzir o uso de mifepristona, alegando que o medicamento é perigoso. O grupo baseia-se em dois estudos que foram retirados de circulação por editores de revistas científicas.
Após decisão judicial, EUA teve 64.565 gestações por estupro
Levantamento da revista acadêmica Journal of Internal Medicine, divulgado no último dia 24 de janeiro, também estimou que houve 519.981 estupros entre julho de 2022 e 1º de janeiro deste ano.
Dos 14 estados que decidiram por proibir o aborto após a decisão da Suprema Corte, nove não abrem exceção nem em casos de estupro – ou seja, adotaram restrição total à interrupção da gravidez. O Texas foi o que registrou o maior número de gestações por estupro, 26.313, no período analisado. Na sequência, vêm o Missouri, com 5.825, e o Tennessee, com 4.993.