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Henry Kissinger, diplomata americano e ganhador do Nobel da Paz, morre aos 100 anos

Especialista também chegou a ser rotulado de criminoso de guerra por apoiar ditaduras na América Latina

Imagem da noticia Henry Kissinger, diplomata americano e ganhador do Nobel da Paz, morre aos 100 anos
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O diplomata norte-americano e vencedor do Prêmio Nobel da Paz de 1973, Henry Kissinger, morreu na noite de 4ª feira (29), aos 100 anos, em Connecticut, nos Estados Unidos. A informação foi divulgada pela empresa Kissinger Associates, que não revelou a causa do óbito. O enterro será realizado em Nova York, em uma cerimônia familiar privada.

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"Kissinger deixa sua esposa, Nancy Maginnes Kissinger, dois filhos do primeiro casamento, David e Elizabeth, e cinco netos. Ele será enterrado em um serviço familiar particular. Posteriormente, haverá uma cerimônia fúnebre na cidade de Nova York. Em vez de flores, a família sugere considerar doações para animais e escolas", diz o comunicado.

Henry Kissinger nasceu na Alemanha, em 1923. Como vinha de uma família judia, o diplomata teve que fugir com a família para Nova York em 1938, cinco anos após a instalação da Alemanha nazista e poucos meses antes do início da Segunda Guerra Mundial. Em 1943, tornou-se cidadão americano, sendo convocado para trabalhar na inteligência do exército.

Após o fim da guerra, em 1945, Kissinger foi dispensado do exército e começou os estudos na Universidade de Harvard, onde fez bacharelado, mestrado e doutorado. Ele serviu no corpo docente da faculdade, dirigindo o Seminário Internacional de 1952 a 1969.

Embora bem-sucedido na academia, Kissinger desejava ter um impacto direto na política. Ele entrou na área em 1960, servindo como conselheiro sênior de política externa para as campanhas presidenciais do governador Nelson Rockefeller em 1960, 1964 e 1968. Quando Rockefeller perdeu a nomeação, em 1968, o diplomata juntou-se à campanha do candidato do partido, Richard Nixon.

Após a vitória de Nixon, Kissinger foi nomeado Assistente do Presidente para Assuntos de Segurança Nacional e, em seguida, Conselheiro de Segurança Nacional. Nessa qualidade, e eventualmente como Secretário de Estado, o diplomata guiou os Estados Unidos durante uma das épocas mais difíceis em questão de segurança nacional.

Kissinger ao lado de Nixon | Divulgação/Kissinger Associates

Ele liderou os esforços históricos do governo para abrir as relações com a China -- finalmente abrindo as portas para uma maior estabilidade entre as nações. Em 1971, por exemplo, Kissinger fez duas viagens secretas à China, preparando as bases para a visita de Nixon à República no ano seguinte.

O diplomata também foi influente na consecução da distensão histórica entre os Estados Unidos e a União Soviética através do Tratado de Limitação de Armas Estratégicas e do Tratado de Mísseis Antibalísticos. Ao fazer isso, ele ajudou a aliviar as tensões entre as duas superpotências mundiais em meio à tensão da Guerra Fria.

Mesmo depois de deixar o cargo de Secretário de Estado, em 1977, Kissinger permaneceu como conselheiro e voz em assuntos de política externa, servindo no Conselho Consultivo de Inteligência Externa sob os presidentes Reagan e George Bush. O diplomata ainda fundou a empresa de consultoria Kissinger Associates e publicou 21 livros, incluindo Ordem Mundial, de 2014, essencial para quem estuda assuntos internacionais.

Kissinger recebeu uma série de prêmios e reconhecimentos. Em 1945, ele foi premiado com uma Estrela de Bronze do Exército dos Estados Unidos por serviços meritórios e, em 1973, recebeu o Prêmio Nobel da Paz. No mesmo ano, uma pesquisa Gallup de americanos o listou como a pessoa mais admirada do mundo. Já em 1986, o diplomata foi agraciado com a Medalha da Liberdade, dada uma vez a dez líderes americanos nascidos no exterior.

Figura controversa

Apesar de ter grande influência nas políticas externas, Kissinger era considerado um tipo diplomático controverso, que focava em alcançar objetivos práticos em vez de promover ideias. Ele foi muitas vezes criticado por motivar ações pragmáticas que serviam apenas ao interesse dos Estados Unidos, o que ia contra as ideias democráticas.

Kissinger também chegou a ser rotulado de criminoso de guerra por ter apoiado as ditaduras em países da América do Sul. O livro "Kissinger e o Brasil", do professor Matias Spektor, expõe ainda que o diplomata trabalhou para transformar o Brasil em um aliado dos Estados Unidos na Guerra Fria, por meio de canais secretos de comunicação com o governo.

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Recentes artigos publicados pelo historiador Greg Grandin apontam ainda que, entre 1969 e 1976, a política externa de Kissinger foi responsável por 3 a 4 milhões de mortos no mundo. "Agora sabemos muito mais sobre os outros crimes de Kissinger, o imenso sofrimento que ele causou durante seus anos no cargo público. Ele deu luz verde a golpes de Estado e possibilitou genocídios. Disse aos ditadores que matassem e torturassem rapidamente", escreveu Grandin.

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