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Vítimas da ditadura argentina vão ao metrô pedir votos contra Javier Milei

Pedido da neta de uma das fundadoras das Mães da Praça de Maio, morta por militares em 77, viralizou na internet

Imagem da noticia Vítimas da ditadura argentina vão ao metrô pedir votos contra Javier Milei
montagem com imagens de três vídeos diferentes, de vítimas da ditadura argentina
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Nos últimos dias da campanha eleitoral argentina, os pedidos de voto chegaram até mesmo ao metrô da capital, Buenos Aires. Vídeos, que viralizaram nas redes sociais, mostram pedidos de vítimas da ditadura argentina para que seus compatriotas não votem em Javier Milei, candidato de extrema-direita que disputa o 2º turno contra Sergio Massa, peronista e atual ministro da Economia.

O medo de uma vitória de Milei, defensor da ditadura que matou ou desapareceu com mais de 30 mil argentinos, fez com que a neta de uma das fundadoras das Mães da Praça de Maio, assassinada em 1977 pelo regime, entrasse em um vagão da linha A para narrar a história de sua família. O caso aconteceu no último dia 7 de novembro.

"Peço desculpa, estou um pouco nervosa, nunca fiz isso na minha vida e faço porque estou muito preocupada", começa Ana Fernández Careaga, conhecida como Anita Careaga.

"Nasci na Suécia, quando havia uma ditadura aqui na Argentina. Minha mãe tinha 16 anos quando a sequestraram, grávida de mim e a levaram para um campo de concentração, onde lhe tiraram tudo, inclusive seu nome, que passou a ser uma letra e um número. Ela foi brutalmente torturada", continua ela.

Anita Careaga é filha de Ana María Careaga, sequestrada aos 16 anos por militares argentinos. Grávida de 3 meses, foi levada ao centro de detenção clandestina do Club Atlético e torturada por quatro meses.

Ao recuperar sua liberdade, Ana María conseguiu se exilar na Suécia, onde Anita nasceu em 11 de dezembro de 1977. A família voltou para a Argentina após o fim da ditadura, em 1983. "Não quero violência para meus filhos. Amo esse país, quero viver aqui", diz a neta de Esther Ballestrino no metrô.

Com a filha sequestrada, Esther Ballestrino de Careaga passou a se organizar com os familiares de outros detidos e desaparecidos, fundando assim as Mães da Praça de Maio. Esther acabou presa também, sendo levada para o maior centro de detenção clandestino da ditadura argentina, a ESMA (Escola Superior de Mecânica da Armada). Dias depois, ela foi jogada viva ao mar, de um avião, junto com outras duas mães e duas freiras francesas.

"Na ESMA estava 'o tigre' [Jorge Eduardo] Acosta, um genocida que hoje pede que votem em Milei", recorda Anita, que pede:

"Pela democracia, não votem em Milei" - Anita Careaga

Na Argentina, ao contrário do Brasil, um julgamento realizado contra a junta da ditadura militar, pelos crimes cometidos durante o regime, condenou mais de 1,2 mil pessoas por crimes contra a humanidade.

Veja vídeo de Anita Careaga no metrô, legendado em português:

Micromilitância

Nas redes sociais, outros vídeos como o de Anita viralizaram. É o que os argentinos têm chamado de micromilitância.

Sobrevivente da ditadura, a professora aposentada Elsa Lombardo contou nesta semana, em um metrô da linha B, o seu testemunho.

Elsa foi sequestrada por um grupo de policiais e levada para o Centro Clandestino de Detenção, Tortura e Extermínio (CCDTyE) El Olimpo.

"Em nome daqueles que não estão aqui, que são milhares e milhares e milhares, que em nome dos bebês que nunca apareceram, por favor pensem bem sobre o nosso voto para nunca mais voltar para a noite escura que foi a ditadura, o desaparecimento de pessoas, o medo e o terror", disse ela, também muito aplaudida.

Um grupo de parentes de mortos e desaparecidos pela ditadura argentina também se manifestou em frente a estação Congreso de Tucumán, na linha D do metrô. "Não queremos que este país seja presidido por pessoas que reivindicam a última ditadura. Minha mãe foi sequestrada durante a gravidez", protestou Verónica Castelli.

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