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O saldo negativo do encontro que não aconteceu

Problema na agenda é jargão diplomático pra falta de boa vontade

Imagem da noticia O saldo negativo do encontro que não aconteceu
Reunião do G7 aconteceu na cidade de Hiroshima, no Japão
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Não foi apenas um problema de agenda. Isso se resolve quando há boa vontade de ambos os lados. Os presidentes, Luiz Inácio Lula da Silva e Volodomyr Zelenskyy não conversaram porque não havia clima político pra isso. Os ruídos de Hiroshima só pioraram a situação.

Do lado brasileiro, Lula reforçou, em reunião com a presença do ucraniano, que o governo condena a invasão russa da Ucrânia. Baseou-se na carta da ONU pra dizer que o conflito deve ser resolvido numa mesa de negociações e não no campo de batalha. O Brasil de Lula quer parar a guerra pra que uma conversa seja possível. 

Mas parar a guerra agora pra negociar implica em aceitar, ainda que provisoriamente, que a Rússia fique com os territórios que invadiu. É uma proposta que os ucranianos já deixaram claro que é inaceitável. Com apoio em peso na América do Norte e na Europa, Kiev diz que só conversa com os russos quando eles deixarem a Ucrânia.

O último encontro do G7, nas montanhas da Baviera alemã, já tinha se transformado num evento anti-Rússia, o que deu novo fôlego ao grupo, unido e coeso no discurso pró-Ucrânia. No Japão, não foi diferente.

Zelenskyy chegou a Hiroshima certo de que seria recebido com tapete vermelho e que teria as condições favoráveis pra conversar com os outros convidados, que estão fora do G7 e da Otan e optaram pela neutralidade ou tem uma caidinha pelos russos.

Deste grupo, falou com Índia, Vietnã e Indonésia. Em comum, estes países têm líderes que, ao contrário de Lula, não criticaram o ucraniano abertamente. Zelenskyy optou por frentes de batalha diplomática onde tinha possibilidade de avanço ou de, pelo menos, reter o outro lado.  

O governo brasileiro não disse um sim imediato ao pedido de Kiev para uma conversa. O presidente Lula também não acompanhou o gesto de vários líderes, que se levantaram pra cumprimentar o ucraniano, quando ele entrou na sala para uma das sessões do G7. O brasileiro alegou que estava concentrado lendo um documento. As imagens confirmam essa versão.  

No fim das contas, porém, o Brasil viabilizou o encontro. Não foi na velocidade que os ucranianos queriam, mas tivesse Zelenskyy aparecido no hotel onde estava a comitiva brasileira, estariam lá as bandeiras de Brasil e Ucrânia e duas cadeiras pra ele e Lula. Não foi problema de agenda. Foi uma decisão de não ir.

Em frente às câmeras, em coletiva dominada pela mídia da Europa e dos Estados Unidos, o ucraniano não se limitou à diplomacia. Pela primeira vez, alfinetou o brasileiro publicamente ao dizer de forma irônica que "foi ele (Lula) quem ficou chateado" pelo fato de não terem se encontrado. 

Se declarações anteriores do presidente Lula já tinham causado muitos ruídos e não ajudaram na aproximação que poderia fazer bem aos dois países e, quem sabe, ao mundo, a reação do ucraniano também foi no caminho da discórdia. Se Lula deu a entender que tinha uma posição pró-Rússia, o ucraniano também não se esforçou pra convencê-lo do contrário.

Na métrica política e diplomática, o encontro que não aconteceu aumentou ainda mais a distância entre Kiev e Brasília. Isso não é bom pra nenhum dos dois lados. Só em Moscou, o não encontro deve ter sido comemorado.  

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