Era Uma Vez Um Gênio: ele sai da garrafa para contar a própria história
Filme chega aos cinemas brasileiros nesta quinta (1º.set)
Cleide Klock
Faça três pedidos? Sim, essa é mais uma daquelas histórias de gênio que realiza desejos, mas esta percorre outros e longos caminhos. Além de levantar a dúvida pela efetividade de se ter um sonho realizado, o compartilhar da solidão dos personagens principais é uma das melhores partes de "Era uma vez um gênio", que estreia nesta 5ª feira (1º.set) no Brasil e que foi dirigido por George Miller, mesmo diretor dos filmes de "Mad Max".
É em um quarto de hotel que o gênio (Idris Elba) e a especialista em narrativas Alithea (Tilda Swinton) passam a maior parte da trama, de roupão, contando histórias e mostrando o poder que elas têm sobre o ser humano. A partir das narrativa, é a imaginação que voa longe no tempo e no espaço.
"Uma das questões desse filme é a gente se perguntar o que é real e o que não é", disse o diretor George Miller -- o gênio por trás dos grandes sucessos dos longas de "Mad Max".
"Minha história é real, mas vai ser mais fácil que você acredite nela se eu narrá-la como um conto de fadas", essas são as primeiras palavras ditas pela protagonista, Alithea, que encontrou e libertou o gênio ancestral do aprisionamento em uma pequena garrafa.
Logo vem a clássica frase: quais são os seus três desejos? Ela é cética.
"Ela não tem nenhum desejo. Isso é um enigma não só para o gênio, que nunca encontrou ninguém como ela antes, mas também para nós. Acho que é algo que paramos para pensar: uma pessoa que realmente não quer nada?", conta Tilda Swinton.
Já o gênio aposta: "Todos nós temos desejos mesmo que fiquem para sempre ocultos".
Mas, a partir da retórica de Alithea, se vê obrigado a contar sua saga talvez como forma de persuasão (teria aprendido com Aristóteles?). Seu enredo até lembra a música de Raul Seixas "Eu Nasci Há Dez Mil Anos Atrás", porém o gênio é um pouco mais jovem, tem apenas três mil anos de andanças. Suas lembranças passeiam por reinados e batalhas, falam da rainha de Sabá, do sultão Solimão, e dão foco aos amores e derrotas do protagonista. Sim, essa também é uma história de amor, ou melhor, de amores.
"O gênio é um homem que entende de narrativa de histórias, como engajar e trazer as pessoas para suas histórias, e acha uma pessoa que é fácil de manipular. Mas há algo mais que ele vê em Alithea e acha um certo conforto ao pensar que pode ter encontrado seu par perfeito", diz Idris Elba.
Essência humana
Os contos ganham vida com toda a habilidade cinematográfica de Miller, que entrega uma obra com tom mitológico e místico, recheada de luxúria e poder, com efeitos e fotografia brilhantes, referências históricas, mas acima de tudo com a ênfase no fascínio que o ser humano tem pelas histórias, inclusive dentro das próprias histórias. A personagem é profissional da narrativa, mas é o gênio que a seduz com duas fábulas.
E, por trás dos dois personagens há um dos maiores dramas da essência humana, que atravessa os milênios: a solidão que também os une.
"Eles não são apenas solitários como também não são nada sociáveis. Os dois estão nessa, ele esteve na garrafa por três mil anos e ela também na garrafa que criou ao redor de si. Eles se juntam, no meu ponto de vista, em um relacionamento muito saudável, quando as pessoas podem mostrar uma para a outra sua solidão e isolamento. As pessoas podem se ver nisso, não é preciso ser um gênio para sentir isso e fazer uma aliança desse tipo com alguém", conclui Tilda.
O filme é baseado no conto The Djinn in the Nightingale?s Eye da autora britânica A.S. Byatt.