"O Peso do Talento" é uma homenagem bem humorada a Nicolas Cage
Comédia que estreia nesta quinta (12.mai) brinca com o estereótipo excêntrico do ator

Cleide Klock
Rir de si mesmo é uma arte. E é exatamente essa capacidade tão peculiar que Nicolas Cage escancara para todo mundo ver no filme que estreia nesta semana no Brasil. Na comédia "O Peso do Talento", Nicolas Cage é... Nicolas Cage e briga consigo mesmo nos rótulos de ser realmente um ator ou/e (apenas) uma estrela do cinema. Em muitas cenas, contracenando consigo mesmo em uma versão mais jovem do alter ego, a trama traz ação, agentes da CIA, sequestro, cartel com sotaque espanhol -- claro -- e até momentos sentimentais familiares.
Para entender o bom humor do filme é preciso compreender um pouco das façanhas do astro. Conhecido por ser uma das estrelas mais excêntricas de Hollywood (e olha que a concorrência é grande!), a vida de Cage com certeza valeria um reality show, daqueles que todos pensariam que é ficção. Ele traz no currículo mais de uma centena de produções, tem um Oscar na estante por "Despedida em Las Vegas" (1995) e outras tantas atuações memoráveis que garantem uma legião de fãs apaixonados que veem qualquer coisa que ele aparece, inclusive uma série de filmes de gosto realmente duvidoso.
Mas, nos últimos anos se transformou no meme pronto pela quantidade de extravagâncias que coleciona e que são de domínio público. Quando estava no auge da carreira comprou castelos, sarcófago em forma de pirâmide para passar a eternidade, 15 casas pelo mundo e 22 carros de luxo, arrebatou um crânio de tiranossauro (de procedência suspeita) em um leilão por US$ 250 mil, além de colecionar cobras albinas, jacarés, tubarões e um polvo para ajudar nas decisões da vida. A lista de obsessões é tão grande quando a conta que acumulou. Em 2013 a dívida com o leão chegou a 12,74 milhões de dólares. Teve que vender tudo para pagar os boletos e também aceitar todos os filmes que apareciam pela frente.
E é aí que entra "O Peso do Talento", que mostra esse Nicolas Cage que precisa aceitar um convite de um fã que quer pagar um milhão de dólares para Cage ir a uma festa de aniversário na Espanha. Entre a necessidade de embolsar o dinheiro e achar que perderia dignidade como astro em aceitar essa proposta indecente, ele fica com a primeira alternativa e assim entrega uma comédia debochando da própria persona.

É claro que o roteiro é uma ficção, mas Nicolas Cage interpretando um personagem com seu próprio nome entra na brincadeira. O ator revelou que não foi fácil aceitar o papel de si mesmo, mas achou que seria algo diferente.
"Eu comecei a atuar profissionalmente quando eu tinha 15 anos e posso dizer que, depois de 42 anos, este filme é algo novo na minha vida no cinema, e é extraordinário porque já fiz um pouco de tudo, mas nunca fiz nada assim antes. O que significa que a experiência foi tanto empolgante quanto aterrorizante", disse ele que além de tudo carrega o peso de ser sobrinho de Francis Ford Coppola, o diretor de "O Poderoso Chefão". O nome verdadeiro do ator é Nicolas Kim Coppola.
"Há esse fascínio que vem pela internet, pela quantidade de memes seja lá o que for. Porque há um estilo de performance que foi intencionalmente escolhido por mim para explorar, uma dinâmica na performance cinematográfica surrealista ou abstrata. Pessoas na mídia acabam se apegando a alguns fatos que aconteceram nesses meus 42 anos de carreira e isso se torna a percepção de um indivíduo quando, na verdade, eu me acho muito chato e para a decepção de muita gente, normal", diz Cage.
O tom da comédia
Pedro Pascal ("Narcos", "Mulher Maravilha 1984") interpreta o super fã de Nick Cage, obcecado por tudo que o ator interpretou e assim traz uma lista de boas referências que nos deixa sair do cinema com vontade de revisitar a lista do que o astro fez de melhor: "Despedida em Las Vegas" (1995), "A Outra Face" (1997), "Coração Selvagem" (1990), "A Rocha" (1996), "Cotton Club" (1984), "Con Air" (1997), "60 Segundos" (2000), "A Lenda do Tesouro Perdido"(2004), "Adaptação" (2002), "Cidade dos Anjos" (1998), e mais algumas dezenas.
Na pele do super fã, não menos excêntrico, Pascal - divertidíssimo - entrega momentos pastelões, cheios de puxação de saco, ação e até suspense.
Na vida real, o ator chileno confessa a inspiração que o astro hollywoodiano sempre despertou.
"Eu vi todos os filmes de Nicolas Cage quando eu era mais novo. Acho que mais do que filmes de qualquer outro ator. Minha família adorava ir ao cinema, cresci nos anos de 1980 e estou falando de todos os filmes dele. Começou com "O Selvagem da Motocicleta" (1983) , "Sonhos Rebeldes" (1983) , "Adeus à Inocência" (1984) com Sean Penn, "Asas da Liberdade" (1984), "Peggy Sue, seu Passado a Espera" (1986), "Arizona nunca Mais" (1987). Ele teve um grande impacto em mim".
A produção ainda traz Neil Patrick Harris ("How I Met Your Mother") fazendo o papel o empresário do ator e Tiffany Haddish é a agente da CIA.
E, para quem ainda não viu outra produção recente de Nicolas Cage, que mostra que o auge é algo que vai e volta e é melhor aceitar que a vida é realmente uma roda gigante, o longa "Pig - A Vingança" foi uma das melhores produções e talvez uma das mais esnobadas de 2021. Traz o ator na melhor forma e nos faz esquecer todas as más decisões, os filmes ruins que ele fez, seja para pagar as contas ou por qualquer outro motivo. Afinal, ele coleciona mais de 100 atuações, e diga aí, quem é que consegue acertar em tudo? Ou, o quão difícil deve ser não ser excêntrico carregando o peso deste talento.