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A duas semanas das eleições, cenário político no Chile é incerto

Chilenos irão às urnas no dia 21 pelo primeiro turno da corrida presidencial

A duas semanas das eleições, cenário político no Chile é incerto
Presidente do Chile Sebastián Piñera
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Os chilenos irão às urnas em 21 de novembro para eleger um novo presidente. A duas semanas da decisão, as pesquisas eleitorais demonstram uma tendência de polarização, com um candidato de esquerda e outro de extrema-direita disputando a preferência da população. O atual presidente, Sebastián Piñera, de centro-direita (Vamos Chile), não concorre à reeleição após seu segundo mandato (2010-2014 e 2018-2022). 

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De um lado está o deputado Gabriel Boric (Convergencia Social), de 35 anos, que, segundo a última pesquisa realizada pelo Data Influye, divulgada na 4ª feira (3.nov), voltou a ser o favorito dos chilenos, com 32% das intenções de voto. Com política de inclusão dos refugiados, o ex-líder estudantil defende o feminismo, preservação do meio-ambiente e descentralização do poder. O candidato testou positivo para a covid-19 também na última 4ª, quando pretendia tomar a terceira dose da vacina contra o coronavírus. Ele deve cumprir uma quarentena de, ao menos, 10 dias. 

Já na oposição está José Antonio Kast (Partido Republicano), advogado de 55 anos, que liderou por semanas as pesquisas de intenção de voto e aparece em um empate técnico de 25% com Boric, como aponta um levantamento realizado pela Criteria divulgado na 5ª feira (4.nov). Simpatizante de Jair Bolsonaro e do ex-presidente dos Estados Unidos Donald Trump, é ultraconservador, com discurso contrário ao aborto, imigração e grupos minoritários. 

A senadora e professora de centro-esquerda Yasna Provoste (Partido Democrata Cristão do Chile) ocupa o terceiro lugar nas pesquisas, mas em todas apresentou porcentagem abaixo da dupla. 

No país, não é permitido realizar pesquisas eleitorais 15 dias antes da votação. Em razão disso, no sábado (6.nov), iniciou-se um período de expectativas às cegas para o resultado das urnas. Se os últimos balanços se concretizarem, é provável que um dos candidatos não atinja o número de votos suficientes para ser eleito no primeiro turno, levando a uma nova votação.

Manifestações

Em outubro de 2019, mais de um milhão de chilenos tomaram as ruas de Santiago após o anúncio de que a tarifa de metrô sofreria o reajuste de 30 pesos, cerca de R$ 0,21.

As manifestações, no entanto, ganharam outras proporções, de modo que os manifestantes passaram a exigir não apenas a redução da tarifa, mas a redação de uma nova Constituição e a revisão de direitos básicos, como a Previdência Social. O governo de Sebastián Piñera decretou um toque de recolher, e o Exército saiu às ruas pela primeira vez desde o fim da ditadura militar. Os ministros, a pedido do presidente, deixaram seus cargos à disposição para que uma reformulação ministerial fosse feita. Ao todo, mais de 30 pessoas morreram.

Cedendo à pressão popular, em outubro deste ano, a nova Constituição foi aprovada por um plebiscito que obteve 78,2% de votos a favor. Ao todo, 155 deputados, entre homens e mulheres, ficaram responsáveis por escrever a Carta Magna, que deve ficar pronta em 2022. "Foi a maior votação, recorde da história do Chile, em que a população votou a favor de modificar a Constituição herdada da ditadura de Pinochet. Além do processo eleitoral, estamos vivendo a instalação da nova Constituinte", explicou Rejane Hoeveler, doutora em História Social pela Universidade Federal Fluminense (UFF). 

Em entrevista ao SBT News, a docente ressaltou que o cenário de 2019 tem reflexos nas eleições de 2021, a primeira desde o fim dos protestos."Há uma disputa política sobre o que significou esse processo social. Isso está se refletindo agora nas candidaturas para as eleições presidenciais. O cenário é imprevisível e instável", pontuou.

O professor do departamento de Ciências Políticas da Pontifícia Universidade Católica do Chile (PUC-Chile) David Altman confirmou o cenário de instabilidade. "A opinião pública parece estar apostando em José Antonio Kast e Gabriel Boric. Entretanto, estamos falando de grandes tendências. Há instabilidade e existe a possibilidade de que se mude o panorama para o segundo turno".

Piñera

À frente do governo desde 2018, o presidente Sebastián Piñera encerra o mandato em março de 2022. Sucessora de Michelle Bachelet, a gestão Piñera encarou, além das manifestações em 2019, a pandemia do coronavírus e escândalos envolvendo o presidente. O mais recente, em outubro deste ano, relacionou o líder ao Pandora Papers, no qual documentos vazados apontaram irregularidades na venda de uma empresa de mineração que pertencia ao chileno. 

A transação, formalizada em 2010 por intermédio de uma empresa offshore nas Bahamas, previa que o pagamento da venda seria dividido em três parcelas. No contrato, entretanto, estava firmado que não fosse estabelecida uma área de proteção ambiental sobre a zona de operações da mineradora a partir do terceiro pagamento. Na época, Piñera cumpria o primeiro mandato como presidente.

A informação fez com que deputados da oposição apresentassem ao Congresso um pedido de impeachment do chefe de Estado, alegando que ele teria utilizado o cargo para negócios pessoais. No último dia 29, o presidente entregou sua defesa à Câmara dos Deputados. O texto deve ser julgado na próxima 2ª feira (8.nov).

Por outro lado, a vacinação contra a covid-19 foi um dos destaques na gestão. Segundo levantamento mais recente do site de estatísticas Our World Data, 86% da população já tomou a primeira dose e 79% a segunda ou o imunizante em dose única. O país também foi o primeiro da América Latina a vacinar os idosos com a dose de reforço. Os imunizantes estão sendo distribuídos gratuitamente pelo sistema de saúde, que se mistura entre público (FONASA) e privado (ISAPRE).

"O governo de Piñera [em comparação ao de Bachelet], teve algumas políticas simbólicas e a extensão de certos direitos, mas, essencialmente, o modelo foi parecido. Em algumas políticas sociais teve algumas mudanças, mas não foram radicais", afirmou Altman. 

Desafios

Entre os desafios que serão enfrentados pelo novo presidente destaca-se a onda migratória de venezuelanos e peruanos ao país. Ao longo da corrida presidencial, o tema foi discutido pelos candidatos. Kast se coloca contrário à imigração e, aos apoiadores, promete construir um muro na fronteira chilena. "Uma proposta totalmente trumpista", classificou Hoeveler.

Para a docente, a questão imigratória pode ser apontada como um dos fatores que propiciaram o crescimento da extrema-direita. "Existe uma espécie de sentimento de nacionalismo que estava em 2019, mas que agora ganha outro significado. É um nacionalismo xenófobo." Os conflitos históricos entre o Estado Nacional Chileno e o Povo Nação Mapuche, grupo indígena que vive na região sul do país, reforçaram os discursos nacionalistas. "Existe um setor da população no sul que apoia [os ataques aos Mapuches] e que são os votantes tradicionais do Kast. As questões já existiam, mas se intensificaram nos últimos meses, e acabaram fortalecendo a extrema-direita. Isso não estava colocado em 2019", completou. Os indígenas reivindicam o direito à terra, que não é reconhecido pelo Estado chileno.

A historiadora ressalta que, apesar da memória da ditadura militar, a ala pinochetista, à qual Kast pertence, sempre esteve presente no governo: "Depois da ditadura, e mesmo durante os governos Bachelet e Piñera, sempre existiu uma representação parlamentar pinochetista. Vimos representantes do Renovación Nacional, que era o partido do Sebastián Piñera, reivindicado abertamente em programas de televisão o suposto legado do Pinochet, que teria sido um crescimento econômico do país, um enquadramento do Chile na globalização. O apoio nunca deixou de existir".

Por sua vez, o cenário econômico, que em outubro acumulou a inflação de 5,3% no período de doze meses, foi agravado com a desaceleração da economia chinesa, e a consequente queda dos preços do cobre, uma das principais commodities exportadas pelo país sul-americano. Apesar da queda, o Banco Mundial projetou o crescimento chileno em 10,6% para 2021, um índice maior quando comparado aos outros países do continente, como Brasil e Argentina.

Para Carla Alberti, que integra o departamento de Ciências Políticas da PUC-Chile, "a nova administração enfrentará uma situação econômica com pressões inflacionárias, em um cenário de incerteza pela pandemia do coronavírus". Perguntada sobre o que as eleições podem representar para o Brasil, Rejane Hoeveler esclarece que "não são grandes parceiros comerciais". Ela acrescenta: "Brasil e Chile têm parceiros mais importantes -- o principal é a China".

Para o chileno Pedro Palacios Pino, gerente da tesouraria de uma empresa de carros por aplicativo, um dos desafios para o próximo presidente é apostar assiduamente nas políticas públicas, incluindo o sistema de saúde. "No Chile há um sistema público de saúde que funciona, mas que funciona mais ou menos. Então, por exemplo, minha mãe é atendida pelo sistema público e fala bem. Algumas pessoas são atendidas e falam mal. Às vezes morrem lá. Isso não pode acontecer", relatou.

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