Nipah: vírus monitorado pela OMS provoca surto na Índia e mata criança
Mais letal que o CoronaVírus Sars-Cov-2, ele não tem cura nem vacina. Mas afinal, que vírus é esse?
Branca Andrade
Em tempos de pandemia basta ouvir falar de um vírus diferente que a preocupação com a possibilidade de uma nova doença se alastrar já aparece. Esta semana, o vírus Nipah, muito mais mortal que o CoronaVírus Sars-Cov-2, fez as autoridades indianas isolarem uma área de 3 km após a morte de um menino de 12 anos, no último domingo (5.set). Ele foi infectado no estado de Kerala.
O menino ficou internado por uma semana com febre alta, mas o quadro piorou e ele não resistiu. Cento e oitenta e oito pessoas tiveram contato com o garoto, sendo que 20 delas eram de alto risco, segundo o portal CBS News, dos Estados Unidos. Dois profissionais de saúde apresentaram sintomas da infecção e foram hospitalizados. As amostras de sangue foram enviadas para teste.
O último surto de Nipah na Índia resultou na morte de 17 dos 18 pacientes infectados. Apesar de ser menos contagiosa do que a covid-19, a doença causada pelo Nipah, que não tem cura ou vacina, possui uma taxa de mortalidade bem elevada, de 40% a 75%.
Mas afinal de contas, que vírus é esse? E, nós brasileiros, devemos nos preocupar?
Segundo o virologista Amílcar Tanuri, do Laboratório de Virologia Molecular da UFRJ, a chance de uma pandemia global é remota, mas, ainda assim, é preocupante.
Descoberto em 1999, na cidade rural de Nipah, na Malásia, o vírus que recebeu o nome do local onde surgiu primeiro, é considerado uma zoonose, ou seja, ele é transmitido entre pessoas e de animais para pessoas. O principal hospedeiro do vírus é o morcego que deixa a carga viral em frutas consumidas por humanos.
Mas, o primeiro surto em humanos aconteceu na Malásia, e se originou em porcos de uma fazenda local. Trezentas pessoas se contaminaram e 100 morreram. Segundo a Organização Mundial de Saúde (OMS), também houve um surto de Nipah em Bangladesh, na Índia, em 2001, e, de lá para cá, há surtos anuais da doença que também foi identificada periodicamente no leste da Índia.
Assim como a covid-19, as infecções por Nipah também podem ser assintomáticas. Já os sintomas, quando surgem, podem se apresentar como uma infecção respiratória aguda (leve, grave) até uma encefalite (inflamação do cérebro) fatal. Os casos já estudados pela ciência relatam no quadro de sintomas, febre, dores de cabeça, mialgia (dores musculares), vômitos e dores de garganta. Há ainda relatos de tontura, sonolência, e alteração da consciência. Algumas pessoas também podem ter pneumonia atípica e problemas respiratórios graves, incluindo dificuldade respiratória aguda. Encefalite e convulsões ocorrem em casos graves, progredindo para coma em 24 a 48 horas, segundo a Organização Mundial de Saúde. Cerca de 20% dos pacientes que sobrevivem ficam com sequelas neurológicas, como distúrbios convulsivos e alterações de personalidade.
Com uma taxa de transmissão bem menor que a da covid-19, já que não é transmitido pelo ar, apesar de considerado um vírus de potencial pandêmico e perigoso, e ser monitorado por pesquisadores e cientistas em todo o mundo, o Nipah dificilmente atravessaria os continentes e chegaria ao Brasil. "Nós da ciência vemos esse vírus como um potencial risco no futuro, e ele tem que ser monitorado. Esse surto recente parece ser bem limitado, mas isso não significa que não seja preocupante. Por isso a pesquisa científica se torna tão importante, uma vez que os vírus zoonóticos estão cada vez mais presentes devido à degradação do meio ambiente que se dá em todo o globo terrestre, o que aproxima seres humanos de animais silvestres, potenciais transmissores e hospedeiros de novas doenças.", explica Tanuri.
Enquanto os pesquisadores trabalham para descobrir uma cura ou vacina para a infecção causada pelo Nipah e por outros vírus monitorados pela OMS, que tal a gente refletir sobre essa era de pandemia, que mais parece uma guerra biológica, mas não entre países e governantes, mas do homem contra a natureza?