América do Sul vive 'empate' entre esquerda e direita; veja mapa
Eleição no Peru iguala espectros ideológicos na região. Especialista avalia influência da pandemia
Fernando Jordão
Depois de perder força -com as eleições de Mauricio Macri na Argentina e de Jair Bolsonaro no Brasil -a esquerda volta a ganhar espaço na América do Sul. Com a recente vitória de Pedro Castillo no Peru, o tabuleiro geopolítico do subcontinente chegou a uma situação de empate.
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Reduzindo a classificação a esquerda e direita, é possível dizer que, dos 12 países sul-americanos, seis são governados por cada um dos espectros. No mapa abaixo, os países em azul têm governos de direita e os em vermelho, de esquerda:
País | Presidente | Espectro |
Argentina | Alberto Fernández | Esquerda |
Bolívia | Luis Arce | Esquerda |
Brasil | Jair Bolsonaro | Direita |
Chile | Sebastián Piñera | Direita |
Colômbia | Iván Duque | Direita |
Equador | Guillermo Lasso | Direita |
Guiana | Irfaan Ali | Esquerda |
Peru | Pedro Castillo | Esquerda |
Paraguai | Mario Benítez | Direita |
Suriname | Chan Santokhi | Esquerda |
Uruguai | Luis Lacalle Pou | Direita |
Venezuela | Nicolás Maduro | Esquerda |
Movimento pendular
Professor e ex-vice-diretor do Instituto de Relações Internacionais da Universidade de São Paulo (USP), Amâncio Jorge de Oliveira avalia que esses movimentos são pendulares -ou seja, ora apontam para um crescimento da direita, ora para a esquerda. Neste momento, opina o docente, "a crise social, agravada pela pandemia, fez com que a população passasse a demandar o retorno da esquerda".
"Os ciclos de esquerda observaram distribuição de renda e classes sociais C e D tornaram-se emergentes. Os efeitos, do que podemos chamar de populismos de esquerda, geraram reflexos em crescimento disfuncional do setor público e todas as consequências derivadas deste crescimento. Isso abriu a brecha para que o espectro político se deslocasse para a direita ou, mais precisamente, para o campo liberal", analisa Oliveira.
E no Brasil?
Questionado sobre se a guinada à esquerda na América do Sul pode ter reflexos nas eleições brasileiras do próximo ano, o professor pondera que o país tem uma diferença significativa em relação a seus vizinhos: "Aqui, o componente não é apenas o componente liberal que sustenta o poder. Aliás, este é até menos relevante. O pilar da pauta de costumes da força de direita, no caso brasileiro, joga um papel importante de suporte do atual governo".
Ele acrescenta que a situação econômica do país em 2022 também deve estar diferente da que é observada agora. "É possível que o país esteja crescendo a taxas significativas. É muito diferente do quadro do último governo liberal argentino, por exemplo", pontua. "Não dá para dizer o que vai acontecer. Apenas que o jogo de forças no Brasil é um pouco distinto", arremata.