Mundo
A trajetória de Joe Biden
Tragédias pessoais e longa carreira política marcam a biografia do novo presidente dos Estados Unidos
Thiago Ferreira
• Atualizado em
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Joe Biden, presidente eleito dos Estados Unidos. Foto: Gage Skidmore/Flickr
Nos últimos dias, o mundo inteiro acompanhou, atento, a disputa acirrada que terminou com a vitória de Joe Biden, segundo as projeções da imprensa americana, para assumir o posto de 46º presidente dos Estados Unidos da América. Considerado um político moderado dentro do Partido Democrata, Biden tem a difícil missão de liderar um país extremamente polarizado, dividido e inflamado, sobretudo após o turbulento processo de apuração, pautado por alegações de fraude por parte de Donald Trump, tentativas de interrupção da contagem de votos e protestos pelas ruas de várias cidades.
VIDA PESSOAL E TRAGÉDIAS FAMILIARES
Nascido em 20 de novembro de 1942 em Scranton, cidade de 76 mil habitantes no estado da Pensilvânia, Joseph Robinette Biden Jr. é o mais velho de quatro filhos de um casal católico, descendente de irlandeses, ingleses e franceses. Parte da família era ligada ao ramo petrolífero, em Baltimore. Outra parte se dedicou à política, como o bisavô materno, Edward Francis Blewitt, que foi senador pela Pensilvânia entre 1907 e 1910.
Ainda criança, Biden mudou-se para o estado de Delaware. Estudou na Archmere Academy, onde foi destaque no time de futebol americano durante o ensino médio e também jogou no time de beisebol. Na escola, era considerado um aluno acima da média, principalmente em História e Ciência Política. Cursou Direito na Universidade de Syracuse, onde recebia uma bolsa de estudos por causa da situação financeira instável da família.
Aos 21 anos, conheceu e começou a namorar com Neilia Hunter, que também estudava em Syracuse. Aos 29, já casado com Neilia, com quem teve três filhos, foi eleito, por Delaware, o sexto senador mais jovem da história dos EUA. Algumas semanas após a eleição, Biden sofreu a primeira grande tragédia pessoal: um acidente de trânsito tirou a vida da esposa Neilia e da filha Naomi, de apenas um ano e meio. Os outros dois filhos, Beau e Hunter, ficaram gravemente feridos, mas sobreviveram. A posse de Biden, no início de 1973, aconteceu no quarto do hospital onde Beau permanecia internado. Quase três anos depois, Biden conheceu Jill Tracy Jacobs, com quem é casado até hoje e teve uma outra filha, Ashley.
O segundo drama pessoal de Biden aconteceu em 1988, quando descobriu dois aneurismas severos e precisou passar por cirurgias no cérebro. A terceira grande tragédia também deve relação com a saúde: em 2015, o filho Beau, então com 46 anos, morreu vítima de um tumor cerebral, após dois anos de tratamento.
CARREIRA POLÍTICA ATÉ CHEGAR À PRESIDÊNCIA
Com quase 50 anos de vida pública, Joe Biden tem em si o carimbo de um político à moda antiga, que busca o diálogo e a negociação entre apoiadores e opositores, quase sempre em tom de apaziguamento e moderação. Por isso mesmo, seu adversário Donald Trump foi incisivo durante a campanha ao descrevê-lo, em muitas ocasiões, como um símbolo da "velha política", no sentido pejorativo da expressão.
Durante as décadas em que permaneceu no Senado representando Delaware, Biden defendeu leis sobre a proteção ambiental, a defesa do consumidor e o controle de armas. Ainda atuou ativamente no Comitê Judiciário do Senado, chegando a presidi-lo entre 1987 e 1995.
Biden já havia disputado as primárias do Partido Democrata em outras duas oportunidades, em 1988 e em 2008, perdendo nas duas ocasiões. Na última delas, no entanto, recebeu o convite de Barack Obama para fazer parte da chapa como candidato à vice-presidente. Enquanto ocupou o cargo na Casa Branca, entre janeiro de 2009 e janeiro de 2017, apoiou o déficit público como forma de estímulo fiscal no rescaldo da crise financeira global, defendeu o aumento de gastos com infraestrutura para reativar a economia, foi a favor de subsídios para empresas de transporte coletivo e também teve posicionamento favorável à descriminalização da maconha e ao casamento entre pessoas do mesmo sexo.
Ao longo da gestão Trump, Joe Biden foi crítico à saída do Acordo do Clima de Paris e às políticas ambientais adotadas pelo republicano. Também foi contra a proposta de revogar o Obamacare e fez duras críticas à política de imigração de Donald Trump, sobretudo em relação à separação de famílias de imigrantes na fronteira com os Estados Unidos.
ESCÂNDALOS E POLÊMICAS
Dois casos sobre temas distintos abalaram a imagem de Joe Biden no ano passado. No primeiro deles, sete mulheres o acusaram de ter mantido contato físico inadequado com elas ao longo da vida. Uma delas o acusou de ter beijado a parte de trás da cabeça dela, sem consentimento. Outra mulher disse que Biden colocou a mão em sua coxa. Em resposta, o democrata não se desculpou. Descreveu a si mesmo como um "político tátil", admitiu ter tido problemas no passado por causa deste comportamento e prometeu respeitar o espaço das mulheres, sendo mais consciente em relação ao contato físico.
O outra situação embaraçosa diz respeito a um de seus filhos, Hunter Biden, que atuou no conselho administrativo de uma empresa estatal de gás na Ucrânia enquanto Biden era vice-presidente. Donald Trump pediu ao presidente ucraniano Volodimir Zelenskyi que investigasse os negócios de Hunter no país e acusou Joe Biden de corrupção ao agir para favorecer o filho. O caso, que caracteriza um suposta interferência de um líder estrangeiro a pedido de Trump, foi o principal motivo para que a Câmara dos Representantes abrisse um processo de impeachment contra o republicano, cujo processo foi barrado no Senado em fevereiro de 2020.
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