Motorista de Porsche diz que não bebeu antes de acidente fatal em São Paulo
Empresário dirigia a mais de 100 km/h antes do acidente que matou o motorista de aplicativo, Ornaldo Viana
Fabio Diamante
Robinson Cerantula
O empresário Fernando Sastre de Andrade Filho, que está preso por homicídio qualificado, foi interrogado, pela primeira vez, pela Justiça. Ele negou ter consumido bebida alcoólica e disse que bebeu apenas água antes do acidente que matou o motorista de aplicativo, Ornaldo Viana, em março, na zona leste de São Paulo. O empresário bateu o Porsche que ele dirigia.
Fernando, de 24 anos, está preso, preventivamente, desde maio. Atualmente, ele está no presídio de Tremembé, no interior do estado, de onde foi ouvido, por videoconferência.
O juiz Roberto Zanichelli Cintra começou o interrogatório perguntando sobre o consumo de bebida alcoólica no dia do acidente. O empresário negou e disse: "eu não queria consumir bebida alcoólica, eu estava dirigindo e não é uma necessidade que eu sinto de consumir bebida alcoólica".
A comanda do restaurante registrou o consumo de várias doses de bebida alcoólica.
"O Marcus e a Juliana pediram os drinks da casa pra provar e a Giovana pediu uma caipirinha que ela não tomou, não gostou do sabor, que eu não me lembro agora qual que é, depois ela acompanhou eles no mesmo drink da casa", disse Fernando. Questionado sobre o que consumiu, o jovem disse que bebeu apenas água.
Depois do jantar, os amigos foram até uma casa de pôquer. O local funciona como open bar, ou seja, o valor da entrada dá direito ao consumo liberado de bebida e comida.
Fernando Sastre estava com a namorada Giovana e com um casal de amigos, Marcus Vinicius Machado e Juliana de Toledo Simões. Câmeras de segurança registraram saída deles da casa de pôquer por volta das 2h. Nas imagens, o dono do Porsche parece discutir com a namorada.
Ele negou qualquer desentendimento: "ela queria ir embora e eu não queria ir, pode ser que nesse momento, pra quem de fora visse, poderia achar que houve uma discussão, mas eu não considero uma discussão".
Câmeras também gravaram o momento em que o Porsche, avaliado em mais de R$ 1 milhão, bateu na traseira do carro de Ornaldo Viana, de 52 anos, que trabalhava como motorista de aplicativo.
Segundo os laudos da perícia, o Porsche chegou a 156 km/h minutos antes do acidente. No instante do impacto, a velocidade era de 114 km/h. Na via, é permitido trafegar no máximo, a 50 km/h.
"Eu não sei dizer, a minha sensação é que eu estava em uns 60 km/h, passei um pouquinho só do limite", disse o motorista no depoimento.
Logo depois do acidente, a mãe de Fernando chegou ao local e pediu aos policiais que liberassem o filho para que ele fosse levado ao hospital. O empresário foi liberado sem fazer o teste do etilômetro.
O motorista do Porsche também confirmou que passou mal logo depois da batida e vomitou: "acredito que por conta da ansiedade".
Fernando disse que teve duas fraturas de costelas e três na face, mesmo assim, demorou a buscar atendimento médico, indo ao hospital apenas cinco dias depois do acidente.
Durante a audiência, a defesa de Fernando Sastre solicitou a revogação da prisão preventiva dele. O pedido foi negado pelo juiz, que atendeu ao parecer do Ministério Público, que justifica a necessidade da prisão para que as testemunhas não sejam influenciadas, caso a Justiça decida mandar o motorista do Porsche a júri popular.