Filhos de Flordelis são julgados por morte do pastor Anderson do Carmo
Julgamento foi dividido em duas sessões; Flordelis e outros quatro dos nove réus serão julgados em maio
Começou na manhã desta 3ª feira (12.abr), no Tribunal do Júri de Niterói, o julgamento de quatro dos nove acusados de envolvimento na morte do pastor Anderson do Carmo. A previsão de término será entre a madrugada e a manhã de 4ª feira (13.abr). O crime, que completa três anos, em junho, será analisado pela juíza Nearis do Santos Carvalho Arce, da 3ª Vara Criminal de Niterói. Na sessão, será julgado o filho biológico de Flordelis, Adriano dos Santos Rodrigues, o filho afetivo Carlos Ubiraci Francisco da Silva e o ex-PM Marcos Siqueira Costa e sua esposa Andrea Santos Maia. O advogado de um dos réus passou mal e o julgamento dele, marcado para hoje, foi adiado. Flordelis não poderá acompanhar a audiência, mas a defesa dela está presente na sessão.
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Em razão do número de acusados no processo, a magistrada optou por dividir o julgamento em duas sessões. A segunda sessão do júri acontecerá em 9 de maio, quando serão julgados Flordelis e mais quatro réus -- sua filha biológica Simone dos Santos Rodrigues, a neta, Rayane dos Santos Oliveira, a filha afetiva Marzy Teixeira da Silva e o filho afetivo André Luiz de Oliveira.
Flordelis está presa desde 13 de agosto do ano passado e teve o seu mandato de deputada federal cassado dois dias antes, após a Câmara dos Deputados aprovar a retirada do cargo da pastora. O argumento dos colegas parlamentares foi de que Flordelis quebrou o decoro parlamentar e também teria usado seu mandato para coagir testemunhas e ocultar provas do processo. A pastora responde por homicídio triplamente qualificado, tentativa de homicídio, uso de documento falso e associação criminosa armada.
Antes, quando tinha imunidade parlamentar, a pastora era monitorada por tornozeleira eletrônica. Hoje, ela está presa na penitenciária Talavera Bruce, no Complexo de Gericinó, em Bangu, na zona oeste do Rio. Dois dos filhos de Flordelis já foram condenados por envolvimento no crime. Flávio dos Santos Rodrigues, filho biológico da ex-deputada, foi condenado a 33 anos e 20 dias de prisão por homicídio triplamente qualificado, porte ilegal de arma de fogo, uso de documento ideologicamente falso e associação criminosa armada. Ele foi acusado de atirar contra Anderson do Carmo.
Lucas Cezar dos Santos de Souza, filho adotivo de Flordelis, foi condenado na mesma sessão por homicídio triplamente qualificado a nove anos de prisão em regime inicialmente fechado. Ele foi acusado de ter comprado a arma usada no assassinato. Segundo a denúncia do Ministério Público, Flordelis "arquitetou toda a empreitada criminosa, arregimentou, incentivou e convenceu o executor direto e demais denunciados a participarem do homicídio contra a vítima".
Em março deste ano, a Justiça do Rio negou o pedido de quebra do sigilo bancário de, do companheiro dela, Anderson do Carmo, e da Igreja Ministério Flordelis. A solicitação havia sido feita pela assistência de acusação. Na decisão, a juíza Nearis dos Santos Carvalho Arce, argumentou que o pedido não foi devidamente justificado e que não houve fundamentação da relevância do mesmo no contexto dos autos.
O crime e a denúncia
O pastor Anderson do Carmo, 42 anos, marido de Flordelis, foi morto a tiros, na madrugada de 16 de junho de 2019, em casa, em Niterói, na Região Metropolitana do Rio. Na ocasião, Flordelis chegou a dizer que ele havia morrido tentando defender a família de criminosos, numa tentativa de assalto (latrocínio). No entanto, investigações da Delegacia de Homicídios de Niterói (DHNSGI) apontaram a então deputada federal como mandante do crime, motivado porque Anderson controlava de maneira rigorosa as finanças da família e não estaria permitindo tratamento privilegiado de algumas pessoas mais próximas à ex-parlamentar.
Dos 55 filhos biológicos e adotivos da pastora, sete estão envolvidos no crime, segundo a denúncia à Justiça. Adriano dos Santos Rodrigues, André Luiz de Oliveira, Carlos Ubiraci Francisco da Silva, Flávio dos Santos Rodrigues, Lucas Cezar dos Santos de Souza, Marzy Teixeira da Silva e Simone dos Santos Rodrigues estão presos. Além dos filhos, a neta Rayane dos Santos Oliveira, o ex-policial militar Marcos Siqueira Costa e sua esposa, Andrea Santos Maia, também estão presos por participação no caso.
Segundo a denúncia do MP, Marzy Teixeira da Silva (filha sócioafetiva de Flordelis); Simone dos Santos Rodrigues (filha biológica); e Rayane dos Santos Oliveira (Filha de Simone) - "prestaram auxílio à denunciada Flordelis no planejamento do crime e no convencimento dos já denunciados Flávio e Lucas a executarem a empreitada criminosa, simulando tratar-se de crime de latrocínio". Marzy incentivou o irmão Lucas a matar o pastor por R$ 10 mil. O revólver usado na execução estava em cima do armário de Flávio, filho que admitiu ser o autor dos disparos.
No pedido de prisão de Flordelis, o MP afirma que, "além da gravidade da conduta criminosa, a ex-deputada, poucos dias após o homicídio, orientou os demais corréus para que o celular da vítima fosse localizado e suas mensagens comprometedoras fossem apagadas, bem como que fossem queimadas as roupas com possíveis vestígios forenses". A denúncia também diz que a ex-deputada financiou a compra da arma usada por Lucas no assassinato e avisou da chegada da vítima no local em que ela foi executada por Flávio.
De acordo com a investigação, a família tentou esconder as evidências dos crimes chegando até mesmo fazer uma fogueira no quintal da casa para destruir provas. Os policiais acreditam que Flordelis tentou assassinar o pastor pelo menos seis vezes por envenenamento, além de contratar pistoleiros em outras duas vezes. Em uma das mensagens encontradas pelos policiais, Flordelis chama Anderson de "traste" e pede ajuda para um filho. "André, pelo amor de Deus, vamos pôr um fim nisso. Me ajuda. Cara, tô te pedindo, te implorando. Até quando vamos ter que suportar esse traste no nosso meio?", escreveu.
Os envolvidos em julgamento nesta 3ª
Adriano dos Santos Rodrigues, Andrea Santos Maia e Marcos Siqueira Costa, segundo a denúncia do MP, agiram em comunhão e "fizeram uso de documento ideologicamente falso, qual seja, a carta copiada por Lucas, na qual foram inseridas declarações sabidamente falsas, com o fim de alterar a verdade sobre fato juridicamente relevante". A carta dando a falsa versão de Lucas sobre o crime trazia a confissão do filho sobre o assassinato, isentando a participação de Flávio. Depois, à polícia, Lucas acusou a mãe de ser a responsável por escrever a carta, e afirmou que apenas copiou o texto no Presídio Bandeira Stampa, no Complexo de Gericinó, zona oeste do Rio. Lucas disse ainda que reconheceu a letra de Flordelis no texto original e alegou que o documento também estava assinado pela mãe. O rapaz afirmou que o texto escrito pela mãe para que ele copiasse chegou ao presídio pela mulher de um preso. Carlos Ubiraci da Silva, prestou apoio moral aos demais denunciados (filhos e Flordelis), incentivando e reforçando os seus planos de matar a vítima.