Mensagem indica que Lava-Jato usou delação de empresário com Alzheimer

Nova remessa de mensagens apreendidas pela Operação Spoofing indicam que procuradores da Lava Jato de Curitiba teriam utilizado informações de delação premiada firmada com empresário que tinha Alzheimer. 

Trata-se de Pedro Novis, ex-presidente da Odebrecht e considerado um dos principais delatores da empreiteira na força-tarefa. Ele comandou a empresa até 2008.

Nas mensagens, apresentadas pela defesa do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva ao Supremo Tribunal Federal, os procuradores tratam do assunto. 

Em diálogos datados de 26 de novembro de 2016, os membros da força-tarefa fazem piada com a situação. "Já consegui neuro lá em sampa para indicarmos pro fulano se consultar. Lá do Einstem. Competente e isento. Agora vamos ver se o velhinho tem alzheimer mesmo rs", escreveu um procurador. 

"Carol vai trazer um novo fulano", afirma outro. 

E as piadas continuam: "Se o médico for bom, poderíamos até recomendar que outros colaboradores se consultem com ele, pra ver se refrescam a memória rs". 



No dia seguinte, o assunto volta para a roda de conversa. Depois de um procurador afirmar que Novis já tinha feito o exame, outros membros do MP continuaram a fazer troça. 

"Se o diagnóstico sair igual ao que apresentaram porque em 2010 o cara esquecia uns nomes. Vamos ter que marcar consulta para mais gente", disse procurador chamado no chat de Julio Noronha. 

Em diálogos de 16 de dezembro, Carol PGR pede orientação para os colegas sobre o que fazer com a situação: "Pessoal, do FULANO, eu tiro a questão da manutenção da doença? O médico de SP me ligou ontem e disse que de fato ele com alzeimer". 



Na petição enviada junto com as mensagens para o STF, a defesa de Lula questiona sobre os motivos de essa informação não ter sido levada aos autos do processo da Lava Jato junto com os depoimentos prestados por Novis. 

"Ora, é evidente que tal afirmação é sobremaneira relevante para que a defesa técnica do reclamante possa verificar a credibilidade desses depoimentos - e até a capacidade civil para que fosse firmado um acordo de delação. É espantoso, mas a informação também foi ocultada pela Lava Jato", escreveu Cristiano Zanin Martins, advogado do ex-presidente. 

Em uma das delações, Novis disse ter acertado com o ex-ministro Antonio Palocci dinheiro de caixa 2 para as campanhas presidenciais de Lula em 2002 e de 2006, quando o petista foi reeleito. 

Desde 9 de fevereiro, Lula foi autorizado pelo STF a ter acesso à íntegra das mensagens apreendidas durante a Operação Spoofing. O objetivo é usar material para mostrar que decisões da Lava Jato foram enviesadas e tinham como meta prejudicar deliberadamente o ex-presidente.