Exército impedia derrubada de acampamento em área militar, diz ex-secretário
À CPI do 8/1 na Câmara do DF, Júlio Danilo diz que Exército pediu limpeza e organização da área
Israel de Carvalho
O ex-secretário da Segurança Pública do Distrito Federal, Júlio Danilo, disse à Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) da Câmara Legislativa do Distrito Federal (CLDF) nesta 5ª feira (23.mar) que o acampamento montado em frente ao Quartel General do Exército, em Brasília, só não foi desmobilizado ainda no ano passado, porque o Exército não permitia.
A Comissão apura os atos antidemocráticos de 8 de janeiro e a ação de apoiadores do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) que tentaram invadir o prédio da Polícia Federal depois da prisão de um indígena em 12 de dezembro do ano passado.
+ Leia as últimas notícias no portal SBT News
Na audiência, Júlio afirmou que havia um acompanhamento diário por parte da Secretaria de Segurança Pública (SSP) e das forças de segurança do DF para monitorar o "comportamento e evolução" do acampamento montado à frente do QG do exército em Brasília, desde o primeiro dia, 31 de outubro.
Segundo ele, no início, a SSP e o exército tratavam o acampamento como manifestação. O grupo era acompanhado por produção de imagens, utilização de drones e inclusive foi feita a contenção de veículos para que não circulassem pela cidade, segundo o ex-secretário. A convite do exército, Júlio contou que a Secretaria dava segurança e assistência aos "manifestantes".
No entanto, segundo o delegado, com o passar do tempo a manifestação evoluiu e houve o entendimento pela derrubada, por ordem do governador Ibaneis Rocha. No entanto, não era possível devido o acampamento estar em área militar. "Infelizmente estava dentro de uma área militar e para atuação operacional incisiva, era necessária a coordenação dos militares", afirmou.
"Por que não foi à frente a desmobilização? Nós necessitávamos da concordância, apoio e da coordenação com o Exército para que a gente pudesse desmobilizar", disse Júlio.
Crimes no acampamento
Perguntado sobre tráfico, prostituição e a "máfia do pix", informações dadas à CPI pelo ex-comandante de Operações da Polícia Militar do DF, Jorge Eduardo Naime, Júlio disse que os crimes cometidos foram reprimidos, mas que qualquer crime na área militar era responsabilidade da polícia do exército.
"Todas as vezes que necessitamos atuar dentro do acampamento, era com companhia do exército. Até mesmo os bombeiros eram acompanhados", afirmou.
Derrubada do acampamento
Ainda, o delegado disse que o Comando do Planalto afirmou à Secretaria que o próprio exército faria a desconstrução do acampamento, depois que a SSP foi ao local no dia 29 de dezembro.
"A SSP colocou um aparato da polícia pra atuar com o exército, e passada a questão da diplomação (do presidente Lula) era necessário desmobilizar. Nos foi informado que não era possível, que o próprio exército ira providenciar o desmonte do acampamento, por ser área militar", disse.