No Planalto, líder da bancada ruralista reafirma apoio do setor a Bolsonaro
Frente Parlamentar da Agropecuária, a maior do Congresso, participou de café da manhã com o presidente
André Anelli
Integrantes da Frente Parlamentar da Agropecuária (FPA) se reuniram com o presidente da República, Jair Bolsonaro, em um café da manhã, no Palácio do Planalto, nesta quarta (6.out). No encontro, a frente afastou os rumores de racha em relação ao do chefe do Executivo federal, e reafirmou apoio à atual gestão. O porta-voz da bancada ruralista foi o presidente da frente, deputado federal Sérgio Souza (PSDB-PR). A FPA reúne 280 deputados e senadores.
"Em momento algum, alguém do agro retirou apoio ao presidente. Isso é uma interpretação feita por aqueles que querem difundir uma discórdia interna. O agro está extremamente alinhado com o presidente Jair Bolsonaro, como o presidente está alinhado com as pautas do agro. É só nos olharmos nesses dois anos e oito meses de governo o quanto que avançamos em pautas que são importantes para o destravamento da economia e sustentabilidade do agro", disse Souza.
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Para exemplificar o alinhamento, o deputado citou pontos que considera como avanços na gestão de Bolsonaro, e que foram debatidos no encontro desta manhã. Entre eles, a criação de mecanismos de financiamento para o agronegócio, pagamento por serviços ambientais e aprovação da legislação em torno licenciamento ambiental, na Câmara, que ainda não foi enviada à sanção do presidente.
Apesar das pautas e da reafirmação pública de apoio, o agronegócio vive uma divisão não declarada em relação ao apoio a Bolsonaro. De um lado, produtores rurais, da porteira pra dentro, seguem simpáticos à atual gestão. Já agroindústrias e tradings temem retaliações comerciais ao Brasil, por causa da instabilidade política, que chegou ao ápice em 7 de setembro, ou devido a políticas ambientais que dificultam punições a agressores do meio ambiente, como a diminuição de aplicação de multas pelo Ibama.
Em um vídeo do encontro com parlamentares, Bolsonaro negou estar pedindo apoio para a reeleição, em 2022, mas valorizou a importância do próximo mandato para o agronegócio. "Quem se eleger presidente no ano que vem, no primeiro semestre indica mais dois ministros do STF. Se for alinhado conosco, ficam quatro garantidos lá dentro. Além de outros que votam com a gente. Não é que votam com a gente, votam com as pautas que têm que ser votadas do nosso lado".
O presidente se referia a Kassio Nunes Marques, ministro indicado por ele e que deve ter como colega André Mendonça, também indicado pela atual gestão, mas que ainda não foi sabatinado pelo Senado.]
A pauta que mais preocupa o agronegócio, e que está na pauta de julgamento da Corte, é o marco temporal que determina o dia 5 de dezembro de 1988 (ano de promulgação da Constituição brasileira) como data limite para que indígenas reivindiquem a demarcação de terras já ocupadas. O setor produtivo teme insegurança jurídica, caso o entendimento seja mudado e possibilite aos índios reivindicar a demarcação de terras ocupadas após essa data.
O ministro do Gabinete de Segurança Institucional, General Augusto Heleno, que participou do encontro, disse que a revogação do marco temporal trará insegurança jurídica: "o principal afetado será a agropecuária, mas também as comunidades indígenas que não foram ouvidas. Visitei mais de 200 comunidades indígenas e o que desejam é internet, assistência para produção agrícola, escolas e saúde."
O marco temporal é criticado por representantes das etnias indígenas e por entidades de defesa dos direitos dos índios. Em setembro, índios e ativistas montaram acampamento em Brasília para pressionar o Supremo a derrubar o marco temporal. Mas, no dia 20, o ministro Alexandre de Moraes pediu vista e adiou o julgamento por tempo indeterminado.