Raul Gil: "Eu perdi uma pessoa que, eu tenho certeza, me amava muito"

Antônio Augusto de Moraes Liberato se apaixonou pela TV muito cedo. Aos 13 anos, o jovem paulistano do bairro da Lapa, zona oeste da capital, entregava uma cartas para o apresentador Silvio Santos, de quem era fã. 

"Ele era um meninho e ia para a porta do auditório do Silvio; levava uns papeizinhos, tinha uma cadernetinha que ele anotava ideia, programas, e dava para o Silvio. E o Silvio se encantou com aquilo", lembra o apresentador Leão Lobo.

O primeiro trabalho de Augusto Liberato veio logo em seguida, em 1073, na produção do Programa de Silvio Santos - depois de entregado ao ídolo uma carta durante uma participação no programa Sinos de Belém, na TV Tupi.

Gugu, então, passou a fazer parte das equipes dos programas Sinos de Belém (73-74), Só Compra Quem Tem (69-76), Cidade Contra Cidade (68-70 e 77-81), e dos informativos Semana do Presidente (81-96) e Telex (81-84). 

O ex-diretor de programas do apresentador, Roberto Manzoni, relembra o carisma e a prontidão do jovem comunicador. "Ele separava cartas para os programas ele era amigo de todo mundo".

E foi com essa desenvoltura e talento que Augusto Liberato se tornou correspondente internacional e repórter de diversos programas e telejornais ainda na TVS Rio, canal 11 da capital carioca, tendo participado também do programa Horóscopo com Zora Yonara e do Jornal da Manhã.

Em 1981, após dois anos estudando odontologia, Gugu voltou ao SBT para participar do júri do Programa Raul Gil e apresentar seu primeiro programa: Sessão Premiada, distribuindo prêmios ao telespectador nas sessões de filmes e séries da emissora. 

Emocionado, Raul Gil conta como foi o primeiro contato com o rapaz que, desde então, passou a chamá-lo de "padrinho". "Você quer fazer o juri, Gugu? Ele falou: É um sonho; meu sonho é fazer o seu juri'. Eu falei: Está bom, a semana que vem você já está no juri".

O sucesso como jurado de Raul Gil abriu as portas para o apresentador. Em novembro de 1982, Gugu comandou seu primeiro grande sucesso na TV: Viva a Noite. Exibido inicialmente às terças, mas foi aos sábados que o programa marcou a década, com musicais, competições, concursos e os quadros Sonho Maluco, Rambo Brasileiro, Eles e Elas, além do Baile dos Passarinhos, no encerramento.

Em 83, começou o curso de jornalismo na Faculdade Cásper Líbero. Passou a comandar programas aos domingos em 1988, tendo no mesmo ano estreado Cidade Contra Cidade, Passa ou Repassa e TV Animal. 

Nos anos seguintes, esteve à frente de Corrida Maluca, Adivinhe se Puder, Super Paradão, Sabadão Sertanejo, Big Domingo, Programa de Vídeos, Nações Unidas, Play Game, Domingugu, Paradão, Disco de Ouro, mas foi em janeiro de 1993 que o apresentador teve o seu grande sucesso: Domingo Legal, no qual ficou por 16 anos, lançando quadros que marcaram a TV como Táxi do Gugu,Sentindo na Pele, Essa Nota Vale uma Nota, Duetos, Banheira do Gugu, Helicóptero do Gugu.

Ao lembrar de Gugu, artistas e colegas de trabalho sempre ressaltam uma qualidade que o comunicador não perdeu durante toda a carreira: a humildade. "Ele era um cara muito simples, muito humilde, dentro do cara que tinha tudo, que teve tudo na vida. Ele levava a vida na maior simplicidade", diz o ex-maquiador do artista, Eduardo Sacchiero.

Apesar da fama e do sucesso, com o passar do tempo, o Augusto Liberato passou a ser uma inspiração para outros apresentadores da televisão brasileira. Ele, então, virou conselheiro e passou a ajudar os demais artistas, sem nunca olhar para nenhum deles como concorrente.

Como conta o ex-colega de emissora, Ratinho: "Eu perguntei: Como nos vamos fazer em 2020, vamos continuar disputando? Em alguns dias na semana, a gente disputava o horário. Ele falou: Olha, Ratinho, eu procurei a vida toda o sucesso, eu encontrei o sucesso muito novo e gostei muito do sucesso; agora, eu estou procurando a paz, e eu vou lhe confessar que eu estou gostando mais da paz do que do sucesso".

Em 2009, Gugu vai para a Record TV, onde permaneceu por 10 anos e testou novas linguagens de programa: como dois reality shows, o 'Power Couple' e o musical 'Canta Comigo'. E, assim como no SBT, o apresentador deixou inúmeras boas lembranças, grandes amigos e uma leigão de admiradores.

"A gente brincava que o Gugu, onde ele colocava a mão virava ouro. Tudo o que ele fazia, ele fazia bem feito. Acordava no meio da madrugada, com ideias para quadros e colocar suas ideias em prática, não parava de trabalhar. E, a hora que ele resolve desacelerar um pouquinho, né, curtir a família, viajar o mundo, acontece isso com ele", lamenta o apresentador Rodrigo Faro.

As lágrimas de saudade de Raul Gil por um discípulo, que se tornou ídolo, vindas de uma lenda viva da televisão brasileira é uma das maiores provas de que a morte de Gugu Liberato deixa um vazio enorme nesta mesma TV. "O Gugu foi crescendo, crescendo, e virou um dos maiores mitos da TV brasileira. Eu perdi uma pessoa que eu tenho certeza que me amava muito".

O apresentador Augusto Liberato morreu nesta sexta-feira (22), depois de sofrer um acidente doméstico, em Orlando, nos Estados Unidos.