Brasil registra número recorde de assassinatos, aponta pesquisa
O atlas da violência no país, que divulgados pelo IPEA e pelo Fórum Brasileiro de Segurança Pública, mostra que a maioria das mortes ocorre entre jovens
SBT News
Foi divulgado nesta quarta-feira (05) o atlas da violência, um levantamento sobre os assassinatos registrados no país, feito pelo Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada, o IPEA, e pelo Fórum Brasileiro de Segurança Pública.
Os dados mostram que, em 2017, foi registrado um número recorde de mortes violentas, principalmente entre os mais jovens. Somente neste ano, 65.602 pessoas foram assassinadas no país.
O levantamento ainda aponta que o maior crescimento foi registrado nas regiões Norte e Nordeste, devido à expansão das facções criminosas e à guerra do tráfico de drogas.
O atlas indica também que houve um aumento nos crimes raciais, de gênero e aqueles ligados às desigualdades sociais, isto é, quando as vítimas são pessoas pobres, moradores em situação de rua ou de comunidades.
Para o procurador-geral de Justiça de São Paulo, Gianpaolo Smanio, o contexto social do país está diretamente relacionado à elevação dos índices de violência racial - que indicam que, para cada branco assassinado, morrem três negros.
"Infelizmente, o país Brasil tem um déficit social grande com a população negra, que vem desde a abolição da escravatura e, ao longo do tempo, a nossa sociedade não conseguiu resolver esse déficit social", disse Smanio.
Paralelamente, o nível de escolaridade também impacta nas chances de ser vítima de assassinato - neste caso, a maioria das vítimas são homens. O coordenador do projeto no Fórum Brasileiro de Segurança, David Marques, explicou a influência no grau de instrução na mortalidade.
"Quase 75% deles tinham até 7 anos de estudo, ou seja, muito pouco estudo. Então, significa que quanto mais escolaridade você tem, menos chance de ser vítima letal você vai ter", argumentou Marques.
Os assassinatos de mulheres, os chamados feminicídios, também cresceram. Em dez anos, este crime aumentou 30,7% em todo o país, sendo também a maioria das vítimas negras.
Tanta brutalidade não resulta somente nas tragédias particulares, mas, inclusive, tem repercussões para toda a sociedade, no presente e no futuro.
Os homicídios corresponderam a 52% das mortes de jovens de 15 a 19 anos e por quase metade das vítimas de 20 a 24 anos.
"Nós temos uma perda significativa de potencial ativo, de possibilidade de contribuição com o desenvolvimento socioeconômico no Brasil, porque temos cada vez mais jovens sendo vítimas de violência", afirmou David Marques.
Outro dado alarmante indica que boa parte dos jovens vítimas de homicídios eram parte da população LGBTI. Pela primeira vez, o atlas se debruçou sobre as estatísticas de morte e outros tipos de violência praticadas contra esse grupo, e concluiu que o número de crimes dobrou.
"Isso quer dizer que, para esses casos, nós temos que ter políticas específicas, que passam por políticas de educação, de respeito às diferenças, aos direitos de cidadania e por políticas preventivas preventivas. Então, nós temos uma invisibilidade total do problema da violência homofóbica no Brasil", explicou o coordenador do estudo no IPEA, Daniel Cerqueira.