"Tem compromisso com quem? Com Brasil não é", diz Lula sobre Campos Neto
Presidente voltou a criticar a política de juros e a atuação do presidente do Banco Central
SBT News
O presidente Luiz Inácio Lula da Silva voltou a criticar a política de juros aplicada pelo Banco Central. As declarações ocorreram durante uma entrevista em Londres, neste sábado (6.mai), após a coração do rei Charles III.
"O que discordo é da política. Quem concorda com a política de juros a 13,75% defenda publicamente. Eu não concordo. Nós não temos inflação que garanta qualquer argumento de dizer 'nós precisamos manter essa taxa de juros alta porque não vamos cumprir a meta'".
Em relação à meta de juros, o presidente lembrou que quem a determina é o Conselho Monetário Nacional: "Se ele determinar um, vai ser mais difícil alcançar. Se determinar zero, será mais difícil alcançar, se determinar três, ele não está alcançando, ou seja, você pode mudar a hora que quiser. O que eu falo é o seguinte, a sociedade brasileira, o varejista brasileiro, empresários brasileiros, os trabalhadores brasileiros não suportam mais a taxa de juros".
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Lula falou sobre a necessidade de se ampliar o crédito para gerar empregos. "O desemprego está começando a mostrar a sua cara no setor de comércio, muitas lojas estão quebrando, estão fechando. Então, se a gente quiser gerar emprego no país, nós vamos ter que ter crédito para o trabalhador, crédito consignado, crédito para o pequeno e médio empreendedor individual e para grandes empresas, senão o país não cresce."
Sem citar o nome de Roberto Campos Neto, fez duras críticas e comparou a gestão dele com a de Henrique Meirelles, que dirigiu a autoridade monetária entre 2003 e 2011 -- durante os dois primeiros mandatos do petista.
"Eu não discuto a autonomia do Banco Central, não é esse o meu problema. O meu problema é que tive um Banco Central, eu indiquei o presidente que era do PSDB, deputado federal eleito, nem conhecia o Meirelles quando indiquei e duvido que esse cidadão (Roberto Campos Neto) tenha mais autonomia que o Meirelles teve, só que tinha responsabilidade de ter um governo discutindo com ele, olhando as preocupações."
Lula afirmou que Campos Neto não tem compromisso com o Brasil e, sim, com o governo anterior -- de Jair Bolsonaro, que o indicou ao cargo.
"Esse cidadão não tem nenhum compromisso comigo, ele tem compromisso com quem? Com o Brasil não tem. Ele tem compromisso com o outro governo que lhe indicou, isso é importante ficar claro, e tem compromisso com aqueles que gostam de juro alto, porque não há outra explicação."
O presidente também comentou uma entrevista dada pelo presidente do Banco Central sobre qual deveria ser a taxa de juros e reiterou o direito de criticar política de juros.
"Outro dia em entrevista, ele disse que, para atingir a meta de 3%, a taxa de juros tem de chegar acima de 20%. Tá louco? Esse cidadão não pode estar falando a verdade. Se eu como presidente não puder reclamar dos equívocos do presidente do Banco Central, quem vai reclamar? O presidente americano?"
Sobre o Banco Central, lembrou que "tem autonomia, mas ele não é intocável", e que o órgão tem compromisso com o crescimento da economia, geração de emprego e com a inflação. "Cuide dos três. Com juros a 13,75%, os outros dois não serão cumpridos."
Lula reiterou a importância da retomada das políticas pública para o crescimento da economia -- "Estamos colocando dinheiro na veia do trabalhador" --, e alertou que, "se o dinheiro não estiver rodando no bolso do trabalhador, não tem emprego, não tem melhoria da qualidade de vida nem no Brasil, nem em nenhum lugar do mundo".
Sobre seu governo, disse: "Não tenho um projeto do Lula, eu tive a melhor experiência de inclusão social que o Brasil já teve, é isso que estou tentando fazer. Estou tentando recolocar para o povo brasileiro, o país sadio, do emprego, da alegria, da esperança, da fé, do sorriso, eu já consegui uma vez".
PRIVATIZAÇÃO DA ELETROBRAS
O chefe do Executivo, também falou sobre a privatização da Eletrobras, pelo governo Bolsonaro. "Eu não entrei contra a privatização da Eletrobras, ainda pretendo entrar. Eletrobras foi privatizada e o Estado brasileiro tem 43% e nós só temos 8% dos votos. A segunda coisa, na privatização da Eletrobras, se o governo quiser comprar de volta, tem de pagar três vezes o preço oferecido por outro comprador, é isso que foi feito."
Ele ainda fez uma relação entre o aumento de salários dos diretores e a situação dos brasileiros que passam fome no país: "Os diretores aumentaram o salário de R$ 60 mil para R$ 360 mil por mês e, além disso, um conselheiro para fazer uma reunião ganha R$ 200 mil por mês. Como é possível um país com 33 milhões de pobres passando fome, conviver com uma situação dessa?".
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